16 de dezembro de 2012

Bananinha amassada


Livro: Noites de tormenta (2002), por Nicholas Sparks, publicado em 2008 pela editora Novo Conceito.

     Chega a ser irônico um livro do Nicholas Sparks ser lançado por uma editora chamada Novo Conceito (igualmente irônico seria se fosse pela Moderna). Encontrar qualquer conceito novo em Noites de tormenta ou na maior parte dos livros dele é equivalente a terminar Tetris: Simplesmente impossível.
     Sei que existe uma extensa base de fãs do autor mundo afora, afinal adaptaram ao cinema mais livros do que ele já publicou. A própria vítima dessa resenha tem Richard Gere e Diane Lane como protagonistas em sua versão longa-metragem, mas, sinceramente, não há nada além do padrão nesse e em qualquer outro livro dele. E, sim, estou falando isso sem ter lido Querido John, Um amor para recordar, enfim, nada além de Noites de tormenta, mas pode crer que tenho certeza do que digo.
     A história: Adrienne, já na sua meia-idade, trocada pelo marido por uma mulher mais nova, resolve contar para sua filha (a do meio, entre dois homens) sua tórrida aventura amorosa de cinco dias com o doutor Paul Flanner. Os dois, sozinhos e trancados em uma pousada vitimada por uma tempestade, acabam criando um elo inquebrantável nesse período, regado por muito café, vinho e sexo (que eles só chamam de "fazer amor", blá blá blá. Para evitar esse tipo de melação, até prefiro o Christian Grey que f*de com força). O livro se baseia nessa pequena relação, na promessa de uma vida lado a lado e em vários probleminhas cotidianos como o pai de Adrienne numa cama de hospital, uma cirurgia fatal feita por Paul e o futuro dos filhos de cada um.
     O começo do livro é sofrível de se ler. É como, sem brincadeira, o Sérgio Chapelin narrando a história de alguém em uma matéria do Globo Repórter. Nada contra o programa e o narrador, mas todo o pano de fundo é concedido nos primeiros capítulos de uma maneira enfadonha e mastigada, que nem banana amassada com aveia, deixando pouco a ser descoberto pelo leitor. Aí Nicholas engata a segunda marcha e Noites de tormenta segue nessa velocidade morna, quase como dirigindo em círculos no estacionamento de um shopping. Acontece um diálogo entre Adrienne e Paul, um pouco de "fazer amor", uma conversa entre Adrienne e a filha e dá-lhe pinot grigio na goela. Aí o livro encontra uma vaga e o carro para; o livro termina. Assim, uma linha reta, sem altos e baixos.
     Deixando o anti-clímax eterno de lado, os diálogos são muito bons. Não pelo conteúdo, mas pela fluência. Li A metamorfose do Kafka há poucos dias e meus olhos quase derreteram com os diálogos naturais como lanche do McDonald's. Pelo menos nisso Nicholas se salva, e é do tipo de habilidade difícil de se ter. Algo que facilita muito a conversão para as telonas, aliás. Mas não há muitos elogios a serem feitos além desse: Os personagens são sem personalidade e está na cara que só são profundos para que qualquer leitor consiga se identificar com eles.
     Ei, mas espere aí: Qual o problema nisso?
     Outra discussão literária, então. É claro que o escritor, o verdadeiro escritor de ficção, quer que suas palavras pertençam aos leitores. Tem que haver identificação, mesmo se a história se passar entre alienígenas, anfíbios ou talheres. Mas Nicholas Sparks, pelo que li, explora o redundante óbvio para gerar esse efeito. São pessoas normais de vidas normais e problemas normais, e milhões compram seus livros e assistem seus filmes enquanto poderiam viver coisas assim. Sei lá, tenho uma vida tão interessante quanto um livro dele. Meu vizinho, minha mãe. Com certeza a morte de minha sogra daria um livro do Sparks, por exemplo. Se não sabe brincar, vai aprender. Simples assim.
     O que vejo em Noites de tormenta é uma história apelativa e mecânica. Claro que dá algum nó na garganta perto do final, mas nada que prenda sua respiração e atenção. Os protagonistas são muito bonitos para serem de verdade e as situações não oferecem nada de novo. Aliás, isso é o mais importante: Sparks apela tanto para que você se identifique com esse livro que esquece de fazê-lo relevante. Como já falei em outras ocasiões (aqui, por exemplo), sou totalmente adepto à queima de livros que não te acrescentam nada. São só chuva no molhado, daquele tipo que seca e acaba cheirando mal. Sei que esse livro, como qualquer um do Sparks que eu ler — você aí, fã dele, me indica um para ler que resenho negativamente com todo o prazer e razão —, vai ter esse fim: Uma mancha úmida e malcheirosa na minha estante de livros lidos. Próooooximo!

Aposto que você não sabia que... Nicholas Sparks é muito mais do que simples escritor. É casado, tem cinco filhos, lê 125 livros por ano, administra uma escola e ainda escreve um livro a cada seis meses. Mas, definitivamente, se for para ser um escritor feito Sparks, é melhor nem ser.

Trailer do filme, lançado em 2008: