Andava com a leveza do vento em
seus calcanhares finos e luxuriosos. Os homens a observavam como se disso
dependessem suas vidas. As coisas passavam, ela não. Ela ficava, permanecia,
quase que estática; ela era. Tudo ao seu redor parecia feio e sem graça. Suas
longas pernas delicadas e femininas despiam os pudores dos homens, que chegavam
a babar de suas bocarras abertas. Eram nada para ela. Ela era tudo para eles.
Um Yin-Yang torto.
Mas completavam-se.
Seu andar era firme, mas
gracioso. Dizia que ela era independente, mas carinhosa. Atenta, mas cuidadosa.
Selvagem, mas manhosa. Cada metro percorrido parecia quilômetros. O mundo não
acabava enquanto ela estava ali. Não. O mundo a seguia. Dependia dela como
dependia do sol, da água, da atmosfera. Atmosfera essa que era toda suspiros
masculinos enquanto ela estava ali. Quando se ia, tudo não passava de uma
paisagem insossa de algum quadro desses que a gente não quer ver nos museus
quando pequenos. Era como se fôssemos crianças e nos houvessem tomado os doces.
Ela era a paixão e desgraça dos homens que lhe passassem pelo caminho. Era o
ferro que feria o frágil coração do sexo forte, que de forte não tem é nada.
Ela passava o ferro na roupa, no couro e no corpo de todos nós, toda vez. E
toda vez nós só queríamos que ela continuasse ali, com seus quilômetros de
perna e a brandura de sua existência. Ela não precisava aparecer, nem parecer.
Só precisava ser.