20 de setembro de 2012

Penha

Tô passando por uma barra. A barra da saia da Penha. Não é nada fácil, meu amigo. Ela é fogosa, ordinária, não se abate. Sai com seus tamancos coloridos rua abaixo, pisa nos paralelepípedos como se fossem piso da roda de samba. Rebola pra lá e pra cá; me hipnotiza. Os lábios carnudos são tão vermelhos quanto os brincos de argola. As angolaninhas sentem inveja dela; não chegam aos seus pés: os tamancos são altos demais. Segue com os antebraços abertos, como um aviãozinho teco-teco. A bolsa falsificada, mais colorida que a visão de alguém alto, segue pendurada como carne de açougueiro no anzol. Tem de tudo dentro dela: desde esmaltes azul-bebê até escovas rosas cheias de cabelos encaracolados, passando pelo suprimento de chicletes, que povoam sua boca e são um de seus vícios. Os homens, claro, são outro. Ah, coleciona corações como se fossem as estrelas no céu. Incontáveis amantes, apenas um amado: o prazer. Adora sambar, andar, comprar, rebolar e namorar. Tudo em ordem inversa e misturado. Faz tudo com um sorriso na boca, e é com ele que recebe os clientes na loja do seu Zé, onde trabalha. Seu Zé, apaixonado por ela, velho bonachão, careca, de camisa aberta e peito cabeludo. Dono da mercearia, sua alegria é quando a Penha chega. Penha, ó, Penha! Queria eu fugir dessa barra, essa roda-gigante, esse carrossel colorido que é a barra da saia, onde tantos passeiam as mãos e olhares, e de onde tantos outros caem. Dá vertigem, minha Penha. Dá vertigem. Seus olhos caramelo são doces demais, fazem mal ao estômago. Mas o que é a vida senão um mal passageiro? Penha, Penha! Não me derrube assim na rua, pois ela é toda sua, Penha, e assim caio em você. Sai logo de vista, antes que eu me perca e não me ache mais fora de você.

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