26 de abril de 2013

Encontro inoportuno

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Continuação de Despedida indesejada (clique para ler)

“Quando você me deixou, meu bem, me disse pra ser feliz e passar bem.
Quis morrer de ciúmes, quase enlouqueci.
Mas depois, como era de costume, obedeci.”
Chico Buarque – ‘Olhos nos Olhos’

O tempo passou, as feridas ainda doíam, mas eu já estava um pouco melhor.
Eu já havia arrumado minha casa, comprado novos móveis. Minha barba estava feita e comecei a correr no parque. E foi numa de minhas corridas pelo Ibirapuera que a encontrei. Aliás, que as encontrei: ela e minha memória dolorosa.
- Nossa! Como você está? – perguntou ela, espantada pela minha mudança.
- Estou bem, e você? – olhei-a nos olhos, que me fugiram, assustados. Nosso último encontro não havia terminado muito bem. Ela fugira de meu apartamento, jurando que seríamos amigos, mas nunca mais deu notícias. Dois anos haviam se passado desde então.

- Tô indo. Caminhando um pouco, né? Sempre bom.
- Sei como é.
- Mas e aí, você tá muito mudado!
- Só um pouco. Tô tentando me curtindo e me cultivar um pouco, sabe? O golpe foi duro, mas como você pediu, estou passando bem, e feliz.
- Fico feliz em ouvir isso. De verdade. – me sorriu como há muito tempo ninguém me sorria.
- E você mudou também, mas continua linda.
- Obrigada. Acho que na verdade eu só envelheci um pouquinho mesmo. – deu uma risada e ajeitou seu cabelo, pontuando o final da frase com a jogada dele para trás de sua orelha.
- Juro que você está igual a quando eu te vi pela última vez. Por que fez aquilo? – não me aguentei, e perguntei de supetão.
- Estava com medo.
- Medo de quê? De mim?
- Não. Medo de mim. De nós, na verdade. Do caminho que a gente estava tomando. Não queria aquilo para nós naquele momento.
- Por que não me falou? Por que fugir de mim?
- Já disse. Fui boba. Errei.
- Entendo. Mas por um lado até que foi bom pra mim. Mudei muito desde aquele dia.
- Dá pra perceber.
- Bom, então deixa eu ir lá, que ainda falta meia hora de corrida. Bom te ver. – disse, já me virando para o outro lado.
- Você também. – ela disse, quase gritando. Nunca mais a ouviria.
Corri durante duas horas a mais do que de costume naquele dia.
Ainda assim não consegui fugir de sua presença.