29 de setembro de 2013

Nemo


 Infância.  
Início,
emergido do caos.

Era um universo conturbado, cheio de estrelas cadentes e nuvens tóxicas púrpuras, que tornavam a escuridão ao redor um berço familiar. Uma nuvem em especial se chamava Andrômeda, e eu carinhosamente a chamei de mãe.



Nas tensões interiores de seu ser, eu me formava, agitado como um animal selvagem engaiolado, entretanto ela se mantinha serena, cantarolando a sinfonia do universo enquanto escovava suas longas madeixas de cobre. 



Ela compreendia, o que eu nunca quis aceitar, que o destino é implacável até para o rei solar.

Prazer,
Sol ou astro rei,
do que? nem eu sei.
E quando chegou o grande momento, eu tremi de medo, o Maestro da sinfonia decidira que eu estava pronto, mas na verdade não. Ninguém está certamente preparado para nada, somente chances atreladas ao incerto com esperanças ingênuas de sucesso.

Orbitando em minha falta de fé, Andrômeda me tomou nos braços esbranquiçados e olhou para o âmago do meu ser. O olhar que nunca esquecerei, sem nenhuma palavra aquilo não justificava um adeus, trouxe seus lábios perto da minha bochecha dourada e quente e enquanto os repousava em minha pele ela desabrochava lentamente para o infinito. 

Então, nasci, angustiado e descontrolado, desintegrando qualquer coisa ao meu redor. E os planetas plebeus me adoravam por medo, curvavam-se e me aplaudiam, e enquanto a sós me repudiam. Dourado da destruição, tudo que a fúria dos meus raios tocavam desfaleciam como um beijo atômico.
O Rei dourado
supremo honrado
em seu trono solitário.
Como posso governar o destino de todos os seres, se não entendo o meu? Eu estava cansado, liderar uma galáxia não era fácil. As confusões, as ladainhas e a imensa rotina me angustiava cada vez mais. Eu já não tomava cuidado para conter meus raios, que destruíam indiscriminadamente. Para que conter esse fogo ineficiente? 

Aos poucos pelo temor meu poder se consolidava, era aquilo que meu destino conclamava? Sou o único brilho nessa profunda escuridão, e já não aceito mais nenhuma explicação. Perguntas movidas pelo drama de ser o que sou, podia eu então mudar meu rancor? 

Decido pela liberdade, abandonar a coroa flamejante e perambular pelo espaço errante, qual o seu limite? Eu não tinha limite e não queria ter. Foi quando decidi abdicar que Júpiter interviu. 

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