Foto original: http://goo.gl/Z84uc |
É horário de verão, então já é noite e parece que o dia só está nascendo. Ela, a algumas vidas de distância, não deve estar pensando a mesma coisa. Deve estar concentrada demais em seu novo emprego, em seu novo filho, em sua nova vida. Eu, então, acendo um cigarro e, quando dou a última tragada, amasso-o na estaca zero de meu tempo.
O horário de verão parece não surtir efeito. O céu brilha e fosqueia, mas ele para mim é só um vidro sujo que me encobre feito cobertor. Estou preso na realidade, na velha vida tão mal vivida que escolhi para mim.
Sou um ser atemporal, então não sei contar histórias. Não sei passado, presente e futuro. Só sei que para sempre senti, sinto e sentirei que faço parte da órbita de outro mundo, nunca o meu. Nunca o dela. Translações ridículas à minha volta, cometas, asteroides, estilhaços de naves. E sou uma estação espacial, um ponto indefinido no cosmo que não sabe se vai ou se fica. Que não sabe ir ou ficar.
Sabe que é a estaca zero.
Zero.
Menos um, talvez.
O que importa é que sou nada.
Nada é novo, nada é verdadeiro, e nada importa.
Lady Morgan disse isso.
Lady Morgan disse isso.
Sei lá quem é ela.
Isso também não importa.