22 de março de 2013

Khumb Mela

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Milhares de tendas se estendem perfiladas pelo campo. São praticamente todas iguais, e estão tão alinhadas quanto casas de um tabuleiro de xadrez.

Inúmeras mulheres, homens e crianças, todos vestidos com trajes coloridos, flores, ou mesmo apenas tangas, peregrinam. Muitos dos homens ostentam enormes barbas e elas são brancas de experiência, amareladas de fumo ou negras de juventude.

Há crianças espalhadas pelos cantos, vestidas com roupas coloridas, muitas com os rostos sujos de terra, descalças. Homens e mulheres deitados ao chão, aguardando.

Enquanto isso, outras milhares de pessoas descem do trem parado na estação e se locomovem em direção aos vários barcos e à ponte flutuante, que as levam até a cidade de Allahabad, antes que elas mergulhem.

Dos céus vem o Ganges, e é nele que as pessoas entram aos milhares para serem purificadas. Seus corpos se banham com as águas milenares do rio sagrado, sob a luz da lua e das várias tochas espalhadas por toda a orla do rio.

Ali, as reações são diversas. Enquanto alguns se banham, outros espalham água, jogando-a para cima, alguns correm ou levantam seus cabelos molhados. Muitos rezam. Os olhos fechados, os rostos concentrados, a água do Ganges sobre seus corpos. Encontram paz no meio do caos da multidão.

Na tenda ao lado, há um homem careca e obeso, com a barba desgrenhada mais negra do que seria a escura noite indiana sem as estrelas, tochas e a lua. Ao seu lado está seu cachorro, tão semelhante a ele que me assusto. Ambos observam a procissão passar em frente à sua tenda, impassíveis.

Um dos peregrinos para em frente ao homem e lhe dá um prato com incenso. O homem obeso apenas move sua cabeça quase imperceptivelmente para baixo e novamente para o lugar de origem, em forma de agradecimento. O outro homem continua sua caminhada, rumo a sua purificação.

O homem obeso acende o incenso, e coloca o prato entre ele e seu cão. Ambos podem voltar a ver a procissão passar.

A paz de espírito não é apenas uma questão de alma, mas sim de atitudes com relação ao próximo. O que não se lava com água, o fogo e o cheiro de incenso são capazes de limpar.