9 de dezembro de 2012

Dom Quixote (só que não o Dom Quixote)


     Ando muito de metrô.
     Nossa, cara, mas o que isso tem a ver com uma resenha de um livro? Tudo!
     Pois bem, vou me explicar. Estava eu no metrô quando vi uma daquelas máquinas que vendem livros (quem nunca gastou alguns minutinhos em frente àquelas sensacionais invenções do homem?), quando me deparo com um livrinho de capa vermelha e roxa, e com o seguinte título: A novela do Curioso Impertinente, de Miguel de Cervantes, uma edição bilíngue (sim, bilíngue!), cujo subtítulo é 'A mais conhecida entre as histórias contadas no Dom Quixote'. É uma edição de 2005, da editora Relume Dumará. Como não dá pra ler a contracapa, tirei uma nota de dois que estava escondida na minha carteira e decidi levar uma cópia desse digníssimo livro.

     O livro não é muito longo (pouco mais de cem páginas), e metade delas se dedica à versão em espanhol da história. Mas nessas poucas páginas se encontra realmente uma história boa de ser lida, numa tradução benfeita (obviamente apoiada na boa versão original), e muito rápida (afinal, poucas páginas e uma boa história, vocês sabem o que dá, né?).
     Enfim, comecei a ler o livro, que conta a história de dois amigos (Lotário e Anselmo), que eram tão amigos que todos os chamavam de 'os dois amigos'. Até aí tudo bem, mas eis que surge na história nossa querida Camila, cujos dotes fazem Anselmo querer desposá-la. Para isso, ele conta com a ajuda de seu melhor amigo, Lotário. Eles se casam, Camila é a melhor das mulheres: atenciosa, dedicada, bela, enfim...todos os atributos de uma nobre mulher. 
     Tudo vai muito bem, até que Anselmo tem a ideia genial (realmente, genial...) de pedir a Lotário que dê em cima de Camila, na maior caruda. Sim, meus amigos: que seu melhor amigo dê em cima de sua mulher (sem que ela saiba, claro). Lotário, como bom amigo que é, recusa a ideia de todo, expõe seus argumentos, deixa claro que é totalmente contra essa ideia, e que dela nada poderia vir de bom. Mas Anselmo insiste, levando Lotário a não ter opção, se não acatar ao pedido do amigo. Todavia, Lotário consegue enganar Anselmo, e não dá em cima de Camila (durante algum tempo). Quando Anselmo descobre isso, fica uma arara, mas perdoa seu amigo e pede que ele realmente faça aquilo que lhe pediu. Resolve assim se ausentar de sua casa por alguns dias, a fim de dar a Lotário e Camila tempo e lugar para 'se conhecerem melhor'.

     Enfim, não vou contar o que se dá depois disso, pois não quero spoilar ninguém, mas garanto que vale ler até o final. Muitas lições são aprendidas através desse livro, que poderia ter como título 'A curiosidade matou o gato'. 
     Aliás, esse tema de curiosidade que leva a lugar nenhum (ou pior, a um lugar ruim) é recorrente durante a história. Temos aí outros exemplos, como Adão e Eva e sua maçã proibida (que nada mais representa do que aquilo que está além do que conhecemos, o conhecimento que acaba levando à ruína); ou mesmo o mito de Orfeu que, com sua voz maravilhosa, conseguiu descer ao Inferno e convencer Hades a libertar sua mulher, Eurídice, que havia morrido. Porém Hades lhe impôs a condição de que ele fosse até a saída do Inferno sem olhar pra trás (o que, lógico, ele não conseguiu fazer, e assim foi arruinado também por sua curiosidade).

Curiosidade (tome cuidado com ela): Esse romance na verdade é só uma parte do conhecido livro Dom Quixote, e serviu como uma espécie de pausa para a história do personagem homônimo e de seu escudeiro Sancho. É uma verdadeira metalinguagem (história dentro de uma história).

Dica (mais uma moral da história): Se não quiser cair na tentação, o melhor é ficar longe dela. Não cutuque a onça com vara curta, amigo (a), a onça pode te pegar.