Eu gostaria que você se visse como eu te vejo, meu filho. Gostaria de verdade. Tenho orgulho de ter criado você. Minha barba branca e as rugas em meu rosto não negam que o tempo passou. Mas o tempo voou pra mim, e agora você já não se lembra mais de como éramos unidos. Pra você, as marcas dos anos ainda não chegaram, e espero que demorem a chegar, meu pequeno. Saiba que tudo aquilo que fiz foi para que você pudesse fazer de sua vida algo bom. E acho que de certa forma eu consegui. Não digo que não tenha arrependimentos; todos os têm. Digo apenas que não me arrependo por ser seu pai, e me orgulharei até o dia em que minha morte chegar. Só sinto que esse dia está próximo, e queria mais uma vez que pudéssemos nos abraçar. É só disso que eu preciso.
Você se martiriza demais, pensando nas contas a serem pagas, em arrumar o carro, em como odeia seu chefe e outras preocupações que só um filho pode ter para não se lembrar de seu pai. Eu entendo isso, meu filho. Entendo mesmo. Tive as mesmas preocupações com sua idade. Acredite-me, já fui novo um dia. Mas não deixe seu velho ir embora dessa maneira. Talvez eu espere demais, mas acho que eu sou um pouco mais importante que uma reunião no trabalho, em que se discutem muitos assuntos durante horas, e não se chega a conclusão alguma. Devo talvez ser um mísero centímetro mais importante que o novo filme de Hollywood.
Talvez não seja mais tão importante na sua formação, agora que ela está completa, mas você é muito importante em minha desencarnação. Sinto-me podre por dentro, sufocado com essa mágoa em minha garganta. Mal consigo respirar. Peço apenas uma coisa a você, meu filho: um abraço, e mais nada.
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