3 de outubro de 2013

Te amo, Azrael

Te amo, Azrael - Conto - Mínima Ideia

Sua cabeça se apoiava na porcelana gelada da parede do banheiro enquanto seus olhos vazios olhavam fixamente para o piso esverdeado que cobria o chão. Era um banheiro comum, desses de hotéis de beira de estrada. Tudo muito artificial, nada ali era familiar ou acolhedor. À sua frente, a porta marrom escuro se abriu de supetão, fazendo com que quase caísse no chão. Estava sentado na privada, com as calças ainda arriadas quando eles chegaram.
"Ah, não...vocês de novo, não!" foi tudo o que conseguiu murmurar. 

O silêncio lá fora o assustava. Será que alguém o ouviria se gritasse? Tinha certeza que não. Eles o apanhariam desta vez, não havia mais como escapar. Conseguira fugir até aquele hotel vagabundo, mas lá estavam eles, não estavam? Se o haviam encontrado ali, certamente o encontrariam em qualquer outro lugar. Tentou de alguma forma levantar-se, mas foi empurrado violentamente contra a latrina branco-amarelada. Caiu com estrondo e, atordoado, sentiu que suas costas doíam. 

Tentou ainda negociar, "Por favor, por favor, não!", mas não adiantou nada. Resoluto, ergueu seus olhos e resolveu não mais lutar contra seu destino. Iria ser levado por eles, e nada poderia mais salvá-lo. Mostrou-lhes seus dedos do meio e deu um meio sorriso, pensando em sua esposa e em onde ela estaria. Sentia sua falta, e um sopro de tristeza tomou seu peito.

"Te amo, Azrael.", conseguiu ainda balbuciar antes que o negro da eternidade tomasse seus olhos para nunca mais sair de dentro deles.

Nenhum comentário: