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As
janelas da alma de Fydor sempre foram abertas.
Seus
olhos claros e espertos buscavam freneticamente apreender o mundo, observando-o
e o absorvendo. Morava na cidade de Graz, no oeste da Áustria. Tinha um belo
jardim fronteiriço em sua casa, no qual se sentava em sua velha cadeira branca
quase todas as noites, e ficava observando as estrelas.
Imaginava
se ela seria uma delas. Sua amada Adabel, que morrera alguns anos antes,
abandonando-o com seu jardim, suas flores, suas estrelas e as lembranças de
todos aqueles anos. Queria tê-la de volta, ao menos por um dia.
Meio
cambaleando e com muita dor, Fydor voltou à sua casa e se olhou no espelho. Já
não era o mesmo rosto de sempre. Estava mudado, diferente, embaçado. Não
conseguia se ver direito, mas não era de todo mal. Sentia-se outro, alguém que
ele um dia já fora. Sentia como se estivesse na presença de alguém muito
querido.
-
Adabel? Minha linda estrelinha... Que saudade eu tenho de você. Não me importo
de não ver o mundo direito, contanto que eu possa te ver.
Ouviu
uma voz como se viesse de dentro de seu olho, que lhe dizia:
-
Não posso ficar muito tempo, Fydor. Preciso ir embora, mas quis te fazer uma
última visita.
-
Não vá, Adabel, por favor – os olhos de Fydor estavam embaçados, mas agora era
por causa das lágrimas que lhe caíam pelo rosto.
-
Tenho que ir, meu amor. Prometo te amar pra sempre, e esperar por você.
-
Eu também vou sempre te amar.
E
assim, a voz sumiu, a dor voltou ao olho, e a realidade caiu sobre os ombros de
Fydor. Estava com catarata, mas era algo especial. Era estelar. Era Adabel. Ela
lhe esperaria, e isso o confortava.
Fydor
operou a vista, mas aquela estrela que surgiu em seu olho, sua Adabel,
permaneceria para sempre com ele. Na impossibilidade de amar com os olhos, o
coração toma o lugar da vista.