9 de fevereiro de 2013

Catástrofe Sideral

Original
Artista:  http://mistertrece.deviantart.com/
           
       Da série: Poeta mudo não muda o mundo.
     Pensamentos e outros registros.
            Uma fila, catraca, outra fila, vagão, mais uma fila, escadas, mais uma outra fila, longa espera... Bilhete único, e finalmente um lugar sagrado dentro do ônibus. A vida pode não estar fácil, mas em qualquer situação que você estiver ela vai sempre piorar quando chover. Ultimamente as pessoas criaram uma aversão estranha aos pingos da chuva, pouca gente consegue imaginar esse fenômeno como aquelas cenas românticas, as quais geralmente o casal se beijava por um longo tempo debaixo daquela chuva torrencial, deve ser porque no meu país é muito melhor evitar um possível resfriado, contar com a saúde pública é um tiro no escuro, e entre outros fatores como trabalho e vida social. É, deve ser realmente por isso que todas as janelas desse micro ônibus estão fechadas.
               O vidro começa a pingar também, parece que ninguém tem muita sorte. Os seres humanos que ali estão começam a se apertar, formando uma imensa massa social, a qual tem apenas um único desejo: voltar para casa. Estamos inseridos nesse universo, em nossa luta diária, onde ninguém sentirá dó ou vai se comover. Um exemplo disso é aquela moça de cabelos castanhos fingindo dormir no assento preferencial enquanto um idoso e sua boina gasta o pouco do que lhe resta do cálcio nos ossos... Opa, pera, olha eu errado, ela acabou de se levantar e cedeu o próprio lugar. Entretanto ela apenas se levantou porque vai descer no próximo ponto. Astuta, porém errada. 
            Esse tipo de atitude me lembra aqueles pseudo salvadores do mundo, querem protestar, fazer e acontecer 'blábláblá o sistema é uma merda' e jogam lixo no meio da rua, não respeitam o lugar preferencial.  Eles se esquecem que a revolução começa corrigindo as pequenas atitudes diárias a ponto de se tornar um ser humano com mais empatia. O triste é eu saber que conheço poucas pessoas que pensam assim, e mais triste ainda é ser testemunha ocular desse rapaz saindo do nosso microcosmo rumando na rua alagada, será que a culpa é do bueiro ou nossa? 
                O devaneio é eterno aliado da nossa estagnação social, o nosso 'tá ruim mas tá bom', sequer faz algum sentido, enquanto nossa prioridade for a satisfação dos desejos mundanos e apenas eles, nosso mundo não vai mudar. Pois para que o mundo mude é preciso que o coração das pessoas mude.
                 E jamais fique mudo.
                 Jamais fique mudo para podermos gritar pelos nossos direitos que descaradamente são violados. Para que nosso coração possa sempre bater pelo certo, mesmo que o caminho certo seja o mais difícil, assim mantendo nossa honra intacta.  As rodas do ônibus abrem passagem pela água suja, e meu sonho é que o mundo possa aprender; que qualquer adversidade pode ser superada, e esmagada caso seja necessário.