27 de novembro de 2012

Anti-cara legal

Foto original: http://goo.gl/bZDD7

Anti-cara legal
antes que os outros me façam mal.

Ruelas minguadas tão distantes
são restos das vontades minguantes
que distam de todo meu eu.

Cheias de bebida com cheiro acre
(Talvez de sangue, quem sabe?)
que me destinam a ser algo além.

Algo além.
Contração: Alguém.

De santo só tenho a cara,
pele murcha que esconde escara (ex-cara?)
dolorida e purulenta e recheada de rancor.

Alma estranha é a que se refugia
em fortaleza óssea que pouco se via
antes d'eu mudar minha estrutura.

Não sou legal.
Nem mesmo igual. Muito menos normal.

Antraz devorador de sonhos era eu,
agora sou guerreiro eterno, Odisseu.
O herói que imortalmente se sacrifica.

Posso tudo, ah, abraço a História.
Todos os sorrisos e penúrias na memória!
Excito até o menos incauto.

Ria comigo!, sou a diversão do planeta,
aos sonhos mais úmidos quer que eu te remeta.
Posso dormir em sua casa, moçoila?

O elevador é pequeno demais para nós, não?
Falta uma cama entre as quatro paredes do saguão.
(Voltei mais sujo do inferno!)

Agora sou alguém.
Algo além de ser legal, de ser outrem.

Sou o reflexo de mil espelhos,
um de frente para o outro — sou velho.
Sou a refração da luz em uma eternidade vírgula três.

A alma, contudo, perfeita se conserva.
Sou Atlas, erguendo o mundo sem reservas:
Um cara legal sem escrúpulo algum.

Deixo o planeta cair
e ele se quebra em mil espelhos.