22 de outubro de 2012

Mais um texto do Botinhão.


Os olhos se fecham. O mundo sumiu.

Um convite para um drink... Um pedido. As observações feitas por quem tem questionamentos leves e solúveis. Um brinde. Observações absolutas feitas por outro alguém, com propriedade para confirmar aquilo que pensa com palavras motivadas pela experiência...
Os copos estão cheios mais uma vez. A paixão líquida em que a dúvida se desmancha, os temores se afogam e as certezas ganham cores... O branco dos sorrisos de pérolas contrastando com o batom vermelho. O branco dos olhos refletindo as luzes do ambiente enquanto as imagens tomam formas dentro deles. Tudo rodeado pela íris castanha da musa de tudo aquilo que é criado. Mais um copo e o mundo começa a rodar com certa arritmia.  Rápido e depois devagar, alternando a cada movimento. Existe uma sinestesia embriagada e poética em conseguir sentir o sabor de cada som, como se as palavras pudessem ser diferenciadas entre doces e amargas. Não pelo significado, mas sim pela própria sonoridade.

As roupas vestiam tão bem quanto os anos que ela ostentava, era como se o tempo tivesse trazido algo que não era sabedoria ou experiência, mas sim uma harmonia entre o jeito meigo de uma garota e a feminilidade fatal de uma mulher. Ela nunca esteve tão linda... E se algum dia estivesse novamente, não faria diferença. Não pra aquele rapaz. As mãos se tocam. A musica é algo que quase não se notava. Estava baixa, com o rádio sintonizado nessas estações cafonas que oscilam entre os grandes sucessos favoritos dos pais dos pais de alguém e as músicas que não fariam diferença alguma se nunca tivessem sido compostas.
Mais um copo. O começo de uma canção excelente, tema de filmes. Uma pergunta, mais um copo.

Os olhos se abrem, o mundo voltou.

A fumaça torna tudo mais torpe, a névoa que se cria no quarto ajuda o mundo a desaparecer... Sentado sozinho com o peito nu, coberto até a cintura. Os cabelos caídos em seus ombros, dando leves arrepios sempre que acompanhavam os movimentos sem qualquer constância, que eram feitos por sua cabeça pesada, cheia de lembranças... Ele sou eu, alguns anos atrás. Mais alguns tragos, um pouco a mais de whisky e pronto. Conte comigo, prenda a respiração e mergulhe no meu devaneio sobre a memória de um dia bonito demais pra ser real e triste demais para não ser.

Encha seu copo, puxe a fumaça...

Está sem whisky? Seu fumo acabou? Não tem problema... Eu vou estar aqui, esperando de olhos fechados, submerso em mim. Me chame assim que chegar. Enquanto isso vou ver o que mais consigo lembrar do dia em que cores tinham som e a música podia ser vista no ar.

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