15 de março de 2013

Menino do farol


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E andava o Joãozinho por entre os carros, com a mãozinha suja estendida para as janelas, pedindo alguma ajuda pra comprar um pão.

Joãozinho não tinha casa, era menino de tudo, não tinha vivido nem seus dez anos quando se viu jogado às sarjetas e disputando espaço com as motos nos buracos entre os carros perfilados nas veias da cidade.
Era pequenino, ágil, mas barrigudinho, por causa da lombriga. Parava na faixa de pedestres assim que fechava o sinal e começava seus malabares. Estava ficando cada vez melhor neles, já nem precisava olhar mais para o semáforo pra ver se estava vermelho ainda.

Numa manhã cinzenta, Joãozinho corria afobado entre os carros, sabendo que o dia não duraria muito, então teria que garantir logo o pão.

Mal viu quando o pneu dianteiro da moto se adiantou contra sua barriga vazia e atirou-o contra um dos carros parados. Sua pequena cabeça se chocou contra a porta lateral, e um filete rubro de vida saiu pela sua narina.

Uma queda de luz às vezes pode fazer com que o vermelho no semáforo chegue mais cedo.