17 de outubro de 2012

Elas e eles

Foto original: http://goo.gl/0UtVh

   Talvez hoje não seja o melhor dia para andar sozinho na rua. Está tudo muito escuro, muito sem luz. E é como se uma mão feita de éter pressionasse minha cabeça contra a porta dos fundos, e eu saio. E desbravo o mundo de trevas à minha volta, tentando encontrar meus amores renegados e meus demônios interiores nele. Porque eu poderia muito bem fazer uma orgia com todos eles. Todas elas. Ah, só um pouco de diversão, por que não? Parece extremo demais, talvez eu não aguente? Não acho amores, não acho demônios. Todos se escondem dentro de mim, e provavelmente terei que abrir minhas entranhas para encontrá-los, para essa estranha orgia de éter que tanto desejo aqui, no meio da rua, no asfalto gelado da noite. Lava petrificada de minha Vesúvio, pessoas que deixaram de existir e ficaram para sempre como estátuas. Enfileiradas em meus órgãos, exibindo seus prazeres. Jogando suas roupas pelas paredes de meu fígado, abrindo suas pernas e brincando de amar dentro de mim. Meu esôfago, sôfrego, parece querer colocar tudo para fora, mas engulo a saliva e me determino a calma, pois a orgia está acontecendo e eu não posso me deixar levar assim. Não sei onde posso parar se me levarem. Minha cabeça vai para lugares inimagináveis, sonhos de éter como a mão, como a orgia. Vejo beijos lascivos e quentes nas pessoas que rejeitei. Vejo socos e pontapés nos diabos que me encarceram. Tudo faz parte da mesma decadência, veja só. Orgia é decadência. Talvez hoje não seja o melhor dia para voltar para casa.