20 de dezembro de 2011

A moça do vestido escarlate


Escarlate parece mais apropriado.
Carmesim soa muito classudo, e vinho muito vulgar. Vermelho-sangue, então, nem se fala.

Escarlate exprime o que ela era.

Aquela moça, de cabelos lisos, muito lápis no olho – que se unia com a sutil olheira de quem costuma não dormir direito – e andar ébrio era escarlate. Como seu vestido.
Parecia ter chegado só à festa, ao mesmo tempo em que inspirava conhecer a todos e simplesmente não queria cumprimentar o mundo de gente. Sentou em uma das poltronas e logo sorriu para um ou dois homens. Estava enturmada.

Em uma fração de segundo, estava com um cigarro alheio de menta em uma mão e cartas de baralho na outra. Em uma roda de pôquer, tinha um sorriso discreto de quem tinha um flush na mão ou só queria ir pra cama com alguém. Era blefe. Nem sabia o que era um flush, e pouco se importava com sexo naquela noite. E com o que ela se importava? Nunca saberei.

Às vezes, os olhos de cor indefinidamente escura me miravam. Sua boca podia não estar sorrindo, mas os olhos sempre estavam. Os cílios estavam abertos a negociações. E quando um deles caísse, seguraria com seu dedo e me faria colocar um dedo em cima. Diria para eu pensar em um segredo.
E quem ficasse com o cílio no dedo teria o desejo realizado.

E ela ficaria com o cílio. Eu a deixaria ficar.

Minha noite foi estragada, arruinada pela moça do vestido escarlate. Ela nem ao menos bebia, só agia como alguém com muito álcool e pouco senso no cérebro. Talvez, lá no fundo, só quisesse rir da cara de quem procurava um sentido para ela. Uma razão para ela estar ali, fumando cigarros de menta e jogando cartas. Uma razão para ela sempre estar sorrindo. Uma razão para ela estar naquela festa, quiçá uma razão para ela existir.
Ela ria, ria e ria dentro de seu vestido escarlate. Ria porque não fazia sentido algum, e não queria fazer. Ria porque a atribuíam nomes e histórias, e ela não era nada daquilo.

Ela era cativante, sim. Um pouco estranha, também. Parecia não se importar com o coração dos outros, e tampouco ligava para o dela. Tinha olhos feitos para enevoar pensamentos. Ela era tudo isso para mim. E ela achava que não era nada.

E por causa dessa noite perdida pensando em tudo que ela era e podia ser, acabei me perdendo. Quando me dei conta, aquela mulher, tão completa e tão incrível, tão só e tão amada, tinha se tornado só uma vaga lembrança. Um vestido escarlate, que não verei tão cedo. Nunca mais verei, provavelmente.

(O que me importa pouco, pois seu sorriso já vale por uma vida. E o sorriso dela seria meu único desejo se por acaso eu ficasse com o cílio.)

(Mas nessa vida, quem ficou com o cílio foi ela. E tenho quase certeza de que ela desejou nunca ver uma pessoa mais de duas vezes, para que não precise rir da mesma piada e acabar gostando dela.)

(Eu a concedo esse desejo. Se a fizer feliz, faço o que puder.)

(Independente de onde estiver.)

(Se estiver.)

(Se existir.)

Dedicado a uma moça que desejo – do fundo do meu cílio – ver mais de uma vez. E ver muito mais do que “mais de uma vez”. Parabéns, Lolo.

3 comentários:

Brenda!! disse...

Eu a concedo esse desejo. Se a fizer feliz, faço o que puder. perfeito!

Danny Lopes disse...

Parabéns pelo blog, Estou te seguindo
www.yessomosdivas.blogspot.com

Heloá disse...