13 de novembro de 2012

Estaca zero

Foto original: http://goo.gl/Z84uc

É horário de verão, então já é noite e parece que o dia só está nascendo. Ela, a algumas vidas de distância, não deve estar pensando a mesma coisa. Deve estar concentrada demais em seu novo emprego, em seu novo filho, em sua nova vida. Eu, então, acendo um cigarro e, quando dou a última tragada, amasso-o na estaca zero de meu tempo.
     O horário de verão parece não surtir efeito. O céu brilha e fosqueia, mas ele para mim é só um vidro sujo que me encobre feito cobertor. Estou preso na realidade, na velha vida tão mal vivida que escolhi para mim.
     E a sexta-feira ainda está bem longe.
     Sou um ser atemporal, então não sei contar histórias. Não sei passado, presente e futuro. Só sei que para sempre senti, sinto e sentirei que faço parte da órbita de outro mundo, nunca o meu. Nunca o dela. Translações ridículas à minha volta, cometas, asteroides, estilhaços de naves. E sou uma estação espacial, um ponto indefinido no cosmo que não sabe se vai ou se fica. Que não sabe ir ou ficar.
     Sabe que é a estaca zero.
     Zero.
     Menos um, talvez.
     O que importa é que sou nada.

     Nada é novo, nada é verdadeiro, e nada importa.
     Lady Morgan disse isso.
     Sei lá quem é ela.
     Isso também não importa.