29 de maio de 2012

Passos errantes

Os meus passos tão errantes,
tortos e bêbados como nunca
levam-se a estradas delirantes
e à mais ordinária espelunca.

A garrafa segue na minha mão,
como a sombra às minhas costas.
Os meus pés mal acham o chão,
subindo e descendo por recostas.

A lua, do céu negro me condena,
do alto de sua cintilante face cinza.
Na rua, o povo não entra em cena;
tem medo deste homem ranzinza.

Minhas roupas acabadas e gastas,
meus olhos de cachorro sem dono,
minha origem das mais baixas castas
fazem-me ser vítima do abandono.

Sigo, só e desprezado, pela rua,
na busca vã de algum sentido
nessa minha vida que é crua,
e cruel, deixando-me abatido.

Finalmente, sento-me junto à vala,
cansado de tanto buscar em vão,
há uma voz que enfim se cala
bem no fundo do meu coração.

Um comentário:

Anônimo disse...

triste e real. gostei bastante. parabéns!