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Um dia começou a chover pães de queijo
na cidade. Sim, pães de queijo, daqueles bem gostosos. Como eu sei disso? Bom,
se dizem que se você estiver na chuva, é para se molhar, se você estiver na
chuva de pães de queijo, é para comer pães de queijo.
No começo eu achei meio estranho
aquilo, sabe? Até então, era um dia normal na cidade de Muzambinho. Eu andava
tranquilamente pela rua de casa, voltando do trabalho na padaria do seu
Antonio. Sim, também é Antonio sem acento. Vou fazer o que? Foi assim que
registraram o homem. Bom, voltava eu da padaria, quando, já na rua de casa,
começaram a cair coisas bem lá do céu, do alto mesmo. No começo não consegui
identificar, foi meio aquela coisa de 'é um pássaro? É um avião? São pombos?',
mas depois que o primeiro acertou minha cabeça, percebi que eram pães de
queijo.
Achei que aquele fosse o fim do mundo,
e que eu estava sendo arrebatado, afinal, nada melhor que um pãozinho de queijo
à tardinha. Mas não. Ao que parece, todos estavam vendo os pães de queijo, e
todos eram acertados por eles.
Resolvi correr para minha casa o mais
depressa que pude. Por mais que os pães de queijo tivessem uma massa leve, eles
estavam quentes e seu choque com minha cara amassada era doloroso. E além
disso, precisava pegar logo uma bacia, ou alguma coisa pra recolher os pães, e
também pegar o pote de doce de leite que eu tinha guardado no armário, pra
poder encher os pãezinhos de doce de leite.
No fim, as pessoas todas foram correndo
para fora de suas casas para recolher os pães de queijo. Quem não ficou muito
feliz com isso foi o seu Antonio, afinal os pãezinhos dele nunca foram
entregues desse jeito, e cá entre nós, também não eram tão gostosos.
Os pãezinhos caíram exatamente por dez
dias e dez noites seguidas. E durante dez dias e dez noites eu comi pães de
queijo com requeijão, doce de leite, goiabada, acompanhando no café da tarde,
bebendo com leite no café da manhã, com suco de abacaxi de tira gosto, com
cerveja, vinho, mel, chocolate... Comi pão de queijo de tudo que é jeito. Nem
comprei ração pro meu cachorro, Tôto. E sim, não é Totó, nem totô (que ele faz
muito, por sinal), é Tôto.
Ao final dos dez dias, os pães de
queijo pararam de cair, e as pessoas foram saindo das casas, que nem naqueles
filmes de fim do mundo, quando todo mundo vê que o perigo já passou, sabe?
Foram saindo das casas, ainda meio desconfiados, mas saíram e, para minha
surpresa, começaram a comemorar que tinha parado de chover pão de queijo! Como
pode, gente! E lá tem coisa melhor que pão de queijo de graça, caindo do céu?
Antes pão de queijo que cocô de
pomba.