4 de abril de 2013

Sons- O Silêncio.


Olá Escuridão, minha velha amiga.


Cada noticia no jornal antes de desligar a maldita TV era uma facada. Eram tempos em que havia uma guerra se anunciando, um planeta morrendo, um messias se recusando a voltar... E a aquela praga de aparelho decidia me dizer coisas tão menos importantes que eu realmente me indagava do porquê eu ainda não o tinha vendido... Me indignava de como aquele jornalista podia ser tão vendido. Uma das Coreias se preparava pra bater nos donos do mundo.
Um dos meus astros favoritos havia morrido. Semanas depois anunciaram que meu whisky favorito estava pra ser extinto! Deixar de ser fabricado porque não tinha mais água na reserva... Pra que diabos esse mundo ainda 'tava girando era uma coisa que eu me perguntava todo dia... Ai a razão entrava pela porta da sala, desligava a caixa falante e ficava me encarando até que eu desabafasse alguma coisa.

-A verdade é que em algum lugar do caminho a porra toda se perdeu... O mundo tá indo pro vinagre já faz tanto tempo que não consigo mais acreditar em... hum... PORRA! Não consigo mais acreditar em nada. Não hoje. Hoje a coisa toda tá tão complicada que pode mesmo ser o fim.

-Então pega um copo e deita no meu colo, anjo. Se o mundo estiver mesmo indo pro fim e tudo mais... Eu realmente não consigo imaginar uma forma melhor de passar os últimos momentos.
-Mas e se ele não estiver? E se eu deitar e quando abrir os olhos ainda existir um mundo lá fora?! E se for tudo uma mentira e as coisas não acabarem?!
-Então a gente vê o que faz amanhã de manhã, se ainda existir mundo. Se ainda existir alguém além de nós... Mas agora não.

Eu segurei a mão dela e finalmente entendi...

-Agora a gente vai deitar aqui e esquecer que o mundo existe...
-Isso. Agora seremos você, eu, a escuridão e o som do silêncio.
-Parece que talvez o mundo ainda tenha salvação...

Ela riu, alisou meus cabelos e todo o resto foi escuridão... O som do silêncio, coxas de mulher, uns goles e a escuridão.