12 de abril de 2013

A estrela da alma

notícia original: http://glo.bo/13UbGJp

As janelas da alma de Fydor sempre foram abertas.

Seus olhos claros e espertos buscavam freneticamente apreender o mundo, observando-o e o absorvendo. Morava na cidade de Graz, no oeste da Áustria. Tinha um belo jardim fronteiriço em sua casa, no qual se sentava em sua velha cadeira branca quase todas as noites, e ficava observando as estrelas.
Imaginava se ela seria uma delas. Sua amada Adabel, que morrera alguns anos antes, abandonando-o com seu jardim, suas flores, suas estrelas e as lembranças de todos aqueles anos. Queria tê-la de volta, ao menos por um dia.
Após o que lhe pareceu uma eternidade, resolveu se levantar e voltar para dentro de casa. Já passara da hora de dormir. Enquanto levantava, o vento fez com que um galho de uma das árvores viesse em direção ao seu olho, acertando-o como um soco.

Meio cambaleando e com muita dor, Fydor voltou à sua casa e se olhou no espelho. Já não era o mesmo rosto de sempre. Estava mudado, diferente, embaçado. Não conseguia se ver direito, mas não era de todo mal. Sentia-se outro, alguém que ele um dia já fora. Sentia como se estivesse na presença de alguém muito querido.

- Adabel? Minha linda estrelinha... Que saudade eu tenho de você. Não me importo de não ver o mundo direito, contanto que eu possa te ver.

Ouviu uma voz como se viesse de dentro de seu olho, que lhe dizia:

- Não posso ficar muito tempo, Fydor. Preciso ir embora, mas quis te fazer uma última visita.

- Não vá, Adabel, por favor – os olhos de Fydor estavam embaçados, mas agora era por causa das lágrimas que lhe caíam pelo rosto.

- Tenho que ir, meu amor. Prometo te amar pra sempre, e esperar por você.

- Eu também vou sempre te amar.

E assim, a voz sumiu, a dor voltou ao olho, e a realidade caiu sobre os ombros de Fydor. Estava com catarata, mas era algo especial. Era estelar. Era Adabel. Ela lhe esperaria, e isso o confortava.

Fydor operou a vista, mas aquela estrela que surgiu em seu olho, sua Adabel, permaneceria para sempre com ele. Na impossibilidade de amar com os olhos, o coração toma o lugar da vista.