“Meu
amor.
Já não tenho mais tanto tempo. Sinto isso há
anos, mas agora parece definitivo. Tivemos os lábios da eternidade nos
beijando, mas estamos velhos demais para pensar no futuro.
(Às vezes acho que você já cansou desse meu
jeito de escrever, desses parágrafos inteiros entre parênteses e coisas assim,
mas é o que posso te dar. E espero, muito, que não tenha cansado.)
Incrível como conseguimos ser eternos diante
de tanta inconstância. Altos e baixos nos permearam nesses mais de cinquenta
anos, mas lá no fim sempre existiu o sentimento que nos fazia compreender tudo
e amadurecer cada vez mais. Chegamos onde muitos nem pensam em chegar, e desde
que nos conhecemos cada dia de minha vida ganhou inestimável importância.
Construímos um mundo só nosso, com vidas que
criamos e lugares que frequentamos. Tornamo-nos uma entidade, uma instituição
pavimentada com pura paz e amor. Tudo, absolutamente tudo, valeu a pena.
Antes de partir, só queria deixar bem claro
que te amo. Te amo com o mesmo fervor da mocidade, com a mesma responsabilidade
da vida adulta e com a mesma ternura da velhice que agora nos pertence. E,
mesmo que me reste pouco tempo para essas últimas palavras, ainda gostaria de
fazer um desejo. Pode até ser egoísta de minha parte, mas... estou partindo
antes de você, e tudo que sempre quis foi ficar do seu lado o máximo de tempo
possível. Assim, meu último desejo é estar, pelo menos em sua mente, com você
em seu último fôlego, como estive do seu lado por toda minha vida.
Adeus.”
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