12 de setembro de 2013

cinco por cinco

Original: DeviantArt.

escuto a noite chegar
e ela não vai embora.
puxa a cama de baixo,
deita-se,
ronca.
não me deixa dormir.

você é obrigado a sorrir
e rasga seus lábios nesse esforço.
sorrisos
feridas
gargalhadas
e vinte pontos nas bochechas.
ninguém quer saber como consegui essas cicatrizes.

a cama é um ácaro gigantesco
onde repouso ossos que se cansam
da necrosão da inércia
da inanição do ócio
da iniciação ao ódio.

rastejo em cinco metros quadrados
e como
e me esqueço de tomar banho
e como
F5
como
Mulder
como
Scully
durmo
e o banho?
como
como
como pode isso?
como posso com isso?

o Sol
o Sol não entra aqui
ele não quer entrar.
as janelas ficam abertas e ele não entra.
só a noite me usa de albergue.
e me suga.
paga sua mensalidade
com sofrimento.

(coral cantando no céu de sangue
há fogo em todas as paredes

tem sido assim há dias
sem plateia
sem câmera escondida
sem pegadinha
sem telegrama legal
sem nada legal
arrasto os pés pelo chão
poeira que se agita
piso gélido
um túmulo de
5x5m².
amém?

(vocês vão tocar Pristina em meu funeral.
I'm watching you.
I'll be with you.)