11 de setembro de 2012

Rompimento


E aí começaram a bater nele como nunca haviam lhe batido antes. Eram socos e pontapés para todos os lados. Ele nem sabia mais se estava no chão ou não, já começava a perder os sentidos. Estava aturdido, machucado, humilhado; só queria morrer logo pra cessar a dor e o sofrimento. Mas não. Num esquecimento divino, seu corpo resistia a tudo e não padecia. Jamais imaginou que fosse capaz de tamanha resistência. Ainda mais agora, que a última coisa que queria fazer era resistir. Queria ceder, entregar-se, como fez a ela. Ah, era tudo culpa dela. Todos aqueles golpes, aquelas dores, o sofrimento. Tudo se devia a entrega de seus pensamentos, corpo e alma à pessoa errada. Onde ela estaria agora? Talvez por aí, enganando mais alguém, mentindo e traindo. Ele fora, já não era mais. Estava em seu passado. Agora sofria as consequências daquela carta.
Cada linha batia nele como um porrete, como se ele fosse nada. Cada palavra o afundava mais e mais no chão, fazia-o se perder, esquecer-se de seu passado antes dela e do futuro sem ela. Ele estava no limbo. Nas bordas da moeda; nem de um lado, nem de outro. Ficou ali, encolhido e com a carta amassada nas mãos, deitado no chão frio da cozinha de sua casa, de onde tinha pensamentos e lembranças que remetiam à ela. Mas agora ela se fora. Aquilo não tinha lhe deixado hematomas, pois hematomas um dia somem. As cicatrizes ficariam muito mais fundas, em seu coração e sua alma. Para sempre. 

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