4 de maio de 2013

Um grande parágrafo

Pois já faz tempo que não escrevo nada assim. Minha vida anda sendo frases soltas, desconexas, fragmentos espalhados pelo chão do tempo. Está na hora de ser consistente e cimentar os pensamentos, de saber o que é verdade e o que deverá sê-la. E tudo em um parágrafo, olha que tarefa complicada. Olha! Mas olha mesmo, isso está sendo impossível. Mas que o desespero se esconda, quero logo minhas certezas, meus bolsos cheios de sonhos seculares e meus joelhos penitentes em carne viva. E um parágrafo grande, já falei que já faz tempo que não faço um desses? Sou uma mensagem de biscoitinho da sorte e ainda acho que conheço a vida (mas quem conhece?), ô prepotência juvenil. Terei mil anos e ainda serei inconsequente, disparando frases que tremem ao vento. Quero frases que resistam à pior das pragas egípcias (e uma noite de lua cheia) (e um parágrafo). Talvez ser jovem consista em uma vontade incontrolável de não ser parágrafo, de fugir das certezas, de ser um poço seco à espera da chuva. E desde quando ser forever young é bom? As leis da natureza estão escritas nas folhas de cerejeira e no ferrão da abelha-rainha, e elas dizem que a vida acaba, que resistir ao tempo é inútil. E é normal nascer palavrinha, virar haicai, depois parágrafo, romance, para, enfim, cair epitáfio. Esse é nosso livro sagrado, nosso Kama Sutra e noss'A Origem das Espécies. Todos teremos mil anos e seremos inconsequentes a ponto de nos arrependermos do ontem (e amanhã nos arrependermos de hoje), mas ainda quero sonhos nos bolsos e joelhos feridos. Não é pedir demais para um dia-frase como esse.