26 de abril de 2011

Sub Jove

Debaixo de Júpiter, eu descanso.
A última coisa que faço antes de deitar minha cabeça na areia quente é rasgar a página de hoje do meu diário. Seguro-a estendida sobre os grãos e jogo um pouco de meu uísque em cima dela.

Para acender o isqueiro é sempre um sacrifício. Venta muito onde estou, de tempos em tempo redemoinhos de areia atrapalham os beduínos em suas jornadas eternas. Mas não a mim. Minha jornada nessa fração de segundo é acender o isqueiro. E faço isso, usando minha mão livre em concha para proteger o fogo sagrado.
Encosto a chama na folha embebida em álcool e espero poucos segundos para que tudo se torne um punhado de cinzas. É a última lembrança de calor que terei até amanhã de manhã, quando o Sol tostará meus neurônios e as carniças exalarão seu cheiro convidativo para os abutres. Para que eu continue a viver, vejo assim, tenho que queimar meu passado. Entregá-lo a Deus como um presente de retribuição pela vida que Ele nos deu.
Vejo assim.

Debaixo de Júpiter, eu desperto.
Levanto enrolado em minhas toneladas de roupas brancas. Aprendi aqui que as roupas brancas refletem a luz solar, assim não sinto calor mesmo atolado em agasalhos. Um mistério do além que eu finalmente entendi. O que fez a magia toda ir embora. Às vezes é melhor simplesmente não saber das coisas.
Nesse mundo que é um só, fiquei sabendo de coisas demais. Do fundo de meu coração infectado, não queria descobrir que lei não tem a ver com justiça. Se a lei não é a justiça em palavras, então é só um monte de normas inúteis. Mas também descobri que não somos obrigados a seguir essas regras.
Meu rosto coberto por panos pesados não me deixa ter contato com o vento. Só uma diminuta fresta na altura dos meus olhos me permite ver o horizonte vazio. Com essa fresta, vi o que me faz rumar sem lei. Vi a pobreza e a indecência nos espíritos das pessoas, e penso por que não uso essa minha dádiva divina para ajudar o próximo. O inferno está tão presente em nossas entranhas que me espanto ao notar que só eu percebo isso.
O deserto é muito mais amigável. Ele nos entende e nos acaricia com suas mãos de areia. Tudo que devemos fazer é sentar e relaxar. Não existe dia, tarde ou noite. Nada de intervalo, chá das cinco ou hora do rush. Isso tudo é da lei. O que nos interessa é o nosso relógio, que bate sem parar no âmago de nossa mente e reinventa o tempo a cada passo que damos. Não podemos entrar em sintonia com o mundo se não entrarmos em sintonia com nosso próprio mundo.
Claro, eu vejo assim.

Debaixo de Júpiter, eu morro.
Renasço, recolho minhas cinzas para nelas mergulhar o mais rápido possível. E assim caminha a humanidade. Essa é a lei. E só eu pareço me importar. Sozinho no abismo, só eu consigo ver que ainda dá para irmos mais fundo. Eu, você, todos nós. Mergulhando nas cinzas para, talvez, um dia, nunca mais renascer.

Debaixo de Júpiter, eu sorrio.
E me alegro por ter a bênção de ver o que nos cega.

Debaixo de Júpiter, eu choro.
E lamento por não ter ninguém que mereça ser ajudado por minha bênção.

Debaixo de Júpiter, não há ninguém.
E duvido que haja em qualquer lugar.

Vejo assim.

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AEAEAEAEAEAEAE
Olha eu aqui de volta!

Eu sei, demorei muito para voltar a postar, e não tenho uma boa justificativa. Mas o que importa é que voltei, não é mesmo?

E não se esqueçam que em breve teremos a batalha: @der_werwolf e @dereckalexandre X @mrpitanga e @Barneyy10 !

Globo, a gente se liga em você (-q)

Agora com licença, preciso trabalhar.

Um comentário:

@dkdkree_ disse...

AEEEEEE PITANGA MEU QUERIDOO*
PARABÉNS, foi um dos melhores textos seus
que eu já li!
Parabéns Parabéns querido Alalaô♥
bgks bgks
@dkdree_