18 de abril de 2012

Leave

"Essa história era de um tempo em que existiam estrelas no céu de abril...
A abóbada celeste era um reflexo da minha esperança, daquele amor febril.

De doente nada tinha, a sinestesia de felicidade e aprovação era maior que a realidade.
Ah,  as duras paredes da realidade, eu quebraria o limite, reinventaria a verdade.

14 de abril de 2012

Últimas palavras

(Encontrado no criado-mudo por sua esposa)

“Meu amor.

Já não tenho mais tanto tempo. Sinto isso há anos, mas agora parece definitivo. Tivemos os lábios da eternidade nos beijando, mas estamos velhos demais para pensar no futuro.
(Às vezes acho que você já cansou desse meu jeito de escrever, desses parágrafos inteiros entre parênteses e coisas assim, mas é o que posso te dar. E espero, muito, que não tenha cansado.)
Incrível como conseguimos ser eternos diante de tanta inconstância. Altos e baixos nos permearam nesses mais de cinquenta anos, mas lá no fim sempre existiu o sentimento que nos fazia compreender tudo e amadurecer cada vez mais. Chegamos onde muitos nem pensam em chegar, e desde que nos conhecemos cada dia de minha vida ganhou inestimável importância.
Construímos um mundo só nosso, com vidas que criamos e lugares que frequentamos. Tornamo-nos uma entidade, uma instituição pavimentada com pura paz e amor. Tudo, absolutamente tudo, valeu a pena.
Antes de partir, só queria deixar bem claro que te amo. Te amo com o mesmo fervor da mocidade, com a mesma responsabilidade da vida adulta e com a mesma ternura da velhice que agora nos pertence. E, mesmo que me reste pouco tempo para essas últimas palavras, ainda gostaria de fazer um desejo. Pode até ser egoísta de minha parte, mas... estou partindo antes de você, e tudo que sempre quis foi ficar do seu lado o máximo de tempo possível. Assim, meu último desejo é estar, pelo menos em sua mente, com você em seu último fôlego, como estive do seu lado por toda minha vida.

Adeus.”

10 de abril de 2012

A arte de (na)morar com alguém

(Vou me sentir prepotente se começar assim, mas não vejo outro jeito de começar. Então, pra início de conversa...)

...Sou do tipo que namora pra casar. Não vejo coerência em começar uma relação se você e/ou o(a) parceiro(a) fica(m) achando que ela vai acabar. É uma possibilidade, claro. Sempre é. Entretanto, é como entrar em um emprego pensando que uma hora sairá dele ou começar um curso achando que vai trancar a matrícula antes da conclusão: Você não vai dar tudo de si.

E eu... bem, eu tento dar esse tudo. É difícil, pois nascemos, crescemos e morreremos com pessoas no nosso ouvido fazendo-nos desacreditar de tudo que não seja duvidoso. Pareceu confuso? Desculpe-me, mas é algo como "a única certeza da humanidade é a dúvida".

Pense na pessoa que está ao seu lado em qualquer tipo de relação que envolva sentimento, seja o namorado, o noivo, o cônjuge ou até mesmo um amigo-colorido que não quer assumir algo sério para não causar tumulto na vida de todos. De súbito, pense: Por quê? De verdade, você tem noção do porquê de estar beijando, abraçando, transando, morando com essa pessoa?

Na hora o imediatismo bate à nossa porta: "Porque eu amo essa pessoa". E, como a pergunta é "por quê?", essa é a melhor resposta.
Então reformulemos: "Para quê?"
Onde você quer chegar comprando essa aliança aí?
É uma pergunta deveras paranoica se colocarmos em outros contextos: "Para que você está trabalhando?"; "Para que você comprou esse monte de coisas?"; "Para que você adotou esse cachorrinho?"

"Quais suas intenções?", já diria o sogro.

Não quero entrar em outros campos além do relacionamento. Deixe o trabalho, as compras e o filhotinho para outra oportunidade.
Essa pergunta, se estiver respondida em sua mente, já é quase todo o caminho andado para se ter uma relação satisfatória. Afinal, se você souber para que entra em um relacionamento, você saberá - ou lutará muito para descobrir - o caminho a seguir.

E o caminho a seguir, em toda sua vida, será sempre o crescimento. Você não planta uma semente e fica satisfeito só de ver um raminho pra fora da terra, certo? Você quer ver a árvore inteira, dando frutos e com um galho forte o bastante para pendurar um balanço.
Em um relacionamento é a mesma coisa. Por favor - e isso eu peço de joelhos, em nome de todos os corações já partidos por futilidades -, não namore se não quiser morar com a pessoa, não more se não quiser casar, não case se não quiser envelhecer junto ao cônjuge.
Isso não te priva do direito de beijar bocas alheias ou até de ter um sex buddy. Mas se, por acaso, aquela garota com quem você está há duas semanas de amassos e namoricos está te enchendo de mensagens no celular e você não tem a mínima vontade de responder um décimo delas, nem tente dar qualquer chance a qualquer amor, pois ele não existe aí.

Digo isso porque cansaram de me dizer que o amor não acontece de uma hora pra outra, que tenho que ter medo de me machucar e coisa e tal. Muitos agem assim, pisando na vida com a ponta dos pés - cometendo tantos tropeços e erros de percurso quanto quem passa pela vida com as duas solas firmes no chão - e ainda querem passar a moral de que acharam (ou, pior ainda, têm) a vida modelo. Afinal, desde mestre Miyagi até o Grilo Falante, prudência é tudo.

Só que esqueceram de dizer que, desde Tyler Durden até Keith Richards, cada um vive a vida que quiser. E enquanto você não der os seus passos por sua trilha, viverá na ilusão de ter uma vida própria enquanto na verdade só fez um cooper por uma estrada já pavimentada de tão utilizada. E se essa estrada fosse tão boa assim como falam, seríamos muito menos paranoicos e preocupados do que somos.

Desse modo, não precisamos namorar dezenas de pessoas para achar a certa; não precisamos ter nossos anos de promiscuidade para "aproveitar a vida"; não precisamos trair o parceiro para testar o amor. Não precisamos de nada além do que o nosso coração pede.
E se ele não pede nada, não tenha nada. Eu te imploro.

~♥~

Ainda estou inseguro quanto a esse texto, sua natureza de certo modo irônica e até mesmo imatura para uma pessoa de dezessete anos. Mas, quer saber? Não me importo. Espero que tenham gostado! (:

4 de abril de 2012

Inalcançável

O personagem dessa história não tem nome. Não quer mais tê-lo, pelo menos. Ele é do sexo masculino, um pouco mais velho e magro que seu ideal.
A vida dele é rotineiramente desesperadora. Uma pessoa dita normal – algo que espero que você, leitor, considere ser – não aguentaria mais de um dia sendo o cerne da pele pálida desse homem. Aos poucos, creio que conseguira entrar um pouco na mente dele e olhar pelos olhos dele. Mas já vou avisando: A visão não será nada boa.

Pois bem.
Nosso personagem começa tendo graves problemas com o tempo. Essa entidade, mãe da ordem, perdeu o valor para ele. Uma vida atemporal, onde desfrutamos da eternidade para nos resolvermos, era o que ele mais almejava. No entanto, seus dias arrastados cada vez mais tocavam seus sentidos em câmera lenta. A água do chuveiro demora demais para atingi-lo, e quando o faz é como uma chuva de granizo: Cada gota deixa uma sensação de (ar)dor que se esvai rapidamente, mas que permanece na memória por mais tempo que o recomendável.
Seus passos são lentos como se o mundo fosse submerso e ele tivesse que enfrentar a resistência da água a cada respiração, a cada piscada, a cada movimento. Ele tem o tempo que quer, mas não consegue respeitá-lo. Cai em contradição inúmeras vezes em sua cabeça.

Por falar nisso, o paradoxo da situação está exatamente dentro de seu crânio. Embora tudo em sua vida se locomovesse com dificuldade, seu cérebro não havia perdido a capacidade de fervilhar em pensamentos. O que leva angústia à garganta dele. O que o faz soluçar de ansiedade, chorar de preocupação.

A lentidão da vida o faz não perder um segundo de existência. Todas as palavras são entendidas, todas as formas são decifradas. E um só segundo normal de ação equivale a um passaporte para o pânico na vida de nosso personagem. Imagine o choro de uma criança se delongando pelo quíntuplo do tempo, talvez até mais. Imagine cada vibração desse som te atingindo, cada músculo movido pelo infante sendo percebido com a clareza e a limpidez de uma taça de cristal. Imagine-se nessa situação. Vinte e quatro barra sete.

Isso sem contar as cores.
A perturbação ganha volume quando o homem sai de seu apartamento e se depara com a rua. Tudo, absolutamente tudo se resume em tons. Tons de vermelho, de amarelo, de lilás. Nenhuma cor vívida, todas misturadas com um cinza cadavérico. A vida parece mostrar-se pela metade; e ele nunca tem ideia do porquê.
É, a resposta. Algo tão longínquo para nosso personagem que acabou de ganhar vida na tinta da minha caneta e já anseia por respostas para sua vida inteira.

Ele não tem noção de onde veio, porque veio, se ainda irá. Sente-se um ponto tão ínfimo e isolado diante da extensão da eternidade que prefere pensar que não é seu passado nem seu futuro... mas também cansou de ser presente.
Nosso personagem sempre quis muita coisa. Sempre teve sonhos de grandeza onde poderia repousar em paz sobre seus louros da vitória. Não queria comandar nações, formar opiniões... cresceu acreditando que todos poderiam ser grandes a seu modo, e assim queria esse objetivo tão parcamente simplório em sua mente.
Assim, resolveu adequar o mundo às suas pretensões... e assim fez. Desejou em uma noite, olhando friamente para as estrelas, que pudesse ter todo o tempo do mundo para atingir sua meta... e assim se fez. Como um desejo de Dorian Gray.

Nem um mês havia se passado desde o pedido, e o homem já se sentia cinco anos mais velho. As cores desbotaram, as pessoas atrofiaram, e sua mente só borbulha. Quando, em meio a suas infindáveis reflexões, concluiu que ele teria que se adequar o mundo, já era tarde demais.
Seu desejo fez seu objetivo ser inalcançável.

(...)

E, só por curiosidade, você ainda acha que suportaria a vida desse homem? Não quero que pense nisso, quero que responda. Se não puder responder sem pensar, esqueça. Já é tarde demais para isso.