29 de maio de 2012

Passos errantes

Os meus passos tão errantes,
tortos e bêbados como nunca
levam-se a estradas delirantes
e à mais ordinária espelunca.

A garrafa segue na minha mão,
como a sombra às minhas costas.
Os meus pés mal acham o chão,
subindo e descendo por recostas.

A lua, do céu negro me condena,
do alto de sua cintilante face cinza.
Na rua, o povo não entra em cena;
tem medo deste homem ranzinza.

Minhas roupas acabadas e gastas,
meus olhos de cachorro sem dono,
minha origem das mais baixas castas
fazem-me ser vítima do abandono.

Sigo, só e desprezado, pela rua,
na busca vã de algum sentido
nessa minha vida que é crua,
e cruel, deixando-me abatido.

Finalmente, sento-me junto à vala,
cansado de tanto buscar em vão,
há uma voz que enfim se cala
bem no fundo do meu coração.

25 de maio de 2012

Esquálida existência


Não deves passar pela minha rua.
Fujas de mim como corres da lua,
minha pequena menina mulher.

Tu sabes bem tudo o que quis,
os anseios de minha alma que diz
que não passas de outra qualquer.

Dei-te amor e meu peito aberto.
Em troca, ganhei um amor incerto
que, de certo, só sei que findou.

Ah, mas que minha fronte carrancuda
não te confronte e que me acuda
minha razão que te afrontou.

Assim quem sabe eu possa enfim
esquecer-te e lembrar de mim
nessa esquálida existência minha.

Desde tua partida muito sofri,
desandei a beber, e me arrependi
de pensar que teu amor eu tinha.

23 de maio de 2012

Bebedeira de Terça-feira




Eu não preciso ouvir os conselhos,
nem quero que a voz da razão venha me alcançar...
Não quero me encarar em teus espelhos
muito menos me acertar...
eu quero abraços de conforto
e um teor alcoólico leve...
não preciso de um sorriso torto,
nem de seu discurso breve.

Eu quero lamentar o que não admito
e chorar um pouco de rancor
sem semideuses ou o mito,
só quero falar da minha dor

Tragam o Clapton e o Rei,
e abram o Malibu com um "cleck"
Avisem que eu já cheguei,
e ai de quem tocar "Black"...

Sem Everlong nem Raios-de-Sol
Sem Engenheiros de qualquer lugar...
troquem o lençol
pois hoje é noite de deitar.

Deixem o Eddie aceso,
coloquem o fumo de maçã.
Desculpa a se não fui coeso,
ou me atrevi com sua irmã...

Eu só quero um ouvinte,
e uma boa dose de torpor...
Se garrafa acabar traga a seguinte.

e vamos falar daquele desamor.