21 de outubro de 2012

SummerTime

Artista: The PX Corporation
Foto original: http://goo.gl/ctlJ9

Estamos prestes a perder uma hora, não é novidade, mas como me manter satisfeito sendo que eu e todas as outras pessoas com quem convivo não precisam perder uma hora, e sim, que seu dia dure quarenta e oito horas?

A carta retirada pela cigana louca da praça da Sé previa mais correria em um mundo que está sempre excedendo o limite de velocidade. A Bovespa vai girar    e rodar em translações mais rápidas, muito dinheiro vai rolar e pra isso o dobro de gente vai ralar e novamente girar as catracas do metrô, gerando o stress que, aumentando em nível exponencial, vai injetar mais loucura no chamado cotidiano.



Foram sábios cinco minutos que perdi do meu tempo de vinte e três horas, sabedoria que nunca vou usar, e não vou ousar questionar como uma cigana sabia o que era exponencial. Acho que ela confundiu translações com transações, mas talvez exista algo de bom em perder uma hora.

Hoje eu acordei e, como todas as outras pessoas pensando em como era horrível perder uma hora, com o típico reflexo lento da manhã caminhei para os rituais matinais e era quase tudo igual. A única diferença era a escuridão atípica. Olhei pela janela enquanto fazia o mais heterossexual e amargo dos cafés e fitei uma estrela solitária no alto do firmamento. Ela brilhava um azul claro intenso e logo me afoguei em um dos meus devaneios sobre você. Naquele azul estrelar eu enxerguei seu sorriso, e os sinais novamente me diziam sobre seu ser.

Ah, estrela, se o tempo me perdoasse eu iria te admirar até o sol nascer. Tomei meu café frio e me preparei para mais um dia de batalha, e o meu relógio corria sem pensar nos minutos que ficaram para trás assim como bois que ficam em filas esperando o abate industrial. E o relógio corria sem dó, muito diferente do metrô, o qual carrega os mesmos bois indo para o abate chamado ofício. Preciso escapar daqui, pensei tenso enquanto me perdia no mar de gente, forcei uma saída e fitei a janela. Nenhuma paisagem árcade iria se comparar com a qual meus olhos tiveram a singela oportunidade de ver, e com a cabeça debaixo do braço de uma moça consegui observar os primeiros raios do sol perfurando a densa escuridão.

Aos poucos as trevas se dissipavam e de alguma forma meu relógio caía do meu pulso. Eu não estava mais preocupado com o tempo, pois, meu amor, eu sempre vou te ver nas entrelinhas da vida e isso sempre vai atrasar meu relógio e acalmar meu coração. Desde que sua boca me cale pela noite e que me espere novamente ao entardecer eu vou simplesmente lembrar de respirar e isso me fará toda a diferença.

Chegando na Sé, após ouvir a cigana louca, andei alguns blocos sem me sentir pequeno ao lado dos arranha céus. Meu fone começou a tocar SummerTime, então eu compreendi e aprendi um pouco naquele dia, embalado pela melodia de Joplin, que as pessoas precisam de calma, pois o mundo é belo em detalhes que só reparamos quando nos recusamos a acelerar, quando nadamos contra a corrente e decidimos usar o freio em uma highway, apenas para notar a paisagem, e talvez nos mínimos detalhes você encontre a paz que procura, a razão da sua luta entre outras coisas, então por enquanto:


"One of these mornings


You're gonna rise, rise up singing,
You're gonna spread your wings,
Child, and take, take to the sky,
Lord, the sky.

Until that morning
Honey, n-n-nothing's going to harm you now,
No, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no,
No, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no, no,
No, no, no, no, no, no, no, no, no,
Don't you cry,
Don't you cry,
Cry"

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