23 de novembro de 2012

A carta

Foto original: http://goo.gl/nLJVH

Perdoa o tempo perdido. Sei que não volta mais, mas finjamos que isso não acontece. Seria hipocrisia e uma baita cara de pau te pedir pra ficar agora. Mas você não pode me impedir e nem pedir que eu imagine isso. Enquanto escrevo esta carta, talvez você já esteja longe. Talvez. Sua mente, tudo bem, vá lá, é certo que esteja em outro planeta. Mas seu corpo...você bem que podia deixá-lo comigo um pouco. Sentirei falta de seus lábios, mais do que tudo. E não só pelo toque deles nos meus, mas mais pelo sorriso que deles saía toda vez que me via. Um sorriso tão torto quanto a minha vida sem vê-lo.

Os carros passam na rua lá embaixo, e eu só consigo me lembrar do táxi em que você se foi. Era branco demais, como as nuvens no céu naquele dia. Não sei o que escrever. Não quero me desculpar, e acho que isso nem teria cabimento. Os fracos elos que achei que fossem amor não aguentaram o baque. Tudo ruiu como um castelo de cartas de baralho. Minha dama de copas fugiu do rei de espadas aqui, e talvez encontre seu ás embaixo da manga. Ou da mangueira que há em frente à casa de sua mãe. Vai saber os vizinhos que a esperam. Não que eu me importe com isso, mas a ferida está grande, e aberta. E pensar que fui eu mesmo que a causei.

Só quero ficar aqui, entre esses muros baixos de minha casa, meu refúgio. Alguns olhares de esguelha se atiram em mim vez ou outra por cima do muro. Realmente ele é muito baixo, preciso aumentá-lo.

O silêncio é um martírio para mim, um golpe a cada segundo. Ele só faz juntar todos os nossos dias em um único dia, e tornar todos os meus dias puro passado. Não sei mais o que faço para fugir disso. Tentei remédios, bebida, drogas. Só vejo uma saída. A saída final. A última cartada. O golpe de misericórdia em uma vida miserável.