Lá
estávamos nós, na Lua.
E
quando se está na Lua, você olha para a Terra.
Muitas
vezes o silêncio bastava, como naquela fração de segundo. Nossos segundos se
arrastavam como eternidades quando estávamos juntos, e ainda reclamávamos do
tempo passar rápido demais.
Muitas
vezes, também, nos olhávamos e nos perdíamos em pensamentos abstratos demais
para entendermos. A única certeza que captávamos desses pequenos fragmentos de
razão era a emoção.
Nossas
mãos... bem, nossas mãos estavam entrelaçadas. Sempre foram, desde que nos
conhecemos. Nosso trabalho é apertar cada vez mais esse laço.
Voltamos
a olhar para a Terra, o que para nós era olhar para a realidade. O mundo nos
parecia muito distante naquela fração de segundo, e até parecia bonito. Era
mais azul, com nuvens mais fofas. Conseguíamos até imaginar pessoas mais
felizes naquela Terra que tínhamos em nossos olhos.
Pisávamos
em nuvens, às vezes. A sensação boa também me trazia certa incerteza. Afinal,
era realmente bom praticamente não sentir o que havia sob meus pés? Meus
pequenos e felpudos cirros, estratos e cúmulos às vezes pareciam querer não me
suportar...
Até
que eu a via.
E
ela andava, pisava e rolava nas nuvens sem o menor medo. Ajoelhava nelas e
parecia rezar por um tempo. Depois, deitava e me chamava para deitar ao lado
dela só para ela se recostar em
mim. Volta e meia sentava e olhava para a Lua.
A
Lua, onde estávamos.
Onde vivíamos na maior parte do tempo.
E
ela não tinha medo. Não vacilava, até pulava nas nuvens como se fosse dona
delas, e de fato era. Sabia que era, e sabia que isso era tão bom... Sabia que
as nuvens nunca a decepcionariam.
O
que me fez ter certeza. Me fez dar passos mais fortes e a abraçar essa
sensação, esse momento.
Essa
fração de segundo.
Sempre
me sinto com muito pouco tempo e pouco vocabulário para falar de uma fração de
segundo tão importante quanto essa. É tudo grandioso demais para caber em
qualquer lugar senão em meu coração. E no dela, claro.
Lá
estávamos nós, na Lua.
E
quando se está na Lua, você está livre.
E
eu estava livre. Livre para pensar em um mínimo de palavras necessárias para me
expressar.
Olhei
para os olhos dela (eles sempre me fascinaram). Sem que eu percebesse, não dava
mais para desviar daquela energia que nos mantinha conectados, mesmo quando nossa
matéria estava tão distante e atarefada.
Sem
que eu percebesse, comecei a falar.
—
Você não deveria ser assim. Não deveria ter olhos tão incríveis, nem ter um
sorriso tão sincero. Não deveria ser tão segura de si, nem fazer com que eu me
sentisse seguro. Não, não mesmo. Deveria ser como todas as outras, que me
cativam com palavras engraçadas ou por conseguir manter uma conversa sensata
comigo. As outras, que, por mais que eu tente construir uma estória de amor com
elas, acabam desaparecendo de mim como se nunca tivessem existido. Deveria ser
só mais um conto do qual já saberia o final, já que sabendo o fim a vida fica
mais fácil.
—
Digo isso pois te encontrei, e sabia que você não era como as outras. Porque,
só de existir, já era diferente e me cativava. Coexistiu no mesmo ambiente que
eu por alguns minutos e eu já tinha convicções nunca tidas antes. E seus
olhos... Seus olhos sempre disseram tudo, não sei porque ainda estou gastando
palavras. O que eu quero dizer você já sabe.
Pausa.
—
Eu te amo. Muito, demais, como você já sabe e acredita. Todas as noites
agradeço por essa pessoa maravilhosa que entrou em minha vida: a Deus por ter
cutucado o Destino para que te colocasse nesse ponto estratégico da minha
existência; a mim por ter deixado que você invadisse cada centímetro meu. E te
ver pisar nas nuvens sem o menor receio faz meus olhos brilharem como nunca
antes.
—
E, bem, devo agradecer a você, também. Por ser quem é. Não deveria ser assim,
porque sempre achei que nenhum ser vivente pudesse ser assim. Tão... Tão...
Enfim, não vou te definir. Só continue sendo quem é, e me amando tão
incondicionalmente que me faça verter algumas lágrimas só de pensar o quão
feliz sou do seu lado. Só isso.
Um
abraço (um deles, há algum tempo, me conquistou eternamente). Um beijo. Outro
abraço. Outro beijo. No pescoço. Com carinho.
O
planeta Terra era bonito mais uma vez.
E
continuaria sendo enquanto esse amor durasse.
Continuaria
sendo para sempre, pois.
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