10 de junho de 2011

O que eles estão vendo



"Position unknown, loneliness hurts." (Tokio Hotel - Humanoid)

Por algum motivo, sempre nos sentimos sozinhos na multidão. Nossas almas têm claustrofobia.
É só olharmos para os lados que vemos dezenas de pessoas, talvez centenas. Todas com um aglomerado de informações equivalente ao seu. Todas com problemas, com confissões e segredos.
E ninguém fala nada.


Vejo uma mulher magra, com aparência de velha, mas é perceptível que tem pouco mais de trinta e cinco anos. Sua velhice não tem nada a ver com o tempo. Com certeza, sua vida foi um martírio sem fim, e posso dizer que ela está cansada de viver. Acorda e dorme estressada, achando que errou na vida. E, de fato, errou. Mas nunca admitirá isso, nem para o seu marido e nem para os seus filhos. Sua dor descansará com ela no túmulo.
Tenho pena dela.

Vejo duas moças de vinte e tantos anos saindo de um carro luxuoso. Uma loira, outra morena, ambas usando saias jeans e empunhando bolsas que custaram a vida de um índio. Com certeza, nada no cérebro. Conversam despretensiosamente sobre os óculos da Dolce & Gabbana que compraram em uma outlet em Miami e sobre alguma balada onde usarão esses tais óculos. Não seria demais se eu dissesse que elas têm uma vida padrão. Uma vida, digamos, sem-graça. Elas nasceram no ponto onde muita gente quer chegar, então... não tem mais emoção. Nasceram no topo o Everest, e é quase certo que elas só podem cair de lá.
Tenho pena delas.

Vejo um morador de rua acariciando os pelos sebosos de um vira-lata. Sua barba quase se funde com os pelos do cachorro. Até sua vida quase se funde com a do cachorro. Ambos devem ter levado inúmeros socos na cara da vida até chegarem onde chegaram. Nada demais, mas pelo menos sorriem. Desdentados, mas sorriem.
De todas as vidas no meu campo de visão, a deles é a única da qual não sinto pena.

E, subitamente, lembro que eles também me veem. O que eles estão vendo em mim? Tenho medo de saber.
Tenho medo porque não quero sentir pena. Não deles, mas de mim.

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Gente, eu não sou obrigado a ficar de bom humor o dia inteiro. Sério.
Se acham que sou, é melhor eu sair dessa cidade.
Na verdade, o que eu quero É sair de São Paulo. Aqui não é um lugar para quem quer crescer, é um lugar para quem cresce.
E eu... cara, não consigo crescer. O passado continua colocando suas mãos sobre meus pés. De verdade, ir para outro lugar seria perfeito. Queria muito me desvincular disso tudo que pesa sobre minhas costas. Me sinto o Atlas da mitologia grega, carregando o mundo nas costas.
Tenho pena de mim. E pena é o pior sentimento que se pode ter sobre outra pessoa.
Até algum outro dia, gente. E dane-se se vocês só leem poemas agora, eu vou continuar escrevendo meus textos em prosa.

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