21 de dezembro de 2011

Inexorável


                                                       "— Por que você esta fazendo isso?? ela perguntou, sem esperar uma resposta.
                                                                                    Sua voz penetrou o ar imobilizado por nosso silêncio.
                                                 — Eu não estou fazendo nada? Eu disse, mas não acreditei em mim mesmo."
                                                                                                Rise Against

“Isso é realmente o melhor para nós?”
                   [...]
  “Eu nunca sei o que dizer quando você me fala essas coisas..”
                               [...]
                           Eu não sei o que mudou, mas sei que mudou!"
                                                                                           — Memórias


— Eu acho que você deve esquecer um pouco tudo que aconteceu, lembra o que você me disse uma vez? A estrada não tem fim. Desliguei o celular, abandonando aquela voz e sem relutar eu aceitei o conselho de bom grado. Acelerei o carro o motor roncava clamando por liberdade semelhante ao meu sentimento naquele exato momento: Eu só queria sumir da realidade. O carro era guiado pela minha mão que como um robô eu me limitava apenas a seguir em frente, conseguia ver o mundo de uma maneira diferente tudo parecia indiferente talvez porque meu coração não estava comigo, tudo ao meu redor tinha gosto de cinza. O natal é uma boa época, mas boa demais para mim, mesmo os enfeites natalinos e todo aquele lance hollywoodiano que tentamos imitar: Pisca-pisca, bonecos do bom velhinho, pinheiros, máquina de neve, todo esse espirito não passava de plástico que queima fácil. E era isso que eu via através do vidro filmado do carro: homens reclamando, crianças chorando, mulheres com dez sacolas em cada mão, aquele espirito não existe mais, ele foi roubado, ou pensando melhor: talvez nunca existisse, a mentira que faz da nossa realidade verdade. Na avenida larga, eu estava perdido no transito acumulado pelo êxtase Natalino e naquela imensa festa de mentira eu decidi aproveitar para viver todas as minhas mentiras. Dentro do tumulto tudo que eu podia fazer era ficar perdido no caos que permeava sobre minha mente. Foi quando entre duas senhoras abarrotadas de sacolas eu a vi, os olhos castanhos mais incríveis que alguém pode ter, que eu já tive o prazer de encontrar antes. Era comum, mas o seu comum era o meu mais raro tesouro, ela estava perdida naquela bagunça a garota do conselho se destacando do mar cinza e vermelho plástico. Estacionei o carro e a buzina tratou de chama-la, acenei colocando a mão para fora da janela, ela respondeu com um sorriso singelo, caminhando em direção ao automóvel.  A garota entrou no veiculo, colocou o cinto de segurança e disse:
—Por favor, me leva para qualquer lugar. Minha mão tremia, mas eu resolvi seguir adiante, quem me dera fosse tão real quando os enfeites de natal.  Gradualmente tudo voltou a ter cores a partir dos olhos castanhos da garota, o mundo parecia um lugar melhor. O carro saiu da avenida larga e entrou na estrada, por trinta minutos um silêncio sagrado nos acompanhou, até que eu resolvi falar:
— Por que você não cansa de correr de mim?  Você não vê que eu sempre vou estar aqui por você?
Ela olhou confusa e quase com um olhar de reprovação por eu ter quebrado o silêncio, a garota olhou para baixo e disse:
Tem certeza??
Era uma voz virtual estranha que saia da boca dela, com um timbre totalmente diferente. Porém eu não reparei nisso no momento, estava apenas concentrado naquela duvida, fiquei nervoso por um tempo. Como ela duvidava de mim? eu sempre estava ali por ela rebati sem pensar:
— Certeza? é obvio que eu tenho certeza. Você acha que a maioria das palavras que eu falo é da boca pra fora?
E aquela voz estranha soou novamente:
“ah sei lá haha nem sei oq eu falo”
Eu não sabia o que fazer, estava cansado de esperar por respostas e por uma conversa no mínimo real. Aumentei o volume da música, e a frequência do som me fazia esquecer por um instante a presença dela no meu carro. Quanto mais eu olhava para seus olhos castanhos mais eu tinha certeza de que ela estava distante, contemplando um horizonte imaginário. Meu ego a queria do meu lado, eu não tinha mais forças para lutar, eu sempre quis dizer como eu me sinto, mas tudo que ela fez foi me ignorar. Até que eu disse:
— Você está diferente..
E ela rebateu em seguida, como um gravador quebrado repetiu três vezes a mesma frase:
pra mim estou normal.. pra mim estou normal.. pra mim estou normal.. pra..
Foi quando eu realmente entendi a situação, estacionei o carro, olhei sério para a garota ao meu lado, seu rosto não possuía nenhuma expressão, aproveitei o silêncio da garota para acabar com a história. Aliás, com a minha história.
— Eu sei nada posso fazer, não tenho uma máquina do tempo e por isso não posso voltar para o passado e fazer tudo certo, eu gosto de você de uma maneira que eu não entendo, mas o que estamos fazendo é andar em círculos, e eu preciso aprender a viver sem sua lembrança, até pelo menos poder criar uma nova... Adeus, panda. Eu te amo. Ela sorriu, por um momento uma expressão e me deu aquele velho beijo estalado quase no canto da boca
"ve se n some"
Foi a ultima coisa que ela me disse, então a garota do par de olhos castanhos se desfez gradualmente em várias partículas azul celeste. . Por um momento eu pensei em desistir de tudo, mas pensei duas vezes aquela adversidade não iria me vencer, mesmo vivendo em um mundo que vale tanto quanto o espirito natalino eu prometi que não iria parar de lutar. Acelerei o carro e segui em frente, um mundo cinza me aguarda, porém não tenho mais medo, um dia talvez eu me esbarre com os verdadeiros pares de olhos castanhos.

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Pra quem um dia lembrar dessa história.
Enfim, acabou agora vou tirar umas férias de postagem. Muito obrigado galera por esse ano, toda equipe M-I e por todas as conquistas. 2012 é o fim, mas estamos ai.
Ps: As frases em cinza foram retiradas de um dialogo pessoal.

Um comentário:

Anônimo disse...

felizes serão os olhos castanhos que encontrarão aos seus! Muito lindo, quase me parece real!