18 de novembro de 2012

Bebidas, mulheres e cavalinhos


Livro: Numa Fria (1993, editado para a coleção L&PM Pocket em 2003), que originalmente tem o título Hot Water Music (livro de contos publicado em 1983).

Muita bebida (principalmente scotch e cerveja), mulheres e cavalinhos (jeito carinhoso de chamar as apostas na hípica). Essas podem ser consideradas as três coisas mais presentes na digníssima literatura beat de Charles Bukowski. Com seu humor negro e sua falta de papas na língua, ele vai tecendo pequenos retratos do cotidiano nos contos contidos em Numa Fria. Nada escapa de seus olhos, principalmente o que se refere às mulheres. 
     Muitos dos contos desse livro falam sobre nosso velho amigo Henry Chinaski (alter ego do Velho Safado, do qual eu vou tratar numa próxima resenha, sobre o livro Misto quente), e que nos levam diretamente à lembrança de outro Henry famoso: Hank Moody, de Californication (seriado americano, no ar desde 2007, recomendo muito... Óbvio: pra você maior de 18 aninhos. Haha). Ambos são bebedores profissionais, vivem com suas bocas servindo de suporte para um cigarro, suas mãos em nádegas de mulheres e suas máquinas de escrever, que lhes servem de válvula de escape e lhes ajudam a captar o mundo. 
     Bem, voltando ao livro: Buk passeia pelas ruas da cidade de Los Angeles, fumando seus cigarros, carregando suas garrafas, descrevendo suas mulheres (nem sempre suas), o trânsito, as brigas, as dores e os lamentos. Tudo com uma pitada de humor e ironia, muito presentes em todos os contos. 
     Por mais que seus personagens sejam degradantes e degradados, sofrem em suas vidas como se o sofrimento não fosse nada. Mas Buk não engana o leitor, não é daqueles que dá um final feliz só porque assim você espera que termine a história. 
     Há todos os tipos de pessoas em suas histórias: brancos, negros, homossexuais, traidores natos, mulheres obesas, homens grandes e fortes, fracos, escritores fracassados, escultoras, pintores, poetas enganadores, senhoras com lábios pintados espalhafatosamente de vermelho, donas de bar, bartenders, folgados de primeira linha; enfim...todos amontoados em apartamentos apertados, sujos, mal-iluminados, com bitucas de cigarro e garrafas vazias espalhadas por todos os lados. Dá até pra sentir o cheiro de tudo isso ao ler.
     O importante de tudo isso é ver que, no fundo, todos temos alguma característica em comum, por mais que em Numa Fria sejam ressaltadas as mais degradantes das características das pessoas. Aqui, você tem que ter estômago pra encarar a realidade nua, crua, bêbada, fumante e que precisa sim dar uma cagada de vez em quando, até mesmo coçar suas hemorroidas, por que não? 

Pra finalizar: "O amor é uma espécie de preconceito. A gente ama o que precisa, ama o que faz a gente se sentir bem, ama o que é conveniente. Como pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse? Mas a gente nunca conhece."

Aposto que você não sabia que... há uma banda punk rock americana, que teve seu início em 1993, e que se inspirou no título original do livro para nomear o grupo. Vai aí pra vocês uma música dos caras (deem suas opiniões aí embaixo).


Hot Water Music - Remedy