9 de setembro de 2012

Se fosse menos americano...


Livro: "O símbolo perdido" (2009), de Dan Brown, publicado pela editora Sextante.

   Você ouve o nome Robert Langdon e já sabe que ele fica muito bem na pele de Tom Hanks. Sabe também que o professor descobriu incontáveis segredos de obras renascentistas, da Igreja Católica e de todos os assuntos mais polêmicos que uma pessoa poderia abordar em um livro, e n'O símbolo perdido não é diferente: O professor de simbologia coloca um decisivo ponto final em muitas teorias da conspiração e é também o responsável por nos fazer pensar até aonde suas histórias se baseiam na realidade, o que é o ponto mais alto das obras de Dan Brown.
   Esse, que é o terceiro livro com Langdon no comando da solução de enigmas, envolve o sequestro de um de seus melhores amigos, Peter Solomon, pelas mãos de um lunático que afirma sem vacilar que a chave para a iluminação da raça humana está em Washington. O sequestro serve como simples chamariz para que o professor possa fazer o trabalho sujo de encontrar essa chave, e para completar essa missão ele conta com Katherine, a irmã de Peter que estuda a pragmática e mística ciência noética, que procura comprovar teorias como a existência da alma e a além-vida (mais informações sobre a noética em http://tinyurl.com/9saxf3o). Intercalando temas polêmicos como os segredos da maçonaria, o verdadeiro propósito da construção de Washington (que foi posta de pé por maçons) e a própria noética, Dan Brown cria uma experiência frenética e que por muitas vezes se parece com um jogo de point-and-click: A ação do livro desaparece para uma súbita resolução de um enigma, onde você pensa junto de Langdon, Katherine e personagens como a arrogante diretora da CIA, Inoue Sato, e o impassível Arquiteto do Capitólio*, Warren Bellamy.
   É fácil identificar os mesmos ingredientes de todos os livros de Brown n'O símbolo perdido: Os personagens têm cargos tão importantes e conceito tão elevado entre eles que acabam se distanciando de nós, meros humanos. As improváveis charadas, enquanto isso, mostram a capacidade inigualável de exatidão nas pesquisas de Brown e sua esposa, Blythe Newlon. A mesma fórmula é aplicada pela quinta vez, mas sempre com o mesmo sucesso. 
   Como livro, O símbolo perdido se mostra um passatempo muito intenso e engrandecedor, uma pequena chave de iluminação para nós que não temos tempo para pesquisar como o casal acima. Ele faz pensar que existem tantas coisas horrendas e decisivas acontecendo sob nossos narizes que acabamos sendo somente pequenos fantoches de pessoas realmente definitivas para a sociedade, como diretores da CIA e professores de simbologia. Apesar de toda sua grandiosidade cultural e literária, peca por cair em lugares-comuns como um final feliz sem sequelas (além de uma mão decepada e personagens dispensáveis mortos) e um antagonista que age por meio de torturas desnecessárias e perdas preciosas de tempo. Se quebrasse mais regras, se fosse mais transgressor, se não quisesse tanto agradar o público, esse livro poderia figurar nessa e em muitas outras gerações como um divisor de águas na Literatura. No entanto, é mais uma aventura americana que, como a maioria delas, está sendo adaptada para os cinemas. Tom Hanks que se cuide, pois Langdon ainda tem uma cidade inteira para percorrer nas telonas.

* Aposto que você não sabia que... O Arquiteto do Capitólio não é o homem que desenhou o edifício que serve como centro legislativo dos Estados Unidos (apesar de pertencer a essa profissão): Warren Bellamy representa a empresa responsável pela manutenção, conservação e organização do Capitólio, e tem dez anos de mandato. É claro que Warren nunca existiu: À época do livro, quem colocava tudo nos devidos lugares lá dentro era Stephen T. Ayers, que está lá desde 2007 e ainda tem muita lenha para queimar.

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