21 de dezembro de 2011

Inexorável


                                                       "— Por que você esta fazendo isso?? ela perguntou, sem esperar uma resposta.
                                                                                    Sua voz penetrou o ar imobilizado por nosso silêncio.
                                                 — Eu não estou fazendo nada? Eu disse, mas não acreditei em mim mesmo."
                                                                                                Rise Against

“Isso é realmente o melhor para nós?”
                   [...]
  “Eu nunca sei o que dizer quando você me fala essas coisas..”
                               [...]
                           Eu não sei o que mudou, mas sei que mudou!"
                                                                                           — Memórias


— Eu acho que você deve esquecer um pouco tudo que aconteceu, lembra o que você me disse uma vez? A estrada não tem fim. Desliguei o celular, abandonando aquela voz e sem relutar eu aceitei o conselho de bom grado. Acelerei o carro o motor roncava clamando por liberdade semelhante ao meu sentimento naquele exato momento: Eu só queria sumir da realidade. O carro era guiado pela minha mão que como um robô eu me limitava apenas a seguir em frente, conseguia ver o mundo de uma maneira diferente tudo parecia indiferente talvez porque meu coração não estava comigo, tudo ao meu redor tinha gosto de cinza. O natal é uma boa época, mas boa demais para mim, mesmo os enfeites natalinos e todo aquele lance hollywoodiano que tentamos imitar: Pisca-pisca, bonecos do bom velhinho, pinheiros, máquina de neve, todo esse espirito não passava de plástico que queima fácil. E era isso que eu via através do vidro filmado do carro: homens reclamando, crianças chorando, mulheres com dez sacolas em cada mão, aquele espirito não existe mais, ele foi roubado, ou pensando melhor: talvez nunca existisse, a mentira que faz da nossa realidade verdade. Na avenida larga, eu estava perdido no transito acumulado pelo êxtase Natalino e naquela imensa festa de mentira eu decidi aproveitar para viver todas as minhas mentiras. Dentro do tumulto tudo que eu podia fazer era ficar perdido no caos que permeava sobre minha mente. Foi quando entre duas senhoras abarrotadas de sacolas eu a vi, os olhos castanhos mais incríveis que alguém pode ter, que eu já tive o prazer de encontrar antes. Era comum, mas o seu comum era o meu mais raro tesouro, ela estava perdida naquela bagunça a garota do conselho se destacando do mar cinza e vermelho plástico. Estacionei o carro e a buzina tratou de chama-la, acenei colocando a mão para fora da janela, ela respondeu com um sorriso singelo, caminhando em direção ao automóvel.  A garota entrou no veiculo, colocou o cinto de segurança e disse:
—Por favor, me leva para qualquer lugar. Minha mão tremia, mas eu resolvi seguir adiante, quem me dera fosse tão real quando os enfeites de natal.  Gradualmente tudo voltou a ter cores a partir dos olhos castanhos da garota, o mundo parecia um lugar melhor. O carro saiu da avenida larga e entrou na estrada, por trinta minutos um silêncio sagrado nos acompanhou, até que eu resolvi falar:
— Por que você não cansa de correr de mim?  Você não vê que eu sempre vou estar aqui por você?
Ela olhou confusa e quase com um olhar de reprovação por eu ter quebrado o silêncio, a garota olhou para baixo e disse:
Tem certeza??
Era uma voz virtual estranha que saia da boca dela, com um timbre totalmente diferente. Porém eu não reparei nisso no momento, estava apenas concentrado naquela duvida, fiquei nervoso por um tempo. Como ela duvidava de mim? eu sempre estava ali por ela rebati sem pensar:
— Certeza? é obvio que eu tenho certeza. Você acha que a maioria das palavras que eu falo é da boca pra fora?
E aquela voz estranha soou novamente:
“ah sei lá haha nem sei oq eu falo”
Eu não sabia o que fazer, estava cansado de esperar por respostas e por uma conversa no mínimo real. Aumentei o volume da música, e a frequência do som me fazia esquecer por um instante a presença dela no meu carro. Quanto mais eu olhava para seus olhos castanhos mais eu tinha certeza de que ela estava distante, contemplando um horizonte imaginário. Meu ego a queria do meu lado, eu não tinha mais forças para lutar, eu sempre quis dizer como eu me sinto, mas tudo que ela fez foi me ignorar. Até que eu disse:
— Você está diferente..
E ela rebateu em seguida, como um gravador quebrado repetiu três vezes a mesma frase:
pra mim estou normal.. pra mim estou normal.. pra mim estou normal.. pra..
Foi quando eu realmente entendi a situação, estacionei o carro, olhei sério para a garota ao meu lado, seu rosto não possuía nenhuma expressão, aproveitei o silêncio da garota para acabar com a história. Aliás, com a minha história.
— Eu sei nada posso fazer, não tenho uma máquina do tempo e por isso não posso voltar para o passado e fazer tudo certo, eu gosto de você de uma maneira que eu não entendo, mas o que estamos fazendo é andar em círculos, e eu preciso aprender a viver sem sua lembrança, até pelo menos poder criar uma nova... Adeus, panda. Eu te amo. Ela sorriu, por um momento uma expressão e me deu aquele velho beijo estalado quase no canto da boca
"ve se n some"
Foi a ultima coisa que ela me disse, então a garota do par de olhos castanhos se desfez gradualmente em várias partículas azul celeste. . Por um momento eu pensei em desistir de tudo, mas pensei duas vezes aquela adversidade não iria me vencer, mesmo vivendo em um mundo que vale tanto quanto o espirito natalino eu prometi que não iria parar de lutar. Acelerei o carro e segui em frente, um mundo cinza me aguarda, porém não tenho mais medo, um dia talvez eu me esbarre com os verdadeiros pares de olhos castanhos.

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Pra quem um dia lembrar dessa história.
Enfim, acabou agora vou tirar umas férias de postagem. Muito obrigado galera por esse ano, toda equipe M-I e por todas as conquistas. 2012 é o fim, mas estamos ai.
Ps: As frases em cinza foram retiradas de um dialogo pessoal.

20 de dezembro de 2011

A moça do vestido escarlate


Escarlate parece mais apropriado.
Carmesim soa muito classudo, e vinho muito vulgar. Vermelho-sangue, então, nem se fala.

Escarlate exprime o que ela era.

Aquela moça, de cabelos lisos, muito lápis no olho – que se unia com a sutil olheira de quem costuma não dormir direito – e andar ébrio era escarlate. Como seu vestido.
Parecia ter chegado só à festa, ao mesmo tempo em que inspirava conhecer a todos e simplesmente não queria cumprimentar o mundo de gente. Sentou em uma das poltronas e logo sorriu para um ou dois homens. Estava enturmada.

Em uma fração de segundo, estava com um cigarro alheio de menta em uma mão e cartas de baralho na outra. Em uma roda de pôquer, tinha um sorriso discreto de quem tinha um flush na mão ou só queria ir pra cama com alguém. Era blefe. Nem sabia o que era um flush, e pouco se importava com sexo naquela noite. E com o que ela se importava? Nunca saberei.

Às vezes, os olhos de cor indefinidamente escura me miravam. Sua boca podia não estar sorrindo, mas os olhos sempre estavam. Os cílios estavam abertos a negociações. E quando um deles caísse, seguraria com seu dedo e me faria colocar um dedo em cima. Diria para eu pensar em um segredo.
E quem ficasse com o cílio no dedo teria o desejo realizado.

E ela ficaria com o cílio. Eu a deixaria ficar.

Minha noite foi estragada, arruinada pela moça do vestido escarlate. Ela nem ao menos bebia, só agia como alguém com muito álcool e pouco senso no cérebro. Talvez, lá no fundo, só quisesse rir da cara de quem procurava um sentido para ela. Uma razão para ela estar ali, fumando cigarros de menta e jogando cartas. Uma razão para ela sempre estar sorrindo. Uma razão para ela estar naquela festa, quiçá uma razão para ela existir.
Ela ria, ria e ria dentro de seu vestido escarlate. Ria porque não fazia sentido algum, e não queria fazer. Ria porque a atribuíam nomes e histórias, e ela não era nada daquilo.

Ela era cativante, sim. Um pouco estranha, também. Parecia não se importar com o coração dos outros, e tampouco ligava para o dela. Tinha olhos feitos para enevoar pensamentos. Ela era tudo isso para mim. E ela achava que não era nada.

E por causa dessa noite perdida pensando em tudo que ela era e podia ser, acabei me perdendo. Quando me dei conta, aquela mulher, tão completa e tão incrível, tão só e tão amada, tinha se tornado só uma vaga lembrança. Um vestido escarlate, que não verei tão cedo. Nunca mais verei, provavelmente.

(O que me importa pouco, pois seu sorriso já vale por uma vida. E o sorriso dela seria meu único desejo se por acaso eu ficasse com o cílio.)

(Mas nessa vida, quem ficou com o cílio foi ela. E tenho quase certeza de que ela desejou nunca ver uma pessoa mais de duas vezes, para que não precise rir da mesma piada e acabar gostando dela.)

(Eu a concedo esse desejo. Se a fizer feliz, faço o que puder.)

(Independente de onde estiver.)

(Se estiver.)

(Se existir.)

Dedicado a uma moça que desejo – do fundo do meu cílio – ver mais de uma vez. E ver muito mais do que “mais de uma vez”. Parabéns, Lolo.

12 de dezembro de 2011

Pra quem gosta de maçãs ...

Quem aqui já sofreu por amor??
"gritaria "
Isso tudo já amou de verdade??
"muita gritaria"
Eu cheguei à conclusão de que se o amor é verdadeiro não existe sofrimento.
Renato Russo

Lemos e escrevemos poesia porque somos membros da raça humana e a raça humana está repleta de paixão. E medicina, advocacia, administração e engenharia, são objetivos nobres e necessários para manter-nos vivos. Mas a poesia, beleza, romance, amor… é para isso que vivemos.
Sociedade dos Poetas Mortos

Coloquei uma foto sua ao lado de várias fotos de momentos da minha vida, e percebi que em todos aqueles que tinham a data posterior ao dia em que nos conhecemos, eu tinha um olhar diferente... Até que percebi que não, o olhar era o mesmo, a diferença é que tinha você dentro dos meus olhos. Uma boa noite pra você, meu filho... Que faz parte da sociedade dos poetas mortos, que ja foi chamado de capitão, que já se apaixonou pelo impossível... Mas hoje, muito acima de tudo isso, assim como eu, deseja encontrar com aquele que iniciou tudo isso. Onde esta você, ó Amor?! Temos contas a acertar.
Wolf.

O amor de todos os mortais
Porque quem gosta de maçã
Irá gostar de todas
Porque todas são iguais...
Raul seixas

Se você acha que precisa ir embora...
Vá e não olhe pra trás...
Me abandone agora
com esse teu sorriso de "tanto faz..."

coloque seus fones de ouvido.
ignore tudo aquilo que eu tentei explicar...
mas não diga que não teria ido
se eu lhe pedisse pra ficar.

Daqui a pouco você vai querer que cante
as baladas clássicas que sempre lhe dediquei...
vai ver numa fotografia meu semblante,
e lembrar de quantas vezes eu tentei...

Eu irei sorrir, ou talvez chore...
mas não vou pedir pra você voltar...
então se planeja que eu implore
lamento lhe contrariar...

Você vai fazer falta tamanha
de uma forma que eu não sou capaz de lidar...
mas Maomé não chamou a montanha
ele só a esperou chegar...

Se gosto de você, me amo antes
não é orgulho ou teimosia...
eu sei que mesmo distantes
seus olhos vão inspirar minha poesia...

Eu adoto esta postura
de dizer que vá se quiser...
mas não pense que esta face dura,
esqueceu do teu jeito de mulher...

eu apenas te liberto,
plante e colha...
te quero por perto
mas não é minha a escolha.

eu gosto mesmo de maçãs
mas antes de ser teu, sou professor...
e não pretendo passar minhas manhãs
dizendo "fique meu amor..."

vou te esperar por uns dias...
se cansar, não me condene às chamas.
se minha leitura de poesias
procurar por outras camas...

essa mania de querer ser especial
não te condeno por agir como quiser
mas não me leve a mal
quando lhe trocar por outra mulher.


8 de dezembro de 2011

Cale-se



"Pai, afasta de mim esse cálice. "

Chico Buarque.

Pode parecer que foi há muito tempo, numa galáxia distante, mas foi no chão desse nosso país, e começou meio seculo atrás... As pessoas estavam nas ruas, lutando, protestando e fazendo tudo que fosse possível e às vezes até o impossível, para conseguir o que lhes era de direito... O direito de se expressar, de dizer o que precisava ser dito, e até dizer o que ninguém precisa, mas todos querem dizer... E isso se conquistou quando um homem fez algo tão poderoso quanto uma oração. Aliás, algo mais poderoso... uma música.


Hoje o direito de se expressar está presente na vida de cada um, porém creio que deveria haver também o dever de pensar antes de abrir a boca, clicar um botão... Antes de jogar no ar milhares de coisas que ficariam bem melhor guardadas dentro de cada um.
O mundo mudou, cresceu e depois encolheu. O que era distante hoje esta a um click de seu alcance... Recebemos o poder, só esquecemos das grandes responsabilidades... Poder sem luta, paz sem voz e coisas do tipo.


"Você pode até dizer que eu tô por fora ou então que eu tô inventando,
mas é você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem...
hoje eu sei que quem me deu a ideia de uma nova consciência e juventude está em casa guardado por deus contando o vil metal..."
Elis Regina.

Escrevi assim, com a sonoridade que Chico e Milton escreveram "Cálice", um poema de tributo e reflexão. Não sei se agradarei a quem ler... mas se ao menos fizer pensar, dou-me por feliz.

Afasta de mim o aceito.

E todos podem fazer poesia
mas a escrita parece tão dura...
ao parecer cada vez mais vazia
a geração que não viu ditadura...

Dizem que nulo é voto de protesto
mas eu o que vejo é muito desrespeito
Contra cada homem muito honesto
que tem cicatrizes firmes no peito

Não se vê fora mas se sente dentro
O grito torpe que ninguém escuta
Quem deveria protestar no centro
Assiste em casa o clube da luta.

E a liberdade tão reivindicada
Tem preconceito e hoje tanto abuso...
De que me vale ter a madrugada?
Se meu próximo anda tão confuso

Somos exatos mundo digital
sem motivação para o luto
quem compartilha o artificial
e cuja voz eu nunca escuto

Pai, afasta de mim esse, cale se, Pai
o justo padece por gangue, ó, Pai
pra quê esse banho de sangue?

Se não existe amor em SP
Vamos criar amor nesta cidade
Quem vulgariza o "amo você"
é porque nunca amou de verdade.

Vamos cantar essa sala de aula
e ir de frente resolver problema...
Ninguém aguenta mais viver na jaula
Dizer que foda é esse sistema.

Analfabeto negro nasceu pobre
Mas nem por isso tu és melhor que ele..
Em tuas veias não corre o cobre
Teu sangue é vermelho igual ao dele.

E dito isso, deixa essa cadeira
Pai, é difícil ver revolução.
Adolescente, quebre essa barreira,
Mas não aceite essa situação

Somos os lobos pela noite afora
Não caranguejos cegos deste mangue
Corpo no asfalto a viúva chora
Pra quê esse banho de sangue?


6 de dezembro de 2011

Complexo Virtual


Anteriormente na  Cidade Rex
Mínima Ideia: Show da fé                



Carros criavam a sinfonia da avenida, enquanto seus escapamentos liberavam o maior inimigo do século, o monstro invisível subia lentamente em forma de gás, porém não iremos até a atmosfera e sim até o décimo sétimo andar do prédio “Estrela da Colina”.  Tal estrutura continha traços modernos e dois apartamentos por andar, possuía tudo que um prédio poderia ter: parque para as crianças, piscina e áreas de lazer em geral. Nenhum zumbi que habitava aquela estrutura colossal gozava desses ambientes, o grande paradoxo do local já foi retratado em várias mídias onde o nomeavam de “Prédio dos solitários” “Antissociais” ou até os mais sensacionalistas de “Zumbis do Wi-fi”
 Sensacionalismo ou não um dos poucos seres pensantes da Cidade Rex foi estudar o local, seu nome era Luiz um sociólogo renomado. Andava sempre largado, como típico herói de quadrinho só tinha um tipo de roupa, era sempre visto com uma camiseta branca e calça jeans azul. Luiz se lembrava de fatos precisos desde os dez anos de idade quando ganhou de aniversário do seu pai, um velho gravador e algumas fitas, desde então registrava cada pensamento ou qualquer lembrança preciosa. No dia 21/03/2011 foi dividir um quarto com Moacir um zumbi da Estrela da Colina, seus olhos carregavam uma expressão pesada e vazia, suas íris eram o fundo do poço, magricela e alto era o estereótipo do Rei do Halloween, por trás da caixa torácica evidente batia um coração seco que bombeava cafeína, força motriz de tal corpo. O apartamento do zumbi tinha tudo que a vida moderna pede: computadores marcados pela famosa maçã, telas de alta definição  e videogames de ultima geração, o protótipo de cozinha servia mais como estoque de fast food. Luiz dormia no enorme e exótico sofá de couro da sala, gostava de fazer suas anotações de manhã enquanto Moacir dormia, ele que trabalhava como analista de sistemas por toda madrugada acordava durante as 15.30 da tarde para iniciar sua rotina. Seu relógio biológico era totalmente bagunçado, tal comportamento foi tido como padrão pelo pesquisador que constatou observando outros moradores que respondiam a sua pesquisa e que davam liberdade para ele no ir e vir de suas casas. O cientista social demorou para se adaptar a nova realidade mesmo depois de cinco semanas a pesquisa seguia, em geral Luiz era um ser totalmente desprezível na rotina dos moradores ficava de longe observando o comportamento dos animais, macacos enclausurados que viviam uma vida mais virtual do que presencial, sempre o mesmo padrão de luxo com falta do que fazer e muito do que reclamar, mas apenas virtualmente, tais filosofias eram ótimas contudo dentro da rede o que tem utilidade é descartado. Luiz precisava descobrir o que os prendiam lá, era obvio que não era só sede por informação, ou contato com outras vidas online. Dez semana depois, Luiz possuía cinco fitas de 60 minutos gravadas e um bloco de anotações, tentava bater alguma teoria já existente com a situação atual, aquele prédio não era apenas um local de viciados em internet, aquilo passou o limite de vicio virou vida, uma vida montada em vários Terabits. Semana onze, Luiz estava frustrado, olhava para o espelho, molhava a cara e via um zumbi, não sabia o que era luz do sol, seu corpo estava fraco de tanta besteira. Isso é o cumulo do desperdício de vida, ele pensava se afundando cada vez mais no enorme abismo virtual. Lutas virtuais, ninguém nada assume, ninguém nada faz, deu uma ultima volta por um corredor vazio voltando para o apartamento de Moacir acompanhado pela caneta e um bloco. Estava evidente a frustração em seu rosto, carregava um sorriso amarelo deteriorado, não existia mais um herói ali dentro. O companheiro de quarto chegou como de praxe as sete da manhã, com a cara marcada do trabalho, deu as ultimas tragadas no cigarro, deixando a fumaça correr pelo apartamento. Olhou bem para Luiz e disse:
— Você se acha muito mais livre que qualquer um de nós aqui não é Luiz? As vezes eu olho suas pesquisas, o que você anota..  Bem, sua maneira de ver o mundo é bem interessante, mas tão opressora quanto o mundo lá fora, se a sociedade é um reflexo nós somos um borrão, não vamos nunca refletir nada. Olha a janela e respire o ar da Cidade Rex, ele machuca nossos pulmões, somos constantemente abordados por ideias que não são nossas e vomitamos todas elas, apenas para sobreviver. Paradoxalmente a vida de cada “zumbi” aqui é mais livre do que a sua, assimilamos, moldamos e destruímos o que bem entendemos.
— Mas... Dizia Luiz perdido em pensamentos. Moacir aproveitava a deixa:
— Essa cidade constrói e destrói a cada dia, eu sinceramente torço pelo dia em que exista uma quebra no seu processo regenerativo e ela envolvida em sua luxuria pegue fogo de uma só vez, enquanto isso não acontece, observe:
Moacir abria um notebook, a luz emanada pelo objeto era como  o sol. A pele fraca do nosso herói clamava pelo objeto e ele sem hesitar pegou o notebook, com o dedo indicador clicou em “enter” e a máquina saiu da tela de espera. As orbes de Luiz tremiam, sua mente sentia a sensação de ser o criador, o alfa e o ômega. Os neurônios transmitiam uma sensação nova, o poder do big bang bem na palma da sua mão a um clique de distancia. Luiz jogou seu corpo inerte já destruído pelo processo de adaptação aquela sociedade, no sofá de couro esboçou um sorriso amarelo, gargalhando então começou a digitar freneticamente. Não ouviu, mas Moacir disse:
— Bem vindo a família.
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ESCAPISMO = desconsideração da realidade.

Ae galera vou postar a ordem da minha série aqui pra quem quiser ler + :

3 de dezembro de 2011

Anjos do Thi.



Anjo doce
Anjo meu...
Anjo não fosse
eu seria ateu

Anjo sereno
Anjo inquieto
Anjo moreno
de arranjo incompleto


Anjo caído
Anjo imaculado
estejas comigo
em meu sono embalado

Anjo de asas escuras
Anjo de cabelos compridos
Anjo que conhece as ruas
e tem cara de poucos amigos

Anjo disfarçado
anjo insatisfeito
Anjo que tenho encontrado
Rimando em meu leito

Anjo que assina
Acordos com demônios...
Por favor me ensina
a lidar com teus hormônios
Anjo que atua
e convence do que quiser
Anjo cor de lua
com semblante de mulher

Anjo andrógino,hermafrodita
Além de mulher e homem
Anjo que desacredita
os sentimentos que o consomem



Anjo de cabelo rubro
olhos cor de esmeralda
Anjo que eu redescubro
Com tua timidez dissimulada

Anjo que eu chamo
não importa o quanto peque
Anjo por que será que te amo?
toda vez que escuto a Black

Anjos que eu amei
por seus milagres me fiz escritor
Anjo? um dia serei...
Quando receber asas do amor.

Dedicado a cada uma das garotas que fizeram a diferença na minha vida...
Se hoje sou algo além do que era, é graças a cada uma de vocês.

1 de dezembro de 2011

Aspas


"Parece que tudo que falo está entre aspas.
Não sei se é falta de originalidade, mas parece que tudo que falei já foi falado. Tantas pessoas pensam o mesmo, falam o mesmo... por acaso todos têm a mesma opinião?

Às vezes prefiro não ter opinião.

Ou pelo menos não pensar muito nesse troço. O que sou de verdade ainda está aqui dentro, mas não encontrou o jeito de sair. O jeito certo, o jeito em que ela sai e parece ter saído de mim mesmo, e não de um livro de citações.
Somos só um conjunto de citações e estilos de vida, e achamos que somos únicos.

Somos o milagre de Deus.

Ah, Deus?
Por que não Buda, Allah ou, sei lá, John Clever? Por que não inventamos mais nossos deuses, nossas religiões? Não temos mais poder para isso?

Poupe-me. Não quero mais saber disso. Às vezes, também prefiro não ter religião.
Sabe como é, isso também é falta de opinião.
E achar que isso é falta de opinião, provavelmente, é uma opinião feita por qualquer outro, mas não por mim.

Essas aspas pertencem a outros. Pertencem aos revolucionários, aos cientistas, aos escritores. A qualquer um que expôs uma ideia antes de todos. Porque eu nasci tarde demais.

E nesse tarde demais, tudo o que falo está entre aspas."
(Outros)

24 de novembro de 2011

Me iRita



E aqui estou eu
oferecendo o que tenho de costume
escrevendo sobre o que aconteceu
quando senti o teu perfume.

Foi como uma perfeita tempestade...
Uma chuva de verão que dura o dia inteiro,
dessas que molha com vontade
e que te faz lembrar o cheiro.

Algo que não é o pra sempre
mas tem toda beleza do agora
Então peço que se concentre
e me escute noite a fora.

á pouco tempo eu conheci um anjo
sem asas ou aureola.
Mas que inspira a compor arranjos...
quando penso em como és bela.

lamento s o texto constrange-la
mas voce merecia ouvir,e eu dizer...
Menina dos olhos de estrela,
foi um prazer te conhecer.

Com olhos castanhos doces,
como sendo a Deusa de minha nova criação.
E mesmo se não fosse
seria ao menos minha inspiração...

Com a boca que inveja Afrodite,
carnuda e rosada inspirando o beijo.
Mesmo que não acredite,
é capaz de incitar desejo.

Com o ar de menina
que deixa sem ar o escritor.
Algo como a beleza natalina,
ou nunca ter ganho uma flor.

Que quer viajar o mundo...
com mil historias a sua espera.
Que fez 1 hora passar num segundo
enquanto a Bela ouvia a Fera...

Com a voz que faz tudo parecer melhor
estando certa sobre o mundo e sua crueldade...
dando ouvidos ao que já sei de cór
e sonhando por outra realidade.

Um filme de Palhaço,um frapuccino de natal
O tipo de garota que merece esta escrita.
O dia em que vi a beleza do trivial
Passando meu sabado com Rita.

22 de novembro de 2011

Dores



Analgésicos não me acalmam mais.

Tudo pulsa em vermelho, nada me satisfaz.

Estava no meio da noite quando acordei
 
Cansado, inflamado... nunca mais deitei.


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Tinha muito tempo até o sol raiar
Abri todos os vidros que pude alcançar

Botei tudo na goela e empurrei com água.

(Tempo para que as cápsulas virem nada)

(...)

Os meus olhos, bem,
Eles nunca mais voltaram a se fechar.
Nunca mesmo, sabe.
Nunca mais saíram do lugar.


O sol ia e voltava,
Ia e voltava,
Ia e voltava,
Tremia e brilhava.


Acho que não era essa a dor que sentia,
A dor de fibra, músculo, pele.
Nem mesmo a do coração,
De quando quem gosto me repele.


É uma dor diferente,
Uma dor que não tem cura.
A dor de quando vi
que a vida é tão pura.


Tão pura, tão... simples.
Eu era cego a tal fato.
Quando finalmente consegui vê-lo,
Eu já era um insensato.

19 de novembro de 2011

Adversidade condizente?

Minhas atitudes falam por si só
e nossa situação continua o ó.
Nesse jogo de interesses fingidos,
o final eu sei bem, sentimentos feridos.

Mas em que problema eu fui me meter?
A luz que me guiava ofuscou meu valor,
perdido no escuro sem ter para onde correr.
dificultando a saída desse grande labirinto, o amor.

18 de novembro de 2011

Sem fé

Conto inspirado em várias músicas do Faith No More.




Aquele homem entrou de novo no bar. Entrava todo dia, mas não era querido pelas pessoas, muito menos por mim. Ele me intrigava, na verdade. Era uma presença estranha na minha vida, não tinha paz no olhar.
Seus olhos transpiravam cafeína.
— Copo de quê? – Perguntei.
De tristeza. — Ele disse isso sério como sempre.
Peguei um uísque qualquer e despejei em um copo qualquer com uma quantidade qualquer de gelo. Entreguei-o com indiferença.
~

Bebericava o uísque sem muita firmeza quando peguei o barman olhando para mim por mais de um segundo completo. Tive certeza que ele já estava olhando para mim há algum tempo antes de flagrá-lo.
— O que é?
Você sabe.
Eu sei. E ele quer saber.
Fiz um sinal com o copo para que ele chegasse mais próximo. O bar estava na sua última meia hora de funcionamento, eu sabia que ele não recusaria esse momento, afinal o movimento era desprezível no local.
— Pristina. Esse é o nome dela.
Ex-mulher?
E filha.
E lá se foi mais um gole.

~

— Conheci Pristina há quatro anos. Ela tinha dezesseis.
Ele descrevia sua filha de um jeito pouco convencional. Dizia que quando a conheceu parecia um bebê saltitante. Era tão inocente quanto uma bala de morango.
Deu detalhes físicos pouco impressionantes. Corpo pouco desejável, rosto cheio de espinhas... Era só uma mulher.
— No entanto, toda essa composição física dela a fazia parecer ter uns vinte e poucos. Era uma moça quieta, mas adorava sorrir por qualquer motivo. Era até boba de tão inocente.
— Até aí, não vejo problema algum.
— Você sentou aqui para me ouvir, e não para falar, certo?

~

Por um momento, pensei em pedir desculpas. Mas já era tarde demais, deixei que ele se remoesse de ódio de mim. Tenho a arte de fazer inimigos.
Terminei o uísque e deslizei o copo pelo balcão, longe de mim. Queria qualquer coisa com muita cafeína. Talvez só muita cafeína fosse o bastante.
— Pristina e eu nos conhecemos no supermercado. Na noite seguinte, estávamos fazendo sexo na minha casa. Ela se mostrou muito fácil, fácil como uma manhã de...
— Domingo. Comparações estranhas, as suas.
Ele conhecia The Commodores e não perguntou por que diabos eu tinha feito sexo com a minha própria filha. Talvez ele fosse legal.
Ela engravidou. Gêmeos. Miguel e Alan. Continuamos juntos. As coisas iam melhores do que tínhamos planejado.
Pausa para cafeína. Levantei e logo agarrei uma lata do energético mais potente da geladeira. Abri sem o menor esforço e molhei a garganta com taurina.

~

Contou que um dia a mãe de Pristina ligou. A mãe dela era uma prostituta com quem o cara tinha passado algumas horas em um motel qualquer. Ela havia descoberto por fontes confiáveis que a vida dela finalmente estava boa, e havia ligado para pedir dinheiro.
— Fiquei sabendo disso alguns dias depois, já que fui eu que atendi e acabei conversando com ela sobre Pristina. Descobri que havia uma chance forte dela ser sangue do meu sangue, e acabei fazendo um exame de DNA às escondidas.
Ele disse ter confirmado a hipótese. Matou Pristina e os gêmeos. Um dia depois, outro corpo assassinado, dessa vez o da mãe de sua filha.
— Desci o cacete nela até todos os ossos se transformarem em massinha de modelar.
Gole de energético.
— Não acharam nenhuma evidência. Destruí os quatro corpos, não sobrou um órgão inteiro. Depois, juntei-os em uma sacola e incendiei-os.
Ele falava sem a menor vacilação na voz. As mãos se mantinham firmes e os olhos, longínquos, estavam pouco perturbados.
— Foi minha pequena vitória da vida. A única vez que me livrei de algo que me fizesse mal.

~

Minha barba pinicava meu rosto como nunca antes. Nunca antes havia falado sobre isso. Era como se a presença do maldito barman revistasse minha alma. Já não era mais engraçado falar.
— Hoje em dia vivo só por viver. Tudo está arruinado. A vida já não vale mais a pena para mim. Não há mais fé.
— É isso?
— É.
— Só isso?
— Como assim, “só”? Fodi e matei minha filha e você acha pouca desgraça?
— Acho. Sabe o que é a desgraça?
— O quê?
— Eu saber que não existo.
E, de repente, acordei.

~

O homem olhou para o lado e viu sua mulher encolhida na cama de inverno. Foi ao quarto e viu Pristina ainda no computador àquela hora da madrugada. Tomou consciência do pesadelo que acabara de ter.
Poucos dias depois, estuprou a filha, matou-a e linchou a esposa até a inconsciência por achar que ela era uma prostituta. Chorou o resto da tarde por um final feliz, e só achou um copo.
Um último copo qualquer com um uísque qualquer.
O último copo de tristeza.
Bebeu-o em um só gole. Depois, seu olhar ficou vazio, a barba pinicou e a pouca fé que tinha foi embora.
E se surpreendeu com o que era a desgraça.

Era não existir.

Era não ter fé.
(Então levante esse copo e vamos propor um brinde
pela coisa que mais te machuca.)

11 de novembro de 2011

Show da fé

Anteriormente na Cidade Rex: Mínima Ideia: Você se lembra?



“ Há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte “

- livro de Provérbios: 16:25


O sol decaía na Cidade Rex, como em toda cidade normal pessoas procuram sua diversão, seja pelos bares lotados ou fortificando sua fé. Hoje o protagonista da nossa história é ninguém mais ninguém menos do que o Pastor Walter. O resumo de seus dias é esse: Era uma criança conturbada, não recebia nenhum tipo de atenção de seus familiares, então pensou que ao estudar a bíblia ganharia atenção da mãe, não deu certo, mas de tanto se aprimorar foi crescendo de posto em uma famosa igreja, sua única forma de escapar da realidade, lá era conhecido como o grande profeta, pois sua fé era capaz de verdadeiros “milagres”.

9 de novembro de 2011

Ouro, Incenso e Mirra - Primeira Leva de Cartas ao Papai Noel

“Senhor Papai Noel,

Eu não sei muito bem se você pode me ajudar nisso, mas é que tenho um problema muito grande. Meu rosto é deformado, e eu gostaria muito de ter um rosto novo. Sabe, queria ser aceito, Papai Noel. Não aguento mais as crianças da escola me empurrando pra lá e pra cá, me deixando de olho roxo... Parece até que Deus não me olha. Ou não quer olhar, sei lá.
Obrigado!

P.S.: Se não puder me dar um rosto novo, uma máscara já seria de bom tamanho, tá bem?”

13 de Dezembro de 1956

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“Papai Noel,

Quero agradecer por você ter me dado o melhor amigo de todos, o senhor Dodgson. Ou Sr. Carroll, ele gosta de ser chamado assim. Eu sei que vou poder contar com ele todos os dias da minha vida, por mais que ele seja tão mais velho que eu. Sei que ele sempre estará comigo.

Muito obrigada, mesmo!

Mas tenho que te pedir alguma coisa, né Sr. Noel? Então... Você pode me dar um livro? Acho que é bem mais fácil pra você do que me conseguir um amigo, não?”

20 de Dezembro de 1861

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Hello, darkness, my old friend,
I've come to talk with you again.

- e se você não pegou quem são os autores das cartas, o nome deles é um link. Só clicar e tá lá.

1 de novembro de 2011

Inabalável


— Aqui não, aqui nós somos invencíveis.

A voz ressoava do norte das muralhas em ruínas, o cavaleiro foi tomado pelo esplendor da glória levantando sua lâmina banhada em sangue na direção do sol, o brilho do sol cegou os inimigos que se posicionavam em sua frente. O bravo louco avançava contra quinze homens trajando uma armadura retorcida de tantos golpes, porém não hesitou, nem por um instante. Sua determinação e perseverança ao avançar chocando-se contra a linha de frente inspiraram outros homens de sua falange, quando a vida está ameaçada lutar por ela até o fim é a única escolha.

24 de setembro de 2011

Palavras, parabólicas, Prometeu e poeta.

Eu estava ali parado
pairando paralelo ao paraíso
Ela estava ali passando
Pescando e penetrando tudo aquilo que pesquiso

Estaríamos aqui Passeando
se tivéssemos percebido...

Porem paramos no passado
de Promessas por cumprir
perdidos em pedidos
Impedidos de prosseguir


Passei por Peruibe
e o passado passou pra perguntar
se o nosso filme ainda se exibe
E se Peter Pan ainda sabe Planar

O Progresso é duvidoso,
mas a Pirataria é uma certeza
O Paraíso do nunca é perigoso
Pra pessoas que pedem por princesas...

Peter Pan,se fez Peter Pendragon
e Bonecas de pano ainda dançam com esqueletos
Princesas Pulam de palácios pelo som
E pagãs praticam bruxarias em casas de confeitos.

passaram por aqui as mudanças
os paradigmas sem precedentes,
a paz ficou no passado de crianças
que pensavam ser adolescentes,
nunca pensei que poderia manter esperanças
mas não pensei que pudéssemos ser tão diferentes

O Prometeu que aliterou
entre confusões de Plebeus e profetas
Que se auto proclamou príncipe,
mas se precipitou poeta.


"palavras,pequenas,palavras apenas..."
"princesinha parabólica"

Equinócio de Primavera



"O que vai nos salvar?
E o céu se abriu"

Uma breve história:

Meados de julho, devido a problemas orgânicos (ideais, confiança, organização, amizade), que se acumulavam em uma progressão geométrica, o monstro que lutava com bravura até então foi derrubado, devidamente enterrado e supostamente substituído.

Nas entranhas da terra o ser era novamente absorvido para o plano das ideias, porém uma ideia não é deixada de lado, muito menos uma revolução, e no abismo o Monstro contemplou a escuridão fundamental, despiu-se do orgulho e de velhos conceitos orgânicos,  muito mais maduro, entretanto não existia mais. 

27 de julho de 2011

Você se lembra?


 Sabe quando simplesmente você acorda e sente um vazio estranho? Não, não é fome, pelo menos eu sei que não. Depois de tudo, o tempo parece que passou rápido demais. Olho para as paredess do meu quarto, as da sala... elas são cheias de fotografias, como se eu quisesse realmente enfiar uma ideia de quem eu sou na minha cabeça, talvez para enfrentar esse vazio que eu sinto ao acordar. Eu não sou psicólogo, ele aqui é você, então vou começar logo...(...)
O velho de quase dois metros deitou em uma posição confortável no divã, com as mãos em cima do peito que carregava algumas mágoas e poucas vitórias. Olhava para cima com frequência, evitava fitar diretamente para o homem à sua frente que mais parecia uma estátua do que um médico. O velho não sabia o motivo, mas lembrar era uma tarefa árdua. No entanto, ele ensaiou, tomou sua Kriptonita e decidiu procurar ajuda para o seu problema. Passou a mão na testa, suspirou e voltou a falar:
  Eu sou D'Artagnan, ao menos é isso que eu acho . Nasci com o mosquete em mãos, fui treinado desde pequeno, sou aquele cara que de vez em quando aparece nos jornais e noticiários da cidade desde salvando gatos presos em árvores até impedindo pequenos roubos. Não sou rico, não sou um Batman da vida, recebo algumas condecorações, uns prêmios e me privo de muitos luxos. O verdadeiro problema é que certo dia eu fui atrás de um ladrão que acabava de roubar uma senhorita na avenida principal. Eu sei onde os ratos se escondem, então saquei meu mosquete e corri atrás do rato até minhas entranhas queimarem, para onde foi todo meu fôlego?
Suspirou novamente, tentava não lembrar, mas precisava pois isso trouxe o dilema de sua existência. Tomou fôlego e voltou à luta.
  Cansado, ele não portava arma de fogo. Bradei: "Filho, larga essa bolsa! Você não precisa tornar isso doloroso!" Engraçado, os jovens ratos nunca escutam os mais velhos — O velho sorriu mostrando os dentes amerelados. Seu semblante foi tomado por uma alegria instantânea ao relembrar o momento de glória. — Parti para cima dele e com cinco sopapos bem dados ele foi ao chão. A senhorita chegou logo depois aos prantos, entreguei-lhe a bolsa quando aqueles olhos começaram a brilhar, ela sorria em meio a soluços: "Pai..papai, onde você esteve todo esse tempo?" Algo me atingiu no fundo e levantou esse Vazio, a única coisa que eu consegui fazer foi correr para longe, bem longe daquele vazio enquanto eu tentava recordar alguma memória da garota. Eu tentava me recordar mais não conseguia. (....)

Chegando ao meu apartamento, olhei todas as fotografias. Eu não possuía uma família, mas lembrei que possuía um velho diário guardado em uma gaveta trancada juntamente com a minha kriptonita, cápsulas de controle. Consegui dar uma breve lida no diário antes das lágrimas rolarem. Lá dizia que meu nome era "Miguel Soares", que eu fui um professor ótimo de esgrima, tinha uma mulher e duas filhas, e que fui diagnosticado com Alzheimer há praticamente três anos. Nos meus relatos eu não conseguia aceitar a ideia de que ia me esquecer de tudo daqueles que eu amo, e que provavelmente eu iria virar um vegetal em uma cama. (...)
 Então eu, com o tempo que me restaria, tentaria fazer um mundo melhor para aqueles que amo. Tenho certeza que essa doença vence meu corpo cada dia mais, pois só me lembro disso porque tomei as cápsulas. Pouco tempo me resta, e eu não quero ser um vegetal impedindo a vida da minha família. Nas páginas finais do diário, dizia que eu me despedi devidamente (...)

 No final, existem várias maneiras de lidar com uma situação: Você pode ver isso do lado positivo ou negativo, mas provavelmente toda decisão que você pensará em tomar  terá seu lado bom e ruim. Descobri que a causa do vazio é esse amor reprimido pela minha família, que de alguma maneira é mais forte que memórias de um cérebro degenerado, e essa será a energia que me impulsionará a lutar contra esse monstro que está alojado no meu cérebro. Porém, essa dúvida sempre irá me perseguir: Eu agi certo abandonando minha família, possíveis amigos, trocando uma vida por Outra?
Alguns minutos de um pseudo-silêncio sagrado tomaram conta da sala enquanto o psicólogo terminava de tomar suas notas sobre o singelo caso do paciente. Quando a estátua ia abrir a boca para concluir o caso, o velho olhou para o mesmo com olhos empapuçados atrás dos óculos e disse: 

— Quem é você?
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Bom pessoal, to começando uma nova série aqui no blog, espero que gostem e sejam bem vindos a “Cidade Rex¹!” Alzheimer é um assunto sério e eu vou passar alguns dados do que pode ser feito para diminuir ou mesmo evitar a doença:
¹ Rei em Latim.


- A inclusão de fruta e vegetais, pão, trigo e outros cereais, azeite, peixe, e vinho tinto, podem reduzir o risco de Alzheimer

-Atividades intelectuais como ler, escrever com a mão esquerda, disputar jogos de tabuleiro (xadrez, damas, etc.), completar palavras cruzadas, tocar instrumentos musicais, ou socialização regular também podem atrasar o início ou a gravidade do Alzheimer.

- Reduzir ao máximo o contato de alimentos com o alumínio, Ele está presente em panelas que armazenam as sobras do almoço para o jantar, ou vice-versa. Ao ficarem na geladeira, por exemplo, aos poucos a panela solta pequenas partículas de alúminio que contaminam o alimento, dê preferência por armazenar as sobras em recipientes de plástico, e volte para a panela somente quando for aquecer. 

-Evite também o uso excessivo de papel alumínio para embrulhar os alimentos, sobretudo em lanche para as crianças. 

-Dê preferência por potes de plástico, que além de conservar melhor o alimento sem amassá-lo, evita o gasto com o papel e ajuda a natureza na hora de reciclar, reduzindo o lixo produzido.

-Existe uma relação inversamente proporcional entre a prevalência de demência e a escolaridade. Nos indivíduos com oito anos ou mais de escolaridade a prevalência é de 3,5%, enquanto que nos analfabetos é de 12,2%

Caso tenha alguma dúvida ou suspeita procure se informar nos links abaixo e se informar com um profissional que irá avaliar o caso e o tratamento correto.

Abraços