16 de agosto de 2013

O engraxate

O engraxate - Poemas - Mínima Ideia

Estava andando lá no centro.
É um lugar interessante, o centro.
Tem muitas pessoas.
Não que eu goste de muitas pessoas,
mas as de lá são interessantes,
como o centro.
Havia um engraxate lá,
trabalhando pouco,
mas mantinha a pose.
As pessoas não se importam
mais com os sapatos hoje em dia.
“Vai uma graxa?”
E nada de ir.
E ele continuava lá,
empertigado com sua caixa de engraxate.

Passei por ele, e uma moça numa porta me olhou,
e me chamou lá pra dentro da casa.
Uma luz vermelha,
tão vermelha quanto o batom da moça,
piscava lá no alto da porta.
À luz do dia e à luz da sobriedade,
aquela mulher de dentes faltantes,
rugas da cara e bafo de onça,
não era assim tão atraente
como era durante à noite.
Resolvi não entrar.
Precisava engraxar meu sapato,
mas primeiro precisava comprar um.

Assim é a vida no centro.
Se se enfiar em buracos errados,

não enfie os pés pelas mãos.