24 de setembro de 2012

À noite


Vou te procurando por aí, por todos os lados, ao sabor do vento, como uma sacola plástica. Tal a sacola, vou vazio por dentro, sem rumo, sem sentido. As noites servem pra gente vagar, sentir o ar frio bater no rosto, os ossos congelarem. Os pensamentos ficam a mil, a adrenalina corre nas veias, a excitação domina. Mas não te encontro em lugar algum. Onde você foi parar? Os dias têm sido difíceis, sabe? Não estou te pedindo muita coisa, só quero te ver. Talvez as manhãs assim possam voltar a ser quentes e as tardes felizes. O fim da noite me esmorece, o nascer do sol já não me anima; eu ainda ando na rua. Por fim, tento olhar em alguns bueiros, quem sabe você os tenha descido com as enxurradas? Não, não te acho nas bocas de lobo, minha chapeuzinho. Antes soubesse de má notícia, vá lá; mas não, não sei onde você está, e isso é que mata. Você deve estar se rindo toda, com aquela risada gostosa sua, de algum lugar por aí. Deve estar se rindo de mim. Sabe que meus dias são seus, e você os gasta como se fosse uma criança comprando doces; você apanha todos eles, come os que quer e deixa o restante ao léu. Você é mimada, e como é. Jogo meus dias no lixo, pra me recuperar das noites obscuras em claro. E tudo por você, e o que você faz? Inexiste. Mesquinha, me nega meu próprio amor; imbui-me na noite. Ah, já não sei mais pra quê isso. Tudo não faz sentido e nada está certo. Você foge e não deixa vestígios; inexiste, mas me perturba. Estou cansado das brincadeiras de esconde-esconde. Vou me levar pra casa e me expor, vou me libertar de suas amarras; dar um fim ao suplício que é não saber de você e de mim. Vou me fundir à noite por completo, me tornar um de seus sopros, tão leves e rápidos. Quem sabe assim eu possa te encontrar ao longe.

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