5 de janeiro de 2013

Quarto roxo

Foto original: http://goo.gl/NgdUz

Falta pouco, mas muito pouco mesmo. Ninguém se atreve a dizer algo, todos são estátuas fosforescentes amontoadas em estofados vagabundos. (Esses estofados, às vezes, são pernas e antebraços.) Os rostos pintados como os de um guerreiro aborígene se encontram, beijos silenciosos e de pouca luxúria. No quarto roxo, só há a espera. Falta menos ainda, e as mãos se unem, mãos de unhas esmaltadas em neón que riscam o vento e deixam marcas na pele. O sorriso se alastra, é contagiante e brilha junto da maquiagem neônica. O ponteiro faz algum barulho que não é tique nem taque, é o badalar de uma mudança, e o sorriso persiste nos corpos seminus que estão amigavelmente entrelaçados.
As garrafas estilhaçadas se espalham pelo chão, mas os cortes são superficiais. Não é o foco da questão, e mesmo a dor é engolida pelo silêncio do quarto roxo. Luz roxa, luz de treva que revela essas pessoas imóveis, totens decorados com felicidade. Colares e cocares, chaveiros e isqueiros, todos são astros constelados aleatoriamente na vastidão de onde? Do quarto roxo, e os beijos deixam leves rastros de desejo no ar. O mesmo ar riscado de neón, esse com aroma entorpecente de alguma fruta de nome em inglês. Cranberry, blueberry. Blueberry é mirtilo, mas ninguém quer saber disso nessa espera. Falta quase nada. Os olhos se arregalam, as tintas reluzem, se isso não é magia nada mais pode ser.
O tempo se esgota, alguma rolha de champanhe faz pluc! dois andares acima e os gritos são de esperança, mas muita esperança mesmo.