5 de abril de 2013

As chamas de Grozny

Imagem original (sem cortes): http://glo.bo/109jUse


Dasha estava em seu luxuoso apartamento em Grozny, bebendo um copo de uísque on the rocks, sentada em sua bela poltrona de couro, observando a janela que dava para a cidade. Era uma mulher alta, com seu 1,80m de altura e tipicamente russa, com seus olhos azuis transparentes, sua pele clara e seus cabelos loiros. Em sua infância, fora uma menina desengonçada, mas assim que atingira a puberdade, os homens começaram a reparar muito nela. Vinha de uma família pobre de Gudermes, a alguns quilômetros daquele prédio onde estava agora, seus pais eram agricultores e muito humildes.

Ao terminar sua fase escolar, decidiu se mudar para Grozny, e tentar uma vida diferente daquela que seus pais tinham. Tinha o sonho de ser famosa. Estudou muito, se esforçou, mas não conseguiu nada mais do que um emprego medíocre de garçonete em uma lanchonete minúscula num bairro mais afastado do centro da cidade. Morava junto com mais duas meninas, que também haviam vindo de outras cidades tentar a sorte por ali. Uma delas se chamava Mila, e tinha cabelos ruivos rebeldes. Sempre andava com roupas mais chamativas, e gostava de agradar os homens ao seu redor. Mila e Dasha trabalhavam na mesma lanchonete, e um dia surgiu um cliente meio perdido por ali, chamado Misha. Misha era um grande empresário russo, dono de uma grande rede de postos de gasolina. Instantaneamente Mila foi até ele, e buscou atendê-lo de maneira muito mais carinhosa do que o habitual. Misha não ligou muito para os encantos dela, pois desde que entrara na lanchonete, só tinha olhos para Dasha. Assim, aproximou-se dela, e quis seu telefone. Dasha disse que não tinha um aparelho (o que era bem verdade. Quase não tinham o que comer no apartamento, que dirá um aparelho telefônico).

– Você é muito bonita para trabalhar numa espelunca dessas. – Misha disse, apanhando a mão de Dasha com ternura.

– Mas é o emprego que eu consegui, e eu estou feliz com ele. – Dasha sabia muito bem que não estava feliz com aquele emprego, nem com o rumo que sua vida tomara, mas não gostara daquele homem de olhos cinza.

– Eu posso te conseguir um emprego muito melhor, minha pequena. – cada vez mais próximo, Misha nem notava para a pobre Mila, que de bom grado teria saído com ele daquela lanchonete naquele instante se ele pedisse.

– Não sei se poderia aceitar.

– Vamos, você deve aceitar. Venha comigo...

Às vezes Dasha queria se esquecer totalmente de como aqueles últimos cinco anos haviam se passado. Inúmeros xingamentos, brigas, traições e cicatrizes separavam-na daquela menina quase inocente da lanchonete. Viver com Misha havia sido um inferno desde o começo, mas ela não sabia mais como fugir daquilo.

Tinha tudo o que queria, menos felicidade.

O copo de uísque pendia em sua mão, enquanto ela fomentava cada vez mais aquela ideia que havia sido plantada em sua mente algumas semanas antes. Estava no último andar daquele alto prédio. Seria um pulo não para a morte, mas para a libertação. Nada mais a prendia a esse maldito lugar. Seus pais haviam morrido assassinados dois meses antes, não tinha filhos, não tinha amigas, não tinha vida.

Não estaria tirando nada de si.

Atirou o copo em direção ao espelho da enorme sala e rumou decididamente para a janela. Misha teria uma bela surpresa quando chegasse da reuniãozinha com a prostituta de hoje. Teria suas curvas pela última vez sob a vista de seus olhos cinzentos; suas curvas estariam demarcadas por giz na calçada vários metros abaixo. Já podia vislumbrar sua pálida face sem vida na capa dos jornais do dia seguinte, e nos sites pelo mundo todo. Finalmente seria famosa.

Quando chegou à janela, viu a densa fumaça preta se levantando dos andares inferiores do prédio. Entrou em desespero e amaldiçoou a causa do incêndio.
Justo no seu dia de glória aquilo estava acontecendo?

Resolveu descer as escadas e escapar do incêndio. Deixaria seu plano para outro dia, em que não houvesse nada para lhe atrapalhar. Morrer queimada não estava nos seus planos. Seu vestido não combinaria tanto assim se derretido com sua pele.

A vaidade às vezes pode salvar vidas.