17 de maio de 2013

O Yin-Yang torto

Mínima Ideia - Yin-Yang torto

Andava com a leveza do vento em seus calcanhares finos e luxuriosos. Os homens a observavam como se disso dependessem suas vidas. As coisas passavam, ela não. Ela ficava, permanecia, quase que estática; ela era. Tudo ao seu redor parecia feio e sem graça. Suas longas pernas delicadas e femininas despiam os pudores dos homens, que chegavam a babar de suas bocarras abertas. Eram nada para ela. Ela era tudo para eles.

Um Yin-Yang torto.

Mas completavam-se.

Seu andar era firme, mas gracioso. Dizia que ela era independente, mas carinhosa. Atenta, mas cuidadosa. Selvagem, mas manhosa. Cada metro percorrido parecia quilômetros. O mundo não acabava enquanto ela estava ali. Não. O mundo a seguia. Dependia dela como dependia do sol, da água, da atmosfera. Atmosfera essa que era toda suspiros masculinos enquanto ela estava ali. Quando se ia, tudo não passava de uma paisagem insossa de algum quadro desses que a gente não quer ver nos museus quando pequenos. Era como se fôssemos crianças e nos houvessem tomado os doces. Ela era a paixão e desgraça dos homens que lhe passassem pelo caminho. Era o ferro que feria o frágil coração do sexo forte, que de forte não tem é nada. Ela passava o ferro na roupa, no couro e no corpo de todos nós, toda vez. E toda vez nós só queríamos que ela continuasse ali, com seus quilômetros de perna e a brandura de sua existência. Ela não precisava aparecer, nem parecer.

Só precisava ser.