Imagem original (sem cortes): http://glo.bo/109jUse |
Dasha
estava em seu luxuoso apartamento em Grozny, bebendo um copo de uísque on the rocks, sentada em sua bela
poltrona de couro, observando a janela que dava para a cidade. Era uma mulher
alta, com seu 1,80m de altura e tipicamente russa, com seus olhos azuis
transparentes, sua pele clara e seus cabelos loiros. Em sua infância, fora uma
menina desengonçada, mas assim que atingira a puberdade, os homens começaram a
reparar muito nela. Vinha de uma família pobre de Gudermes, a alguns
quilômetros daquele prédio onde estava agora, seus pais eram agricultores e
muito humildes.
Ao
terminar sua fase escolar, decidiu se mudar para Grozny, e tentar uma vida
diferente daquela que seus pais tinham. Tinha o sonho de ser famosa. Estudou
muito, se esforçou, mas não conseguiu nada mais do que um emprego medíocre de
garçonete em uma lanchonete minúscula num bairro mais afastado do centro da
cidade. Morava junto com mais duas meninas, que também haviam vindo de outras
cidades tentar a sorte por ali. Uma delas se chamava Mila, e tinha cabelos
ruivos rebeldes. Sempre andava com roupas mais chamativas, e gostava de agradar
os homens ao seu redor. Mila e Dasha trabalhavam na mesma lanchonete, e um dia
surgiu um cliente meio perdido por ali, chamado Misha. Misha era um grande
empresário russo, dono de uma grande rede de postos de gasolina. Instantaneamente
Mila foi até ele, e buscou atendê-lo de maneira muito mais carinhosa do que o
habitual. Misha não ligou muito para os encantos dela, pois desde que entrara
na lanchonete, só tinha olhos para Dasha. Assim, aproximou-se dela, e quis seu
telefone. Dasha disse que não tinha um aparelho (o que era bem verdade. Quase
não tinham o que comer no apartamento, que dirá um aparelho telefônico).
–
Você é muito bonita para trabalhar numa espelunca dessas. – Misha disse,
apanhando a mão de Dasha com ternura.
–
Mas é o emprego que eu consegui, e eu estou feliz com ele. – Dasha sabia muito
bem que não estava feliz com aquele emprego, nem com o rumo que sua vida
tomara, mas não gostara daquele homem de olhos cinza.
–
Eu posso te conseguir um emprego muito melhor, minha pequena. – cada vez mais
próximo, Misha nem notava para a pobre Mila, que de bom grado teria saído com
ele daquela lanchonete naquele instante se ele pedisse.
–
Não sei se poderia aceitar.
–
Vamos, você deve aceitar. Venha comigo...
Às
vezes Dasha queria se esquecer totalmente de como aqueles últimos cinco anos
haviam se passado. Inúmeros xingamentos, brigas, traições e cicatrizes
separavam-na daquela menina quase inocente da lanchonete. Viver com Misha havia
sido um inferno desde o começo, mas ela não sabia mais como fugir daquilo.
Tinha
tudo o que queria, menos felicidade.
O
copo de uísque pendia em sua mão, enquanto ela fomentava cada vez mais aquela
ideia que havia sido plantada em sua mente algumas semanas antes. Estava no
último andar daquele alto prédio. Seria um pulo não para a morte, mas para a
libertação. Nada mais a prendia a esse maldito lugar. Seus pais haviam morrido
assassinados dois meses antes, não tinha filhos, não tinha amigas, não tinha
vida.
Não
estaria tirando nada de si.
Atirou
o copo em direção ao espelho da enorme sala e rumou decididamente para a
janela. Misha teria uma bela surpresa quando chegasse da reuniãozinha com a
prostituta de hoje. Teria suas curvas pela última vez sob a vista de seus olhos
cinzentos; suas curvas estariam demarcadas por giz na calçada vários metros
abaixo. Já podia vislumbrar sua pálida face sem vida na capa dos jornais do dia
seguinte, e nos sites pelo mundo todo. Finalmente seria famosa.
Quando
chegou à janela, viu a densa fumaça preta se levantando dos andares inferiores
do prédio. Entrou em desespero e amaldiçoou a causa do incêndio.
Justo
no seu dia de glória aquilo estava acontecendo?
Resolveu
descer as escadas e escapar do incêndio. Deixaria seu plano para outro dia, em
que não houvesse nada para lhe atrapalhar. Morrer queimada não estava nos seus
planos. Seu vestido não combinaria tanto assim se derretido com sua pele.
A vaidade às vezes pode salvar vidas.