24 de dezembro de 2012

Nostalgia

Retirado do filme Watchmen (2009).

— Que perfume é esse em você?
— Nostalgia.
Laurie Juspeczyk e Daniel Dreiberg, Watchmen

Ele não sabe que ouro é esse que vira areia com o passar do tempo. Ou melhor, repensando sua reflexão, como as lembranças tão brilhantes e valiosas de um passado tranquilo se transformam em longínqua e inalcançável El Dorado sem valor algum. Uma action figure em uma caixa inviolável, um diamante que retroativamente volta a ser carvão.

22 de dezembro de 2012

Que nos ouçam!



Spirit and excellence further down the road,
these are the tools you need.
Faith No More, Spirit

Alguém nos retirou da rota
e nos desviou para algo
melhor.
Um caminho sem anedotas,
sem adivinhos e nem magos.
Sem dor.

Não há enganação, afinal!
É a trilha que desbravamos
a sós.
A mais tortuosa e cabal,
sagrada a nós que nadamos
na foz.

20 de dezembro de 2012

O abismo (Travis Bickle x Rorschach)



“Quem luta com monstros deve velar para que, ao fazê-lo, não se transforme também em monstro. E se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo, o abismo também olha para dentro de ti.”—Nietzsche

As ruas imundas de Nova York foram palco para diversos personagens, no cinema em 1976, De Niro encarna Travis Bickle em Taxi Driver, um homem de 26 anos que debaixo da pose de bom rapaz esconde uma panela de pressão recheada de frustrações e outros desejos, entretanto sem válvula de escape. Nos quadrinhos em 1986, Alan Moore com sua caneta afiada dá a vida a um dos mais profundos e memoráveis personagens: Rorschach, o anti-heroi que insiste em lutar mesmo diante do fim do mundo. 


Você tem a mínima ideia de qual é a semelhança entre as manchas de Rorschach e a sujeira do táxi de Travis?

"O mundo desgovernado não é moldado por forças metafísicas. Não é Deus que mata as crianças, não é o acaso que as trucida, nem é o destino que as dá de comer aos cães. Somos nós. Só nós."               — Rorschach 

No contexto geral, ambos os personagens viveram na tensão da guerra fria, sendo que Rorschach foi muito mais afetado pelo drama do fim do mundo do que Travis, Taxi Driver não aborda o dilema da época, entretanto as duas obras martelam e denunciam que existe algo de errado com o sonho americano. O último foi o veneno do taxista que por não participar do mesmo é jogado ao submundo por vontade própria e aos poucos vai ficando cansado de rodar as ruas de Manhattan fingindo estar tudo bem. Tanto a tensão de o mundo acabar em poeira tóxica e radioativa quanto a ilusão que o americano criou da utopia de vida perfeita foram fatores cruciais da interferência das políticas do mundo que afetam os indivíduos. 

“Todos os animais saem à noite - putas, rainhas, fadas, drogados, viciados, doentes. Um dia uma grandiosa chuva virá e lavará toda esta imundice fora das ruas” (Adaptado Travis Bickle)

"A cidade tem medo de mim. Eu vi sua verdadeira face. As ruas são sarjetas dilatadas cheias de sangue e, quando os bueiros transbordarem, todos os vermes vão se afogar. A imundice de todo sexo e matanças vai espumar até a cintura e as putas e os políticos vão olhar para cima gritando 'salve-nos'...E eu vou olhar para baixo e dizer 'não'. Eles tiveram escolha, todos. Podiam ter seguido os passos de homens honrados como meu pai ou o presidente Truman." (Adaptado Rorschach) 

Muito além de uma simples metalinguagem, os dois indivíduos sentiram o peso da realidade ainda jovens, dilemas com família e sonhos foram pontos que moldaram a personalidade de ambos. Travis por sua vez é muito mais inocente do que o vigilante, de tão imerso em sua ilusão e psicologicamente abalado pela realidade, parece não ter plena consciência de que sua vida está com problemas, adotando uma postura de ignorar tais fatos. Já o heroi, apesar de ter sido diretamente afetado pelos fatores internos e externos não adota tal postura inocente perante a existência, com a síndrome do detetive Rorschach acredita que nada é uma simples coincidência, o que subliminarmente coloca seus sentimentos em uma gaiola banhada em nitrogênio. 

Como diria Nietzche: "As convicções são cárceres" , no desenrolar da trama de cada um dos personagens ambos sofrem quebras de paradigmas; Travis se desfaz da ilusão quando após uma desilusão amorosa encontra uma prostituta jovem por quem fica obcecado em salvar. Talvez o personagem projete um desejo de salvação própria ao tentar salvar a vida da garota , para isso busca o auto aperfeiçoamento tentando sair da zona de conforto à qual se estagnou. Rorschach possui uma mistura de patriotismo saudosista com doses por salvação, o seu rompimento de justiça ideal surgiu ao se deparar com o caso do sequestro de uma garota que é morta de forma sádica, tal fato destruiu a postura do vigilante de não fazer justiça com as próprias mãos. Ambos os personagens começam a bater de frente com um sistema muito maior que envolve política e utopia, e o fim filosófico de cada um está diretamente ligado com a fé na postura que passaram a adotar, o compromisso com o ideal que acreditavam lutar. 

A comparação não é para exemplificar qual é o melhor ou pior personagem, ambos em níveis complexos psicologicamente desenvolveram bem o papel em cada trama. Existe muita metalinguagem entre os dois e quem viu o filme Taxi Driver e é fã de Watchmen sabe o que eu quero mostrar, não que estejam diretamente ligados. O exemplo de Rorschach e Travis deve ser relembrado mesmo sendo personagens de ficção, no aspecto positivo podemos ressaltar a ânsia pela verdade e por uma realidade melhor, eles lembraram o que muita gente esquece: Um mundo melhor começa por nós.

Pra você que leu até aqui e não é um puta preguiçoso se quiser me contestar ou adicionar alguma informação os comentários estão abertos.





Aposto que você não sabia:

"Quem é que andava pelas ruas da Nova York da década de 1970, aterrorizado com o pior do mundo de crime e devassidão da cidade, e buscava uma forma de consertar tudo? Travis Bickle, o personagem imortalizado por Robert DeNiro em Taxi Driver. Mas também Rorschach, o vigilante de Watchmen.


Os dois encontraram-se em Before Watchmen: Rorschach #3, lançada esta semana pela DC Comics. A premissa da minissérie, de Brian Azzarello e Lee Bermejo, é justamente mostrar Rorschach no mundo sujo e violento da Nova York setentista. Não há referência melhor do que Bickle.

A conversa resume-se a três páginas, depois que Rorschach se dá mal numa missão e entra no primeiro táxi que encontra. A estrela da HQ na verdade só resmunga. Quem fala mesmo é Bickle, que se diz contra a lei anti-vigilantes e está à disposição dos heróis: "Eu tiro você daqui, não se preocupe. Ainda existe gente boa no mundo." O nome do taxista não é mencionado, mas os desenhos de Bermejo não deixam dúvida."

Fonte: http://omelete.uol.com.br/watchmen-2/quadrinhos/taxi-driver-travis-bickle-faz-participacao-especial-em-watchmen/

16 de dezembro de 2012

Bananinha amassada


Livro: Noites de tormenta (2002), por Nicholas Sparks, publicado em 2008 pela editora Novo Conceito.

     Chega a ser irônico um livro do Nicholas Sparks ser lançado por uma editora chamada Novo Conceito (igualmente irônico seria se fosse pela Moderna). Encontrar qualquer conceito novo em Noites de tormenta ou na maior parte dos livros dele é equivalente a terminar Tetris: Simplesmente impossível.
     Sei que existe uma extensa base de fãs do autor mundo afora, afinal adaptaram ao cinema mais livros do que ele já publicou. A própria vítima dessa resenha tem Richard Gere e Diane Lane como protagonistas em sua versão longa-metragem, mas, sinceramente, não há nada além do padrão nesse e em qualquer outro livro dele. E, sim, estou falando isso sem ter lido Querido John, Um amor para recordar, enfim, nada além de Noites de tormenta, mas pode crer que tenho certeza do que digo.

12 de dezembro de 2012

Ópio




Dedicado a todos meus não amigos e amigos que compartilham ATEA no Facebook, mas pedem aquele "bença mãe" sagrado antes de dormir, porque se não o faz toma chinelada.

Vocês já tomaram seus sucos de papoila?

-

Racional, minha sina de ser.
Racional é o veneno da insatisfação,
é olhar a realidade sem nenhum perdão.
escolha boba, e quem o faz, só resta sofrer.

Assim, não acho graça nas modinhas de verão.
Que na minha sincera e humilde opinião,
só mostram a veracidade do conto de Platão.

10 de dezembro de 2012

Cortejo de Lúcifer

Foto original: http://goo.gl/aKbgH

Fecham-se as algemas em meus punhos erguidos. Uma corrente presa à roldana aos fundos do porão puxa esses braceletes carcerários para que eu possa seguir a mesma direção dos meus braços mirando o céu, mirando poeira cósmica.
     — Está doendo? — A mulher que gira a roldana diz em silvo. Ela sabe que não quero uma só voz nesse recinto. Limito-me a olhar para ela com o canto de meus olhos e ela curva o rosto para baixo em um pedido de desculpas.
     Está doendo, sim. Mas doerá mais, pois até toda dor se tornar física não terei a dimensão dela. Até eu ser morto — não cometer suicídio, por favor. Até o último pingo de sangue encharcar minhas roupas brancas.

9 de dezembro de 2012

Dom Quixote (só que não o Dom Quixote)


     Ando muito de metrô.
     Nossa, cara, mas o que isso tem a ver com uma resenha de um livro? Tudo!
     Pois bem, vou me explicar. Estava eu no metrô quando vi uma daquelas máquinas que vendem livros (quem nunca gastou alguns minutinhos em frente àquelas sensacionais invenções do homem?), quando me deparo com um livrinho de capa vermelha e roxa, e com o seguinte título: A novela do Curioso Impertinente, de Miguel de Cervantes, uma edição bilíngue (sim, bilíngue!), cujo subtítulo é 'A mais conhecida entre as histórias contadas no Dom Quixote'. É uma edição de 2005, da editora Relume Dumará. Como não dá pra ler a contracapa, tirei uma nota de dois que estava escondida na minha carteira e decidi levar uma cópia desse digníssimo livro.

6 de dezembro de 2012

Chegou a minha hora

    

— Acho que chegou a minha hora.
     Já não havia mais choro nos olhos dela. Parecia que tinha finalmente cedido à pressão dos anos que se passaram. As rugas, tão profundas quanto os suspiros das viúvas nas lápides de seus maridos, agora lhe davam um aspecto medonho e canhestro.
     Ela, que antes fora tão jovem e jovial, agora estava ali, enfrentando a verdade final de todos nós mortais.
     Finalmente sua hora chegara.

4 de dezembro de 2012

Abutres famintos e loucura às cegas

Siga de onde tudo parou: Ratos fardados e gangues de rua

Imagem original: http://goo.gl/RAELj

Duas espingardas se chocam: A minha e a de Senaga. Ele atacou e eu só pude defender em puro reflexo. Eu poderia contar em uma calculadora científica a quantidade de alternativas que eu tinha antes de torcer o pulso dele, mas eu, feito rato, escolhi a primeira.
     A pior.
     Estamos isolados do resto da manifestação, travando golpes de espingarda em mútuo esforço enquanto os universitários à nossa volta esqueceram o motivo pelo qual haviam pintado os rostos e enchido as estações de metrô pelo horário do almoço. Com o pouco rabo de olho que eu posso reservar durante as investidas animalescas de Senaga, consigo ver a surpresa expressa sem demora nos pares de olhos e nas bocas entreabertas dos jovens que não haviam trabalhado tal possibilidade.

3 de dezembro de 2012

Reinventar



Foto original: http://lordsiyei.deviantart.com/art/Colision-74994838

Em supernovas nosso mundo retorna ao pó.
Explosões titânicas.

Assim, para acabar de uma vez só.


E dos sentimentos enfurecidos
que romperam minhas veias
só restou cinzas
do que um dia era certeza.

1 de dezembro de 2012

Bem assim

Foto original: http://goo.gl/pfQ7x

Ainda acho que todos devem sonhar:
ter direito a um arco-íris por semana
e um talvez em possibilidade transformar.

Ainda acordo pelos primeiros momentos do dia,
quando a alvorada choca o Ovo do Sol,
e me infesto de puro ar/me livro da agonia.