19 de janeiro de 2013

Erro

Esse texto não foi feito para ser entendido.

Imagem original: http://goo.gl/GsQkf

Uma voz surge de uma descabida gravação aos fundos. Aos fundos de onde? De qualquer lugar, é onipresente. Se propaga pelas máquinas, pelos operários, pelos vendedores, pelos cidadãos. Atravessa todos eles e se faz ser ouvida à força. O que ela diz? Ninguém sabe, mas todos obedecem. E se movimentam, e continuam a se movimentar, nesse ciclo de acorda-dorme impaciente de quem espera pela salvação dessa vida monótona. Monótona como rádio fora de sintonia, bem baixinho. O som de um mar de frequências errôneas que flutua pelos tímpanos, essa voz. Descabida, um peixe atômico fora d'água frequencial. Essa voz continua, vai de um lado ao outro sem ser entendida, mas automaticamente tida como verdade universal.
    É um sorriso ou outro que vive nessa turbulência. O resto se dissolve num eco de algo tão pequerrucho quanto um chiclete pisado no asfalto. E vira asfalto, o sorriso vira asfalto. Pavimenta os passos tristes desse pessoal que obedece algo que desconhecem. Mas a voz continua viva, reluzente, invisível mas reluzente. Suas boca grita, se esgoela, quer ser compreendida em meio à ignorância geral que, movida por ela, comete erros que nunca serão reparados. E macula o espírito, fere a alma, o sorriso vira asfalto. Os pés encardidos pisam e pisam nos sorrisos, nos espíritos, nas almas. Nas próprias almas. A culpa é da voz? Não, não é. Não deveria ser. Nunca.
    A maquiagem bem aplicada nas bochechas ossudas não escondem o sorriso de asfalto, cinza-negro como as roupas da Morte. Nem a gravata, o uniforme, a cinta-liga, esqueça! A voz sabe a verdade, a voz apertada e esbatida como afogada por um pano sabe de tudo, mas não sabe dizer que sabe. E o mundo se lança no desconhecido, cai num abismo asfaltado pela felicidade esquecida dos que deram o sangue pela razão errada. Ouviram a coisa errada.
    Mas chega a ser um fato irônico essa voz não conseguir ser contemplada à luz do entendimento, ela que está tão próxima... Ela que vem do coração de cada um.