6 de dezembro de 2011

Complexo Virtual


Anteriormente na  Cidade Rex
Mínima Ideia: Show da fé                



Carros criavam a sinfonia da avenida, enquanto seus escapamentos liberavam o maior inimigo do século, o monstro invisível subia lentamente em forma de gás, porém não iremos até a atmosfera e sim até o décimo sétimo andar do prédio “Estrela da Colina”.  Tal estrutura continha traços modernos e dois apartamentos por andar, possuía tudo que um prédio poderia ter: parque para as crianças, piscina e áreas de lazer em geral. Nenhum zumbi que habitava aquela estrutura colossal gozava desses ambientes, o grande paradoxo do local já foi retratado em várias mídias onde o nomeavam de “Prédio dos solitários” “Antissociais” ou até os mais sensacionalistas de “Zumbis do Wi-fi”
 Sensacionalismo ou não um dos poucos seres pensantes da Cidade Rex foi estudar o local, seu nome era Luiz um sociólogo renomado. Andava sempre largado, como típico herói de quadrinho só tinha um tipo de roupa, era sempre visto com uma camiseta branca e calça jeans azul. Luiz se lembrava de fatos precisos desde os dez anos de idade quando ganhou de aniversário do seu pai, um velho gravador e algumas fitas, desde então registrava cada pensamento ou qualquer lembrança preciosa. No dia 21/03/2011 foi dividir um quarto com Moacir um zumbi da Estrela da Colina, seus olhos carregavam uma expressão pesada e vazia, suas íris eram o fundo do poço, magricela e alto era o estereótipo do Rei do Halloween, por trás da caixa torácica evidente batia um coração seco que bombeava cafeína, força motriz de tal corpo. O apartamento do zumbi tinha tudo que a vida moderna pede: computadores marcados pela famosa maçã, telas de alta definição  e videogames de ultima geração, o protótipo de cozinha servia mais como estoque de fast food. Luiz dormia no enorme e exótico sofá de couro da sala, gostava de fazer suas anotações de manhã enquanto Moacir dormia, ele que trabalhava como analista de sistemas por toda madrugada acordava durante as 15.30 da tarde para iniciar sua rotina. Seu relógio biológico era totalmente bagunçado, tal comportamento foi tido como padrão pelo pesquisador que constatou observando outros moradores que respondiam a sua pesquisa e que davam liberdade para ele no ir e vir de suas casas. O cientista social demorou para se adaptar a nova realidade mesmo depois de cinco semanas a pesquisa seguia, em geral Luiz era um ser totalmente desprezível na rotina dos moradores ficava de longe observando o comportamento dos animais, macacos enclausurados que viviam uma vida mais virtual do que presencial, sempre o mesmo padrão de luxo com falta do que fazer e muito do que reclamar, mas apenas virtualmente, tais filosofias eram ótimas contudo dentro da rede o que tem utilidade é descartado. Luiz precisava descobrir o que os prendiam lá, era obvio que não era só sede por informação, ou contato com outras vidas online. Dez semana depois, Luiz possuía cinco fitas de 60 minutos gravadas e um bloco de anotações, tentava bater alguma teoria já existente com a situação atual, aquele prédio não era apenas um local de viciados em internet, aquilo passou o limite de vicio virou vida, uma vida montada em vários Terabits. Semana onze, Luiz estava frustrado, olhava para o espelho, molhava a cara e via um zumbi, não sabia o que era luz do sol, seu corpo estava fraco de tanta besteira. Isso é o cumulo do desperdício de vida, ele pensava se afundando cada vez mais no enorme abismo virtual. Lutas virtuais, ninguém nada assume, ninguém nada faz, deu uma ultima volta por um corredor vazio voltando para o apartamento de Moacir acompanhado pela caneta e um bloco. Estava evidente a frustração em seu rosto, carregava um sorriso amarelo deteriorado, não existia mais um herói ali dentro. O companheiro de quarto chegou como de praxe as sete da manhã, com a cara marcada do trabalho, deu as ultimas tragadas no cigarro, deixando a fumaça correr pelo apartamento. Olhou bem para Luiz e disse:
— Você se acha muito mais livre que qualquer um de nós aqui não é Luiz? As vezes eu olho suas pesquisas, o que você anota..  Bem, sua maneira de ver o mundo é bem interessante, mas tão opressora quanto o mundo lá fora, se a sociedade é um reflexo nós somos um borrão, não vamos nunca refletir nada. Olha a janela e respire o ar da Cidade Rex, ele machuca nossos pulmões, somos constantemente abordados por ideias que não são nossas e vomitamos todas elas, apenas para sobreviver. Paradoxalmente a vida de cada “zumbi” aqui é mais livre do que a sua, assimilamos, moldamos e destruímos o que bem entendemos.
— Mas... Dizia Luiz perdido em pensamentos. Moacir aproveitava a deixa:
— Essa cidade constrói e destrói a cada dia, eu sinceramente torço pelo dia em que exista uma quebra no seu processo regenerativo e ela envolvida em sua luxuria pegue fogo de uma só vez, enquanto isso não acontece, observe:
Moacir abria um notebook, a luz emanada pelo objeto era como  o sol. A pele fraca do nosso herói clamava pelo objeto e ele sem hesitar pegou o notebook, com o dedo indicador clicou em “enter” e a máquina saiu da tela de espera. As orbes de Luiz tremiam, sua mente sentia a sensação de ser o criador, o alfa e o ômega. Os neurônios transmitiam uma sensação nova, o poder do big bang bem na palma da sua mão a um clique de distancia. Luiz jogou seu corpo inerte já destruído pelo processo de adaptação aquela sociedade, no sofá de couro esboçou um sorriso amarelo, gargalhando então começou a digitar freneticamente. Não ouviu, mas Moacir disse:
— Bem vindo a família.
--------------------------------------------
ESCAPISMO = desconsideração da realidade.

Ae galera vou postar a ordem da minha série aqui pra quem quiser ler + :

Nenhum comentário: