20 de abril de 2013

SRS. PICHADORES


      Não aprendi com os erros, os erros foram aprendidos.
      Sou um engano, um erro genético que nasceu com esse tal de raciocínio. Na infância, mais da metade das pessoas é um gênio em potencial. Mas crescemos e nos tornamos idiotas.
      Vi as frases acima pichadas em algum muro. Não sei dizer onde, nem mesmo se o muro existe. Talvez minha mente seja um muro pichado, todo cheio de sujeira, spray a esmo por uma extensão de muralha chinesa. Falas inteligíveis misturadas a desenhos que não sei trazer ao papel; músicas sem partitura bem ao lado daquelas palavras eternas que estão descascadas.
      Desabafos mudos.
      Mudaram o meu mundo.
      Me fizeram perceber a dor, o amor e o que há entre eles e que não tem nome (mas, se tivesse, igualmente terminaria em -or). E, nossa, isso é lobotomia. Massa cinzenta cauterizada, é só não pensar no terror. Sua mente vai se focando em reality shows e em criticar o preço do tomate; E SÓ.
      Críticas vazias, programas vazios, mente vazia.
      Mente muda.
      Sim, a mente muda. Giramos, o Sol some, reaparece, nunca paramos de girar. Proporções primitivas do cérebro se salvam do carrossel. Armazenam o pouco que vale a pena: As citações de Shakespeare, versos d'A Divina Comédia; trechos de Pulp Fiction e Luzes da Ribalta; a melodia de Lennon, a melancolia de Beethoven. Um caldeirão no fundo de um abismo. Inalcançável, e por isso erramos.
      Os erros flutuam na superfície do cérebro; emergem com a delicadeza de uma baleia em busca de ar. E colidem com as paredes, os muros, as muralhas chinesas. Tudo cai, desmorona, e nada faz sentido no fundo do abismo.