24 de dezembro de 2012

Nostalgia

Retirado do filme Watchmen (2009).

— Que perfume é esse em você?
— Nostalgia.
Laurie Juspeczyk e Daniel Dreiberg, Watchmen

Ele não sabe que ouro é esse que vira areia com o passar do tempo. Ou melhor, repensando sua reflexão, como as lembranças tão brilhantes e valiosas de um passado tranquilo se transformam em longínqua e inalcançável El Dorado sem valor algum. Uma action figure em uma caixa inviolável, um diamante que retroativamente volta a ser carvão.

22 de dezembro de 2012

Que nos ouçam!



Spirit and excellence further down the road,
these are the tools you need.
Faith No More, Spirit

Alguém nos retirou da rota
e nos desviou para algo
melhor.
Um caminho sem anedotas,
sem adivinhos e nem magos.
Sem dor.

Não há enganação, afinal!
É a trilha que desbravamos
a sós.
A mais tortuosa e cabal,
sagrada a nós que nadamos
na foz.

20 de dezembro de 2012

O abismo (Travis Bickle x Rorschach)



“Quem luta com monstros deve velar para que, ao fazê-lo, não se transforme também em monstro. E se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo, o abismo também olha para dentro de ti.”—Nietzsche

As ruas imundas de Nova York foram palco para diversos personagens, no cinema em 1976, De Niro encarna Travis Bickle em Taxi Driver, um homem de 26 anos que debaixo da pose de bom rapaz esconde uma panela de pressão recheada de frustrações e outros desejos, entretanto sem válvula de escape. Nos quadrinhos em 1986, Alan Moore com sua caneta afiada dá a vida a um dos mais profundos e memoráveis personagens: Rorschach, o anti-heroi que insiste em lutar mesmo diante do fim do mundo. 


Você tem a mínima ideia de qual é a semelhança entre as manchas de Rorschach e a sujeira do táxi de Travis?

"O mundo desgovernado não é moldado por forças metafísicas. Não é Deus que mata as crianças, não é o acaso que as trucida, nem é o destino que as dá de comer aos cães. Somos nós. Só nós."               — Rorschach 

No contexto geral, ambos os personagens viveram na tensão da guerra fria, sendo que Rorschach foi muito mais afetado pelo drama do fim do mundo do que Travis, Taxi Driver não aborda o dilema da época, entretanto as duas obras martelam e denunciam que existe algo de errado com o sonho americano. O último foi o veneno do taxista que por não participar do mesmo é jogado ao submundo por vontade própria e aos poucos vai ficando cansado de rodar as ruas de Manhattan fingindo estar tudo bem. Tanto a tensão de o mundo acabar em poeira tóxica e radioativa quanto a ilusão que o americano criou da utopia de vida perfeita foram fatores cruciais da interferência das políticas do mundo que afetam os indivíduos. 

“Todos os animais saem à noite - putas, rainhas, fadas, drogados, viciados, doentes. Um dia uma grandiosa chuva virá e lavará toda esta imundice fora das ruas” (Adaptado Travis Bickle)

"A cidade tem medo de mim. Eu vi sua verdadeira face. As ruas são sarjetas dilatadas cheias de sangue e, quando os bueiros transbordarem, todos os vermes vão se afogar. A imundice de todo sexo e matanças vai espumar até a cintura e as putas e os políticos vão olhar para cima gritando 'salve-nos'...E eu vou olhar para baixo e dizer 'não'. Eles tiveram escolha, todos. Podiam ter seguido os passos de homens honrados como meu pai ou o presidente Truman." (Adaptado Rorschach) 

Muito além de uma simples metalinguagem, os dois indivíduos sentiram o peso da realidade ainda jovens, dilemas com família e sonhos foram pontos que moldaram a personalidade de ambos. Travis por sua vez é muito mais inocente do que o vigilante, de tão imerso em sua ilusão e psicologicamente abalado pela realidade, parece não ter plena consciência de que sua vida está com problemas, adotando uma postura de ignorar tais fatos. Já o heroi, apesar de ter sido diretamente afetado pelos fatores internos e externos não adota tal postura inocente perante a existência, com a síndrome do detetive Rorschach acredita que nada é uma simples coincidência, o que subliminarmente coloca seus sentimentos em uma gaiola banhada em nitrogênio. 

Como diria Nietzche: "As convicções são cárceres" , no desenrolar da trama de cada um dos personagens ambos sofrem quebras de paradigmas; Travis se desfaz da ilusão quando após uma desilusão amorosa encontra uma prostituta jovem por quem fica obcecado em salvar. Talvez o personagem projete um desejo de salvação própria ao tentar salvar a vida da garota , para isso busca o auto aperfeiçoamento tentando sair da zona de conforto à qual se estagnou. Rorschach possui uma mistura de patriotismo saudosista com doses por salvação, o seu rompimento de justiça ideal surgiu ao se deparar com o caso do sequestro de uma garota que é morta de forma sádica, tal fato destruiu a postura do vigilante de não fazer justiça com as próprias mãos. Ambos os personagens começam a bater de frente com um sistema muito maior que envolve política e utopia, e o fim filosófico de cada um está diretamente ligado com a fé na postura que passaram a adotar, o compromisso com o ideal que acreditavam lutar. 

A comparação não é para exemplificar qual é o melhor ou pior personagem, ambos em níveis complexos psicologicamente desenvolveram bem o papel em cada trama. Existe muita metalinguagem entre os dois e quem viu o filme Taxi Driver e é fã de Watchmen sabe o que eu quero mostrar, não que estejam diretamente ligados. O exemplo de Rorschach e Travis deve ser relembrado mesmo sendo personagens de ficção, no aspecto positivo podemos ressaltar a ânsia pela verdade e por uma realidade melhor, eles lembraram o que muita gente esquece: Um mundo melhor começa por nós.

Pra você que leu até aqui e não é um puta preguiçoso se quiser me contestar ou adicionar alguma informação os comentários estão abertos.





Aposto que você não sabia:

"Quem é que andava pelas ruas da Nova York da década de 1970, aterrorizado com o pior do mundo de crime e devassidão da cidade, e buscava uma forma de consertar tudo? Travis Bickle, o personagem imortalizado por Robert DeNiro em Taxi Driver. Mas também Rorschach, o vigilante de Watchmen.


Os dois encontraram-se em Before Watchmen: Rorschach #3, lançada esta semana pela DC Comics. A premissa da minissérie, de Brian Azzarello e Lee Bermejo, é justamente mostrar Rorschach no mundo sujo e violento da Nova York setentista. Não há referência melhor do que Bickle.

A conversa resume-se a três páginas, depois que Rorschach se dá mal numa missão e entra no primeiro táxi que encontra. A estrela da HQ na verdade só resmunga. Quem fala mesmo é Bickle, que se diz contra a lei anti-vigilantes e está à disposição dos heróis: "Eu tiro você daqui, não se preocupe. Ainda existe gente boa no mundo." O nome do taxista não é mencionado, mas os desenhos de Bermejo não deixam dúvida."

Fonte: http://omelete.uol.com.br/watchmen-2/quadrinhos/taxi-driver-travis-bickle-faz-participacao-especial-em-watchmen/

16 de dezembro de 2012

Bananinha amassada


Livro: Noites de tormenta (2002), por Nicholas Sparks, publicado em 2008 pela editora Novo Conceito.

     Chega a ser irônico um livro do Nicholas Sparks ser lançado por uma editora chamada Novo Conceito (igualmente irônico seria se fosse pela Moderna). Encontrar qualquer conceito novo em Noites de tormenta ou na maior parte dos livros dele é equivalente a terminar Tetris: Simplesmente impossível.
     Sei que existe uma extensa base de fãs do autor mundo afora, afinal adaptaram ao cinema mais livros do que ele já publicou. A própria vítima dessa resenha tem Richard Gere e Diane Lane como protagonistas em sua versão longa-metragem, mas, sinceramente, não há nada além do padrão nesse e em qualquer outro livro dele. E, sim, estou falando isso sem ter lido Querido John, Um amor para recordar, enfim, nada além de Noites de tormenta, mas pode crer que tenho certeza do que digo.

12 de dezembro de 2012

Ópio




Dedicado a todos meus não amigos e amigos que compartilham ATEA no Facebook, mas pedem aquele "bença mãe" sagrado antes de dormir, porque se não o faz toma chinelada.

Vocês já tomaram seus sucos de papoila?

-

Racional, minha sina de ser.
Racional é o veneno da insatisfação,
é olhar a realidade sem nenhum perdão.
escolha boba, e quem o faz, só resta sofrer.

Assim, não acho graça nas modinhas de verão.
Que na minha sincera e humilde opinião,
só mostram a veracidade do conto de Platão.

10 de dezembro de 2012

Cortejo de Lúcifer

Foto original: http://goo.gl/aKbgH

Fecham-se as algemas em meus punhos erguidos. Uma corrente presa à roldana aos fundos do porão puxa esses braceletes carcerários para que eu possa seguir a mesma direção dos meus braços mirando o céu, mirando poeira cósmica.
     — Está doendo? — A mulher que gira a roldana diz em silvo. Ela sabe que não quero uma só voz nesse recinto. Limito-me a olhar para ela com o canto de meus olhos e ela curva o rosto para baixo em um pedido de desculpas.
     Está doendo, sim. Mas doerá mais, pois até toda dor se tornar física não terei a dimensão dela. Até eu ser morto — não cometer suicídio, por favor. Até o último pingo de sangue encharcar minhas roupas brancas.

9 de dezembro de 2012

Dom Quixote (só que não o Dom Quixote)


     Ando muito de metrô.
     Nossa, cara, mas o que isso tem a ver com uma resenha de um livro? Tudo!
     Pois bem, vou me explicar. Estava eu no metrô quando vi uma daquelas máquinas que vendem livros (quem nunca gastou alguns minutinhos em frente àquelas sensacionais invenções do homem?), quando me deparo com um livrinho de capa vermelha e roxa, e com o seguinte título: A novela do Curioso Impertinente, de Miguel de Cervantes, uma edição bilíngue (sim, bilíngue!), cujo subtítulo é 'A mais conhecida entre as histórias contadas no Dom Quixote'. É uma edição de 2005, da editora Relume Dumará. Como não dá pra ler a contracapa, tirei uma nota de dois que estava escondida na minha carteira e decidi levar uma cópia desse digníssimo livro.

6 de dezembro de 2012

Chegou a minha hora

    

— Acho que chegou a minha hora.
     Já não havia mais choro nos olhos dela. Parecia que tinha finalmente cedido à pressão dos anos que se passaram. As rugas, tão profundas quanto os suspiros das viúvas nas lápides de seus maridos, agora lhe davam um aspecto medonho e canhestro.
     Ela, que antes fora tão jovem e jovial, agora estava ali, enfrentando a verdade final de todos nós mortais.
     Finalmente sua hora chegara.

4 de dezembro de 2012

Abutres famintos e loucura às cegas

Siga de onde tudo parou: Ratos fardados e gangues de rua

Imagem original: http://goo.gl/RAELj

Duas espingardas se chocam: A minha e a de Senaga. Ele atacou e eu só pude defender em puro reflexo. Eu poderia contar em uma calculadora científica a quantidade de alternativas que eu tinha antes de torcer o pulso dele, mas eu, feito rato, escolhi a primeira.
     A pior.
     Estamos isolados do resto da manifestação, travando golpes de espingarda em mútuo esforço enquanto os universitários à nossa volta esqueceram o motivo pelo qual haviam pintado os rostos e enchido as estações de metrô pelo horário do almoço. Com o pouco rabo de olho que eu posso reservar durante as investidas animalescas de Senaga, consigo ver a surpresa expressa sem demora nos pares de olhos e nas bocas entreabertas dos jovens que não haviam trabalhado tal possibilidade.

3 de dezembro de 2012

Reinventar



Foto original: http://lordsiyei.deviantart.com/art/Colision-74994838

Em supernovas nosso mundo retorna ao pó.
Explosões titânicas.

Assim, para acabar de uma vez só.


E dos sentimentos enfurecidos
que romperam minhas veias
só restou cinzas
do que um dia era certeza.

1 de dezembro de 2012

Bem assim

Foto original: http://goo.gl/pfQ7x

Ainda acho que todos devem sonhar:
ter direito a um arco-íris por semana
e um talvez em possibilidade transformar.

Ainda acordo pelos primeiros momentos do dia,
quando a alvorada choca o Ovo do Sol,
e me infesto de puro ar/me livro da agonia.

28 de novembro de 2012

Boneca...


Existe uma menina que virou moça,
e que está em vias de se tornar mulher...
Uma boneca de louça,
que ninguém sabe o que quer.

Louça quebra só com um relance,
e eu temo pelo seu bem...
Mas não está ao meu alcance,
ela nunca escuta ninguém...

Ela usa um colar que custou caro,
e se arruma pra exibir o que acha bonito...
Usa perfumes pra aguçar meu faro,
e descobrir o que eu tenho escrito...

27 de novembro de 2012

Anti-cara legal

Foto original: http://goo.gl/bZDD7

Anti-cara legal
antes que os outros me façam mal.

Ruelas minguadas tão distantes
são restos das vontades minguantes
que distam de todo meu eu.

Cheias de bebida com cheiro acre
(Talvez de sangue, quem sabe?)
que me destinam a ser algo além.

Algo além.
Contração: Alguém.

24 de novembro de 2012

Quasi una fantasia

Parte um: A conquista

Foto original: http://goo.gl/zfXTG

Ela, o olho da madona,
o olho do furacão,
senta de pernas cruzadas,
de taça na mão.

Ô, alegria minha que
já não sabe se conter.
Já tenho essa menina
— ela só falta me ter.

23 de novembro de 2012

A carta

Foto original: http://goo.gl/nLJVH

Perdoa o tempo perdido. Sei que não volta mais, mas finjamos que isso não acontece. Seria hipocrisia e uma baita cara de pau te pedir pra ficar agora. Mas você não pode me impedir e nem pedir que eu imagine isso. Enquanto escrevo esta carta, talvez você já esteja longe. Talvez. Sua mente, tudo bem, vá lá, é certo que esteja em outro planeta. Mas seu corpo...você bem que podia deixá-lo comigo um pouco. Sentirei falta de seus lábios, mais do que tudo. E não só pelo toque deles nos meus, mas mais pelo sorriso que deles saía toda vez que me via. Um sorriso tão torto quanto a minha vida sem vê-lo.

21 de novembro de 2012

Me leva contigo

Foto original: http://goo.gl/KkyJU

Me leva contigo e nem pense em dizer não.
Pensou! Pensou! Eu vi!
Não posso confiar em ninguém! É isso, então?

Voltemos à mesa de bar.
As luzes, quentes como só o Sol, pendem mais um gole.
Gole de quê? De você, Lucimar.

20 de novembro de 2012

O brilho dos olhos



Naquele dia não choveu.

Os olhos claros dela brilhavam como o sol no céu limpo de nuvens. Ela olhava para o nada, para longe, talvez estivesse procurando sua casa. Mas ela não estava ali.

Os carros passavam pela rua ao lado, ninguém parecia ligar. O que importava aquela menina suja e mal vestida?

18 de novembro de 2012

Bebidas, mulheres e cavalinhos


Livro: Numa Fria (1993, editado para a coleção L&PM Pocket em 2003), que originalmente tem o título Hot Water Music (livro de contos publicado em 1983).

Muita bebida (principalmente scotch e cerveja), mulheres e cavalinhos (jeito carinhoso de chamar as apostas na hípica). Essas podem ser consideradas as três coisas mais presentes na digníssima literatura beat de Charles Bukowski. Com seu humor negro e sua falta de papas na língua, ele vai tecendo pequenos retratos do cotidiano nos contos contidos em Numa Fria. Nada escapa de seus olhos, principalmente o que se refere às mulheres. 

17 de novembro de 2012

Anna Polly

Foto original: http://goo.gl/bQtMn

— Tô com medo, sabe? — A jovem falava pouco confortável no colo de sua mais recente namorada.
     — Cá, não precisa disso. Deixa rolar — A outra moça respondeu, passando as mãos no cabelo tingido de acaju da companheira.
     Faltavam quinze minutos para a meia-noite e o casal nunca havia dormido junto. Elas foram para um hotel por insistência de Carina, a de cabelo acaju, que tinha certeza de que não conseguiria dormir sozinha naquela noite. Lá, foi questão de poucos minutos para o casal se acertar naquela posição e ficar nela por horas a fio, conversando sobre o mesmíssimo assunto. Aquilo nunca havia perturbado Cari-na daquele jeito, não a ponto de deixá-la insone e de olhos atentos como os de um roedor. Nunca.

14 de novembro de 2012

Talvez-fábula

Foto original: http://goo.gl/DM5Y4

Eles se conheceram às duas frias horas da madrugada de um sábado para domingo. O loiro tinha uma pequena gaivota tatuada na nuca lisa como vidro recém-moldado e o careca adornou seu antebraço direito com uma coruja assombrada que parecia observar além do horizonte com suas orbes amareladas.
     Apaixonaram-se. O loiro e o careca; a gaivota e a coruja. Demoraram a se entender, no entanto: Um queria ver o pôr-do-sol, o outro só conseguia viver à noite. Aquela madrugada havia sido uma exceção e, portanto, não se repetiria tão cedo ao lado da corujona atenta.

13 de novembro de 2012

Estaca zero

Foto original: http://goo.gl/Z84uc

É horário de verão, então já é noite e parece que o dia só está nascendo. Ela, a algumas vidas de distância, não deve estar pensando a mesma coisa. Deve estar concentrada demais em seu novo emprego, em seu novo filho, em sua nova vida. Eu, então, acendo um cigarro e, quando dou a última tragada, amasso-o na estaca zero de meu tempo.
     O horário de verão parece não surtir efeito. O céu brilha e fosqueia, mas ele para mim é só um vidro sujo que me encobre feito cobertor. Estou preso na realidade, na velha vida tão mal vivida que escolhi para mim.
     E a sexta-feira ainda está bem longe.

10 de novembro de 2012

Colisor Anacrônico de Ocasiões Sucessivas (C.A.O.S.)


Foto original: http://goo.gl/67IOl

O que chamamos de caos é somente padrões que não reconhecemos.
Chuck Palahniuk

GRITA, SUA VADIA, VAI. GEME. O vizinho do 9B provavelmente quer mostrar para todo o prédio que sua vida de resume a punheta e inconveniência, mas pelo visto já cansei de me importar com isso. Os gritos do ator, os tapas na bunda da atriz e o cheiro de sexo que sai pelos vãos do umbral dele praticamente me lembram da noite que me conceberam.
Sim, sou filho de uma puta, e isso não me incomoda mais.
GOZA. VAI. ISSO.
Cara, eu não mereço ficar ouvindo isso por todo o corredor, não é? E estou de fones de ouvido me espancando um dubstep qualquer, como esses gritos conseguem chegar até mim?

8 de novembro de 2012

Ode ao Mestre

foto original: http://alicexz.deviantart.com/art/A-Lonely-Road-336688431

Forjado pelo gládio de grandes heróis
tento ter fé, ferido mas não derrotado.
Com o vento se vai o sofrimento atordoado
superado, espero encontrar agora os mil sóis

Estrelas em suma potência
ricas em sonhos e experiência
me guiam até a terra prometida
Adiante! Não atrase minha partida.

7 de novembro de 2012

Ratos fardados e gangues de rua

Siga de onde a história parou: Girassóis negros e balas de borracha.

Foto original: http://goo.gl/rpRpy

É muito fácil calar a boca desses universitários, o diabo em meu ombro cochicha. Não deixa de ser verdade: Um só tiro já faz a maior parte deles choramingar com um hematoma do tamanho de uma rodela de tomate nas pernas. Sim, nas pernas, porque colidir uma bala de borracha com as costelas ou a nuca de algum deles pode pendurar minha farda para sempre em um canto empoeirado do meu guarda-roupa.
     Mesmo assim, os tiros nas pernas deles doem demais. Hoje, exclusivamente, doem em mim. E enquanto os mais extremos se armam com pedregulhos e bastões de beisebol, eu e meus comparsas (porque isso que estamos fazendo não deixa de ser um crime) nos entreolhamos, convictos de que mais uma vez nossa embolorada Constituição esmagará implacavelmente cada espírito revolucionário que resolver se exaltar à nossa presença. Que coisa.

2 de novembro de 2012

Zero Absoluto

Artista: http://wacia.deviantart.com/
Foto original: http://goo.gl/mbZtT

Não pode ser! 

Foi o único pensamento que consegui expressar em palavras depois de fitar o horror vivo da janela do meu quarto. Me debulhando em lágrimas, o cheiro fresco de sangue misturado com a putrefação dos corpos cobria o ar criando um ambiente claustrofóbico, quebrando a monótona realidade a qual eu estava inserida. E eu, que tanto clamava por algo diferente no dia a dia, logo senti falta da velha rotina. 

Será que Deus nos abandonou?

30 de outubro de 2012

Girassóis negros e balas de borracha

Foto original: http://goo.gl/AJ6vg

     "Isso só vai machucar", disse o tenente Ribas em nosso primeiro treinamento de contenção de manifestações. Ele empunhava uma espingarda de balas de borracha e estava prestes a nos ensinar sobre como a ponta elástica desse tipo de munição não perfura, mas tem grandes chances de desfigurar uma pessoa se for direcionada ao rosto de alguém. "Não é de verdade", ele continuou. Uma tatuagem de henna não é de verdade; não há como dizer que um projétil amassando o crânio de um universitário não é real.
     Está acontecendo uma manifestação a duas quadras daqui, na Avenida Paulista. Alunos e professores protestando contra os péssimos incentivos estatais para as universidades federais, pois já está longe de ser segredo que as corporações são quem financiam até mesmo vagas nessas instituições. É tudo uma grande teia nociva de aracnídeos gananciosos, e tenho certeza de que nunca saberemos de toda a verdade por trás das infinitas falcatruas que o dinheiro compra sem hesitar. Temos acesso a uma pequena parcela disso, no entanto é o bastante para enfurecer até mesmo o mais emaconhado e pacífico dos ripongos da FFLCH. E cá estou eu, pronto para lutar contra a própria justiça.

28 de outubro de 2012

Negativo e inegável



Livro: Cinquenta tons de cinza (2011), por E.L. James, publicado esse ano pela editora Intrínseca, com duas xícaras de chá da série Crepúsculo.

  "A autora publicou, inicialmente na internet e sob o pseudônimo Snowqueen's Icedragon, uma versão em capítulos desta história, com personagens diferentes e sob o título Master of the universe", diz o aviso logo abaixo do copyright de Cinquenta tons de cinza, o avassalador sucesso que, assumo, estava louco para saber como era. Ah, mas é claro que o boçal do Alaor aqui quase foi obrigado a não gostar da peça, e sei que isso vai gerar bafafá e pancada no octógono do Mínima Ideia, mas prometo que darei argumentos contundentes como a joelhada do Anderson Silva em Stephan Bonnar.

25 de outubro de 2012

Castelão

Imagem original: http://goo.gl/heOJ4

     Olhe a cara dele. Todo desajeitado, enrolado no cobertor e segurando uma pá maior do que ele. Uma risada inocente me escapa, e ainda bem que meu filho não pode me ver com clareza dali de cima.
     — 'Tá bom aqui, papai?
     — 'Tá sim, filhão! — e estendo a mão em um sinal positivo.
     Estou caducando, será? Mascar fumo dia e noite não está fazendo nada bem para meus dentes, mas pareço não considerar isso e continuo mascando. Devo estar velho demais para me abster de certos costumes, como o de sentar nessa varanda mascando fumo e fazendo carinho nos pelos ensebados do nosso vira-lata. Ô Sombra, você precisa de um banho, hein? Qualquer hora a gente vai lá na represa e você se limpa, ou algo parecido com isso. Ele parece sorrir quando digo isso e volto a observar meu filho no topo de seu castelo.

22 de outubro de 2012

Mais um texto do Botinhão.


Os olhos se fecham. O mundo sumiu.

Um convite para um drink... Um pedido. As observações feitas por quem tem questionamentos leves e solúveis. Um brinde. Observações absolutas feitas por outro alguém, com propriedade para confirmar aquilo que pensa com palavras motivadas pela experiência...
Os copos estão cheios mais uma vez. A paixão líquida em que a dúvida se desmancha, os temores se afogam e as certezas ganham cores... O branco dos sorrisos de pérolas contrastando com o batom vermelho. O branco dos olhos refletindo as luzes do ambiente enquanto as imagens tomam formas dentro deles. Tudo rodeado pela íris castanha da musa de tudo aquilo que é criado. Mais um copo e o mundo começa a rodar com certa arritmia.  Rápido e depois devagar, alternando a cada movimento. Existe uma sinestesia embriagada e poética em conseguir sentir o sabor de cada som, como se as palavras pudessem ser diferenciadas entre doces e amargas. Não pelo significado, mas sim pela própria sonoridade.

21 de outubro de 2012

SummerTime

Artista: The PX Corporation
Foto original: http://goo.gl/ctlJ9

Estamos prestes a perder uma hora, não é novidade, mas como me manter satisfeito sendo que eu e todas as outras pessoas com quem convivo não precisam perder uma hora, e sim, que seu dia dure quarenta e oito horas?

A carta retirada pela cigana louca da praça da Sé previa mais correria em um mundo que está sempre excedendo o limite de velocidade. A Bovespa vai girar    e rodar em translações mais rápidas, muito dinheiro vai rolar e pra isso o dobro de gente vai ralar e novamente girar as catracas do metrô, gerando o stress que, aumentando em nível exponencial, vai injetar mais loucura no chamado cotidiano.

17 de outubro de 2012

Elas e eles

Foto original: http://goo.gl/0UtVh

   Talvez hoje não seja o melhor dia para andar sozinho na rua. Está tudo muito escuro, muito sem luz. E é como se uma mão feita de éter pressionasse minha cabeça contra a porta dos fundos, e eu saio. E desbravo o mundo de trevas à minha volta, tentando encontrar meus amores renegados e meus demônios interiores nele. Porque eu poderia muito bem fazer uma orgia com todos eles. Todas elas. Ah, só um pouco de diversão, por que não? Parece extremo demais, talvez eu não aguente? Não acho amores, não acho demônios. Todos se escondem dentro de mim, e provavelmente terei que abrir minhas entranhas para encontrá-los, para essa estranha orgia de éter que tanto desejo aqui, no meio da rua, no asfalto gelado da noite. Lava petrificada de minha Vesúvio, pessoas que deixaram de existir e ficaram para sempre como estátuas. Enfileiradas em meus órgãos, exibindo seus prazeres. Jogando suas roupas pelas paredes de meu fígado, abrindo suas pernas e brincando de amar dentro de mim. Meu esôfago, sôfrego, parece querer colocar tudo para fora, mas engulo a saliva e me determino a calma, pois a orgia está acontecendo e eu não posso me deixar levar assim. Não sei onde posso parar se me levarem. Minha cabeça vai para lugares inimagináveis, sonhos de éter como a mão, como a orgia. Vejo beijos lascivos e quentes nas pessoas que rejeitei. Vejo socos e pontapés nos diabos que me encarceram. Tudo faz parte da mesma decadência, veja só. Orgia é decadência. Talvez hoje não seja o melhor dia para voltar para casa.

16 de outubro de 2012

Amaterasu 天照



Ela era uma deusa, só depois de muitos anos vivendo sobre seu afável lado consegui constatar. Agora as dúvidas despareceram no ar, assim como dentes-de-leão soprados à deriva nos campos ensolarados do verão.

Impressiono-me como mesmo as pessoas carregadas de experiência são facilmente surpreendidas pelas possibilidades inusitadas da vida, também conhecidas como milagres, e isso destrona qualquer ego por menor que seja.

15 de outubro de 2012

O canto


Sai do canto e canta.
Cantarola e não se enrola.
Canta tanto mas não se cansa,
sei que tenta me atentar.

Cantiga pra dormir atento,
cântico pra cruzar cânions.
Seu canto rima tato com cama:
Conta comigo pra cantar.

14 de outubro de 2012

Hunky Dory, o palhaço

Foto original: http://goo.gl/0RriK

Ei, Hunky Dory,
Por que tão longe de nós?
Não se demore.

Seu rosto branco
Esconde algo de nós?
Ei, seja franco.

E seus adornos?
O seu nariz vermelho
de choro morno;

10 de outubro de 2012

HipocR$ia

Foto original: http://goo.gl/GoRo6

"Você consegue colocar um preço na paz?"
Peace Sells, por Megadeth.

As formigas (R$0,15 a unidade), em sua implacável trilha, ameaçam o bolo de laranja (R$2,99) que acabei de comprar na padaria. Espano-as com a ponta de meus dedos e elas acabam desistindo. Corto um pedaço do bolo, coloco-o em um pratinho de sobremesa (plástico, R$4,00) e sento no sofá (camurça, na cor marfim, conjunto de dois e três lugares por R$749,99 na promoção daquela segunda-feira) para assistir um pouco de televisão (de tubo, 14 polegadas, R$349,00). Esportes? Não. Há muito dinheiro desnecessariamente envolvido nisso. Desenhos animados? Não. Meses de dinheiro para quinze minutos de risadas amarelas. Ah, Economia. Como vai a NASDAQ? E a seca nos Estados Unidos, vamos realmente ter uma baixa na importação de salsichas (R$7,99 o pacote)?

9 de outubro de 2012

Os goles de sangue


E quinhentos goles eu bebi.
Da cerveja, do uísque, bebi.
Das fontes inesgotáveis de sangue,
Os quilombos da atualidade,
Os goles secos e amargos
Do rubro líquido interior,
Que corre nas veias dos braços,
Nas veias das pernas,
Nas jugulares e artérias.
Corre solto, corre livre.

8 de outubro de 2012

00:23

Artista: http://franca64120.deviantart.com/
Foto original

Não dá para dormir.
Na verdade é uma mistura equivalente de não posso e não consigo, as substâncias que acompanham o líquido não posso, são alguns sentimentos:

Não posso esquecer.
Não posso perdoar.
Não posso perder.
Não posso amar.


Elas potencializam minha cabeça, como taurina contendo gamas de informações hipotéticas e inúteis, sobre o passado, o presente e o futuro. E simplesmente existe a outra metade do frasco, o duro e pesado não consigo, com o gosto mais azedo que limão taiti.

6 de outubro de 2012

VS.L0V3

Conto inspirado em "Love interruption", por Jack White. (letra) (vídeo)

Foto: http://goo.gl/Z53Ng

    O que é isso? Um dente meu? No chão?
    Maldito Amor.
    Levanto-me, ainda sentindo a gengiva borbulhando em sangue fresco, e ergo uma faca dessa cozinha na direção dele: Ele que acaba com nossa vida sem que possamos notar; ele que, como um sedativo, inebria-nos para que façam barbaridades das quais não temos controle; ele, o Amor, que acabou de arrancar um dente meu a pancadas.

5 de outubro de 2012

O rádio

Parece que dizes
‘Te amo, Maria.’

A música tocava no rádio, enquanto as lágrimas inundavam meu rosto e me impediam de enxergar com clareza as fotografias que eu havia desenterrado da gaveta. Parece incrível como só nos lembramos de fotografias em momentos de infelicidade ou alegria extremas.

Na fotografia
Estamos felizes

Como éramos felizes! Os dias se passavam como fossem minutos. O tempo correu demais, minhas pernas se cansaram. O tempo fugiu de mim.

Te ligo afobada
E deixo confissões
No gravador

O tempo fugiu de mim, mas a paixão permanece. Meus poros, meu sono, meu peito, todos pedem por ti, por tua companhia de volta. Por um amor que deixou marcas e que, parece, não foi-se embora de todo.

Vai ser engraçado
Se tens um novo amor

Rio, nervosa comigo, com meus pensamentos. É uma risada maluca, de insanidade. Penso mil bobagens, senilidades. Ainda metade de mim decide ir ao espelho, dar um tapa em meu rosto, mas...

4 de outubro de 2012

Fim

Foto original:  http://tinyurl.com/942zrav
Artista: http://rijyvik.deviantart.com/
A fina névoa rastejava pelo chão, como era de costume para aquele horário. O vento soprava a melodia dos mortos em sublimes cantos. À frente existia um portão enferrujado, e as inscrições em uma placa adornada sobre a estrutura não deixavam dúvidas: ali era o Fim. Nas extremidades acima do portão, acima dos tijolos furados, dois anjos feitos de mármore estavam arqueados, com as mãos levantadas para o céu, acolhendo as novas almas que ali eram descartadas, mas algumas aborrecidas insistiam em ficar na copa das árvores fúnebres pelo local.

Neste típico lugar, recheado com a atmosfera melancólica dos ultrarromânticos, vive um homem e sua sina.

Você tem a mínima ideia do que O Coveiro pode te ensinar?

Sob o solo de um piano rústico ele aparece, com sua cartola e capas escuras que durante a noite o torna uníssono com o tempo. Carrega na mão direita uma pá lendária que abriu a cova de seiscentas pessoas — alguns ousam dizer que ele muda de rosto para que não reconheçam o homem que frequentemente rouba adornos e joias dos mortos.

Era mais uma noite de trabalho, e o velho preferia o silêncio da noite. Abriu o portão do cemitério como se estivesse entrando em casa, estocou a pá no chão, suspirou e disse:

— Olá, eternos amigos. Sentiram minha falta?

A quietude plena era a resposta que o mesmo já esperava.

Pois bem. Dirigiu-se para o norte do cemitério, mancando pela indisposição da perna esquerda. Chegando no local, colocou a mão no bolso do sobretudo e retirou um papel amassado com o nome das pessoas que iriam precisar das covas amanhã:

— Heithor Annanias Portela, 16 anos. Tiro de fuzil no meio da testa, mais um com caixão lacrado. É, os seres humanos me surpreendem demais... Hipócritas lacrados em redomas de amor próprio ousam te culpar, dona Morte, pelo trágico fim que lhes silencia a vida.

Sim, ele era apaixonado pela Morte e de alguma forma tinha um caso com tal ser. A história de como ambos se conheceram fica para um outro dia, mesmo porque o velho homem está ocupado remoendo a terra para receber o jovem. Já não era amargura o que aquele velho coração sentia, pois de alguma forma ele entendia que sua maldição era uma benção. Viver recluso da sociedade o poupava da loucura extrema que é viver uma vida normal.

O coveiro, ao contrário de um médico ou um socorrista, não trabalha com a dualidade entre a vida e a morte. Ele só conhece a Morte, o que, na opinião do velho que parou de cavar e soltou uma cusparada no chão, era a mais sublime tarefa. A partir do momento que você se casa com a morte, começa a ver a vida com outros olhos, ver a beleza nos momentos únicos, desde o primeiro choro ao nascer até o último suspiro.

A cova já estava bem profunda, pronta para acolher o jovem para o resto da eternidade, e em um súbito movimento O Coveiro olhou para o relógio e suas pupilas dilataram.

O mesmo bradou para a platéia invisível:

— Cessem a filosofia e comecem a cantoria, porque minha amada esposa está chegando! Levantem-se de suas covas e prestem respeito à mais bela, pois hoje é dia do Cortejo Fúnebre!

"E assim como um sonho
todas as almas acordaram
e começaram a bailar na eternidade.

Em oposição a lua uma sombra,
talvez uma silhueta amorfa
em tons femininos únicos.

E antes que eu pudesse questionar
suas asas me mostraram a verdade
a origem que eu tanto repudiei.

Hoje eu acredito.
Hoje eu vejo,
muito mais do que meus olhos podem ver"

— Caderno de relatos, O Coveiro.

Continua.

3 de outubro de 2012

"Oh, lady."

Foto original: http://goo.gl/uEalx

    Oh, lady.
    Pensei que não viria mais: Ensaiei essa música para você. Comece a dançar, por favor, isso. Uma nota por vez, devagar, mexa esses fartos quadris que Deus te concedeu em um dia feliz. Isso mesmo. Esse piano velho sentiu saudades de seu molejo. 'Tá rangendo de amores por você.
    Eu sei, pode falar, lady. Atrás dessa porta esconde-se a danação do mundo, e estamos prestes a sumir no apocalipse bíblico. Só quero que você dance, movimente essas coxas como se elas tivessem sido criadas para essa música. Com amor, isso. Com paixão, ofereça-se à melodia porque ela te pede. Te anseia, te implora para meus dedos enfraquecidos pelo tempo nada misericordioso.
    Enquanto você se lambuza na música, eu sei, você fala sobre todos esses governantes que vieram da mesma fábrica de pólvora. Não quero saber. Quero sua dança, seu corpo cansado de tanta devoção. Danem-se todos os engravatados que exalam o mesmo cheiro de maldição: Eles não dançam como você. Eles não requebram como você. Não acredite que um dia mudará qualquer mundo além do meu.

1 de outubro de 2012

Derradeira visão

Como dois exércitos opostos, nossos lábios se digladiavam e se expunham e se enroscavam em um completo movimento de loucura. Os dentes chegavam a estalar, e arranhavam as gengivas, e sopravam carícias violentas, feridas internas, sentimentos sem nome, instintivos e selvagens. A selvageria de nossos amores sôfregos e bêbados se estendia por um tempo que parecia não ter fim. Havia muitas mãos, e pernas, e pele e muitos de nós em nós dois. O chão ardia ao toque do nosso amor, a lareira não era nada comparada aos nossos corpos. E então houve uma pausa.

30 de setembro de 2012

Cópia cópia cópia


Livro: Estilhaça-me (2011), por Tahereh Mafi, publicado esse ano pela editora Novo Conceito.

Não sei se vocês se lembram da minha resenha d'O senhor da chuva, do André Vianco, onde discorro sobre a desprezível principiante capa do livro. Pois é, continuo achando que a capa é fundamental para o sucesso de uma obra, mas resolvi abrir uma exceção para o cintilante Estilhaça-me, de Tahereh Mafi, principalmente porque li o primeiro capítulo e me interessei bastante pela escrita poética da americana.
Sobre a capa: Ela me dá todos os motivos possíveis para não ler o livro. Brilhante, estampada com uma modelo totalmente desconexa e adereços como um QR Code, comentários bajuladores e frases de efeito sem efeito algum por todos os lados. Passei por ela com obstinação e me deparei com um ótimo pano de fundo, que consiste em um mundo distópico onde Juliette, uma garota de dezessete anos com o poder de desintegrar pessoas, foi trancafiada por causa de um assassinato que cometeu por causa de sua curiosa habilidade. O Restabelecimento — o governo vigente dessa distopia , então, resolve usá-la como instrumento de tortura. Isso, no entanto, acaba não se concretizando para que ela fique de melação com Adam, um dos soldadinhos de chumbo do Estado, e daí para frente tudo despenca ladeira abaixo.