27 de julho de 2011

Você se lembra?


 Sabe quando simplesmente você acorda e sente um vazio estranho? Não, não é fome, pelo menos eu sei que não. Depois de tudo, o tempo parece que passou rápido demais. Olho para as paredess do meu quarto, as da sala... elas são cheias de fotografias, como se eu quisesse realmente enfiar uma ideia de quem eu sou na minha cabeça, talvez para enfrentar esse vazio que eu sinto ao acordar. Eu não sou psicólogo, ele aqui é você, então vou começar logo...(...)
O velho de quase dois metros deitou em uma posição confortável no divã, com as mãos em cima do peito que carregava algumas mágoas e poucas vitórias. Olhava para cima com frequência, evitava fitar diretamente para o homem à sua frente que mais parecia uma estátua do que um médico. O velho não sabia o motivo, mas lembrar era uma tarefa árdua. No entanto, ele ensaiou, tomou sua Kriptonita e decidiu procurar ajuda para o seu problema. Passou a mão na testa, suspirou e voltou a falar:
  Eu sou D'Artagnan, ao menos é isso que eu acho . Nasci com o mosquete em mãos, fui treinado desde pequeno, sou aquele cara que de vez em quando aparece nos jornais e noticiários da cidade desde salvando gatos presos em árvores até impedindo pequenos roubos. Não sou rico, não sou um Batman da vida, recebo algumas condecorações, uns prêmios e me privo de muitos luxos. O verdadeiro problema é que certo dia eu fui atrás de um ladrão que acabava de roubar uma senhorita na avenida principal. Eu sei onde os ratos se escondem, então saquei meu mosquete e corri atrás do rato até minhas entranhas queimarem, para onde foi todo meu fôlego?
Suspirou novamente, tentava não lembrar, mas precisava pois isso trouxe o dilema de sua existência. Tomou fôlego e voltou à luta.
  Cansado, ele não portava arma de fogo. Bradei: "Filho, larga essa bolsa! Você não precisa tornar isso doloroso!" Engraçado, os jovens ratos nunca escutam os mais velhos — O velho sorriu mostrando os dentes amerelados. Seu semblante foi tomado por uma alegria instantânea ao relembrar o momento de glória. — Parti para cima dele e com cinco sopapos bem dados ele foi ao chão. A senhorita chegou logo depois aos prantos, entreguei-lhe a bolsa quando aqueles olhos começaram a brilhar, ela sorria em meio a soluços: "Pai..papai, onde você esteve todo esse tempo?" Algo me atingiu no fundo e levantou esse Vazio, a única coisa que eu consegui fazer foi correr para longe, bem longe daquele vazio enquanto eu tentava recordar alguma memória da garota. Eu tentava me recordar mais não conseguia. (....)

Chegando ao meu apartamento, olhei todas as fotografias. Eu não possuía uma família, mas lembrei que possuía um velho diário guardado em uma gaveta trancada juntamente com a minha kriptonita, cápsulas de controle. Consegui dar uma breve lida no diário antes das lágrimas rolarem. Lá dizia que meu nome era "Miguel Soares", que eu fui um professor ótimo de esgrima, tinha uma mulher e duas filhas, e que fui diagnosticado com Alzheimer há praticamente três anos. Nos meus relatos eu não conseguia aceitar a ideia de que ia me esquecer de tudo daqueles que eu amo, e que provavelmente eu iria virar um vegetal em uma cama. (...)
 Então eu, com o tempo que me restaria, tentaria fazer um mundo melhor para aqueles que amo. Tenho certeza que essa doença vence meu corpo cada dia mais, pois só me lembro disso porque tomei as cápsulas. Pouco tempo me resta, e eu não quero ser um vegetal impedindo a vida da minha família. Nas páginas finais do diário, dizia que eu me despedi devidamente (...)

 No final, existem várias maneiras de lidar com uma situação: Você pode ver isso do lado positivo ou negativo, mas provavelmente toda decisão que você pensará em tomar  terá seu lado bom e ruim. Descobri que a causa do vazio é esse amor reprimido pela minha família, que de alguma maneira é mais forte que memórias de um cérebro degenerado, e essa será a energia que me impulsionará a lutar contra esse monstro que está alojado no meu cérebro. Porém, essa dúvida sempre irá me perseguir: Eu agi certo abandonando minha família, possíveis amigos, trocando uma vida por Outra?
Alguns minutos de um pseudo-silêncio sagrado tomaram conta da sala enquanto o psicólogo terminava de tomar suas notas sobre o singelo caso do paciente. Quando a estátua ia abrir a boca para concluir o caso, o velho olhou para o mesmo com olhos empapuçados atrás dos óculos e disse: 

— Quem é você?
--------------------------------------------------------------------

Bom pessoal, to começando uma nova série aqui no blog, espero que gostem e sejam bem vindos a “Cidade Rex¹!” Alzheimer é um assunto sério e eu vou passar alguns dados do que pode ser feito para diminuir ou mesmo evitar a doença:
¹ Rei em Latim.


- A inclusão de fruta e vegetais, pão, trigo e outros cereais, azeite, peixe, e vinho tinto, podem reduzir o risco de Alzheimer

-Atividades intelectuais como ler, escrever com a mão esquerda, disputar jogos de tabuleiro (xadrez, damas, etc.), completar palavras cruzadas, tocar instrumentos musicais, ou socialização regular também podem atrasar o início ou a gravidade do Alzheimer.

- Reduzir ao máximo o contato de alimentos com o alumínio, Ele está presente em panelas que armazenam as sobras do almoço para o jantar, ou vice-versa. Ao ficarem na geladeira, por exemplo, aos poucos a panela solta pequenas partículas de alúminio que contaminam o alimento, dê preferência por armazenar as sobras em recipientes de plástico, e volte para a panela somente quando for aquecer. 

-Evite também o uso excessivo de papel alumínio para embrulhar os alimentos, sobretudo em lanche para as crianças. 

-Dê preferência por potes de plástico, que além de conservar melhor o alimento sem amassá-lo, evita o gasto com o papel e ajuda a natureza na hora de reciclar, reduzindo o lixo produzido.

-Existe uma relação inversamente proporcional entre a prevalência de demência e a escolaridade. Nos indivíduos com oito anos ou mais de escolaridade a prevalência é de 3,5%, enquanto que nos analfabetos é de 12,2%

Caso tenha alguma dúvida ou suspeita procure se informar nos links abaixo e se informar com um profissional que irá avaliar o caso e o tratamento correto.

Abraços




7 comentários:

Anônimo disse...

gostei

Rômulo disse...

Obrigado ;D

Anônimo disse...

de nada :)

@laismoltene disse...

Ameei o texto, e o personagem principal me lembrou um pouco o Dom Quixote *-* adorei o modo como você tratou o assunto e o sentimentalismo que há dentro da narrativa, meus parabéns, mais uma vez me surpreendeu.

Anônimo disse...

Muito bom o texto ta d enota 10... ;)

Pra sempreee disse...

Seguindo... mto bom!

Segue:
http://prasempreee.blogspot.com

Bjo

Rômulo disse...

Muito obrigado Waliff, estou seguindo seu blog e do XX e XY =D