13 de março de 2012

Entre a Lua e a Terra (As Nuvens)

Lá estávamos nós, na Lua.
E quando se está na Lua, você olha para a Terra.

Muitas vezes o silêncio bastava, como naquela fração de segundo. Nossos segundos se arrastavam como eternidades quando estávamos juntos, e ainda reclamávamos do tempo passar rápido demais.

Muitas vezes, também, nos olhávamos e nos perdíamos em pensamentos abstratos demais para entendermos. A única certeza que captávamos desses pequenos fragmentos de razão era a emoção.

Nossas mãos... bem, nossas mãos estavam entrelaçadas. Sempre foram, desde que nos conhecemos. Nosso trabalho é apertar cada vez mais esse laço.

Voltamos a olhar para a Terra, o que para nós era olhar para a realidade. O mundo nos parecia muito distante naquela fração de segundo, e até parecia bonito. Era mais azul, com nuvens mais fofas. Conseguíamos até imaginar pessoas mais felizes naquela Terra que tínhamos em nossos olhos.
Pisávamos em nuvens, às vezes. A sensação boa também me trazia certa incerteza. Afinal, era realmente bom praticamente não sentir o que havia sob meus pés? Meus pequenos e felpudos cirros, estratos e cúmulos às vezes pareciam querer não me suportar...

Até que eu a via.

E ela andava, pisava e rolava nas nuvens sem o menor medo. Ajoelhava nelas e parecia rezar por um tempo. Depois, deitava e me chamava para deitar ao lado dela só para ela se recostar em mim. Volta e meia sentava e olhava para a Lua.

A Lua, onde estávamos.
Onde vivíamos na maior parte do tempo.

E ela não tinha medo. Não vacilava, até pulava nas nuvens como se fosse dona delas, e de fato era. Sabia que era, e sabia que isso era tão bom... Sabia que as nuvens nunca a decepcionariam.
O que me fez ter certeza. Me fez dar passos mais fortes e a abraçar essa sensação, esse momento.

Essa fração de segundo.

Sempre me sinto com muito pouco tempo e pouco vocabulário para falar de uma fração de segundo tão importante quanto essa. É tudo grandioso demais para caber em qualquer lugar senão em meu coração. E no dela, claro.

Lá estávamos nós, na Lua.
E quando se está na Lua, você está livre.

E eu estava livre. Livre para pensar em um mínimo de palavras necessárias para me expressar.
Olhei para os olhos dela (eles sempre me fascinaram). Sem que eu percebesse, não dava mais para desviar daquela energia que nos mantinha conectados, mesmo quando nossa matéria estava tão distante e atarefada.

Sem que eu percebesse, comecei a falar.

— Você não deveria ser assim. Não deveria ter olhos tão incríveis, nem ter um sorriso tão sincero. Não deveria ser tão segura de si, nem fazer com que eu me sentisse seguro. Não, não mesmo. Deveria ser como todas as outras, que me cativam com palavras engraçadas ou por conseguir manter uma conversa sensata comigo. As outras, que, por mais que eu tente construir uma estória de amor com elas, acabam desaparecendo de mim como se nunca tivessem existido. Deveria ser só mais um conto do qual já saberia o final, já que sabendo o fim a vida fica mais fácil.
— Digo isso pois te encontrei, e sabia que você não era como as outras. Porque, só de existir, já era diferente e me cativava. Coexistiu no mesmo ambiente que eu por alguns minutos e eu já tinha convicções nunca tidas antes. E seus olhos... Seus olhos sempre disseram tudo, não sei porque ainda estou gastando palavras. O que eu quero dizer você já sabe.

Pausa.

— Eu te amo. Muito, demais, como você já sabe e acredita. Todas as noites agradeço por essa pessoa maravilhosa que entrou em minha vida: a Deus por ter cutucado o Destino para que te colocasse nesse ponto estratégico da minha existência; a mim por ter deixado que você invadisse cada centímetro meu. E te ver pisar nas nuvens sem o menor receio faz meus olhos brilharem como nunca antes.
— E, bem, devo agradecer a você, também. Por ser quem é. Não deveria ser assim, porque sempre achei que nenhum ser vivente pudesse ser assim. Tão... Tão... Enfim, não vou te definir. Só continue sendo quem é, e me amando tão incondicionalmente que me faça verter algumas lágrimas só de pensar o quão feliz sou do seu lado. Só isso.

Um abraço (um deles, há algum tempo, me conquistou eternamente). Um beijo. Outro abraço. Outro beijo. No pescoço. Com carinho.

O planeta Terra era bonito mais uma vez.
E continuaria sendo enquanto esse amor durasse.

Continuaria sendo para sempre, pois.

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