28 de setembro de 2012

Verborragia

A sorte me sorriu um sorriso torto, pra tentar entorpecer-me e tragar os tantos tédios e tensões da minha vida. Mas era irônico o sorriso e foi assim preciso mais de um aviso pra que eu notasse a ironia. Fui um tolo, tonto, cego, e assim inflei meu ego, na certeza da sorte grande. Ah, mas de longe veio a cavalo um enorme azar, a galope, que me derrubou, em estado torpe eu fiquei com as calças na mão. Apanhou-me a Zezé azarada, malvada, malvada! E assim me deixou sem nada, e com nada me contentei. Os sonhos de outrora fugiram, os castelos de areia caíram e os leões de minha fome rugiram, mas a carne pra dar-lhes faltou. Meus olhos, que acostumaram-se com a luz, de hora pra outra caíram na escuridão. A escuridão dos fracos, buracos e do velho babão. Babava e contava histórias, todas sem fim nem final, e sentado sobre seu colo fiquei num estado tão anormal que no fundo eu cochilei. No cochilo, tive sonhos tão loucos, onde poucos gritavam, bem roucos: Onde está? Eu não sei. E andava errante na estrada, sem destino, sem carro, sem nada, andando e bebendo uns goles de acre bebida. Perguntei aos céus por onde andava a sorte, e a resposta foi algo de morte, nem me atrevo a falar, que sorte atrevida! Ah, se eu soubesse que seria assim, teria aproveitado melhor meus bons dias, se suspeitasse das atuais agonias, faria tudo diferente e dobrado. Mas um tolo como eu tem que ser castigado, amassado e pisado, parafusado e pendurado como carne na padaria. Carne na padaria? Estou ficando meio adoidado, tão confuso e tão complicado que vou parar por aqui minha verborragia.

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